29.11.06

Never to forget (de Arundhati Roy)

Never To Forget

To love.
To be loved.
To never forget your own insignificance.
To never get used to the unspeakable violence
And the vulgar disparity of life around you.
To seek joy in the saddest places.
To pursue beauty to its lair.
To never simplify what is complicated
Or complicate what is simple.
To respect strength, never power.
Above all, to watch.
To try and understand.
To never look away.
And never, never to forget.

—Arundhati Roy, from The End of Imagination



Serões de Inverno na aldeia

Os serões na aldeia, durante a estação fria do Inverno, são um dos usos e costumes populares mais enraízados na cultura popular. São momentos de convívio e de conversa, onde se pratica a literatura oral e o companheirismo entre iguais.







Índios tupiniquim e guarani pedem a devolução das suas terras


Os índios tupiniquim e guarani pedem a devolução das suas terras. A tensão é grande nas aldeias indígenas envolvidas no conflito no Espírito Santo.

Quando se vê as plantações de eucalipto da Aracruz, a tupiniquim Genira Pinto dos Santos, 68 anos, sente saudades de uma paisagem que desapareceu da região em que fica a aldeia Pau Brasil, no norte do Espírito Santo.
«Isso aqui era tudo mata virgem. Tínhamos caça – veado, tatu, tamanduá, cotia, catitu – e muitos peixes. Plantávamos feijão, milho e mandioca. Quando vieram os tractores – e nem usaram machado – arrasaram a terra. Plantaram o eucalipto e os bichos fugiram. O nosso rio, que era largo, já secou três vezes", conta Genira de 68 anos.
Mesmo assim, Genira não resignou: "Penso que um dia vamos ter nossa terra de volta", diz. "Nossa terra", no caso, são os 11 mil hectares que 2200 índios tupiniquim e guarani pedem de volta da Aracruz Celulose, uma das maiores produtoras de celulose do mundo.

Origem do conflito

Em 1967, um estudo da Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu que os tupiniquim e guarani tinham direito a uma área de 18 mil hectares, tradicionalmente ocupada por eles no município de Aracruz (ES).
Mais de 30 anos depois, em 1998, os índios ganharam o direito de uso sobre 7 mil hectares. Os outros 11 mil hectares foram negados pelo Ministério da Justiça, por estarem registrados como propriedade da Aracruz Celulose, empresa que possui 150 mil hectares de plantações de eucalipto na região.
Nos últimos anos, o conflito acirrou-se. Para tentar forçar uma decisão que esperam do Ministério da Justiça desde maio de 2005, os índios chegaram a demarcar por conta própria a área reivindicada e construíram uma aldeia. Em Janeiro deste ano, foram despejados por decisão judicial e acção da Polícia Federal. A clareira onde estava a aldeia hoje está tomada pelo capim.

Luta para corrigir um erro

O cacique tupiniquim Valdeir de Almeida Silva e outros 12 índios da aldeia Pau Brasil ainda têm manchas azuis no corpo, resultado da truculência da polícia, que usou balas de borracha e bombas de efeito moral no despejo.
"A empresa não quer dar o braço a torcer, porque daí também os quilombolas vão bater à sua porta. O que está em jogo é a madeira plantada na nossa terra, pela qual a empresa quer 300 milhões de dólares. Mas no passado, ela destruiu muito mais do que isso", diz o cacique.

Outdoors e cartilha

A situação continua tensa. A Funai apoia os índios. Já quanto a Aracruz, ela é a maior empregadora da região – e responsável por cerca de 10 mil empregos directos e 80 mil indirectos e tem pelo menos 100 índios entre funcionários – contando com o apoio da maioria da população local.
A empresa diz que já teve um prejuízo material da ordem de 2,5 milhões de reais por causa do confito: "Durante os meses de setembro e outubro, índios apoiados por manifestantes queimaram mais de 200 mil árvores em uma área de aproximadamente 170 hectares da Aracruz Celulose".
Através de um estudo científico de 14 volumes, com cerca de 15 mil páginas de documentos, a multinacional rebate linha por linha um relatório da Funai de 1998, que confirmou o direito dos índios à terra. A Aracruz garante ter provas de que a área reivindicada jamais foi território indígena. Numa cartilha distribuída às escolas locais, informa que os índios não são mais índios, são "aculturados", teriam até ar condicionado nas casas.

Algumas firmas que mantêm negócios com a produtora de celulose colocaram outdoors na beira de estradas com os dizeres: "A Aracruz trouxe o progresso. A Funai trouxe os índios". Contra os outodoors e a cartilha da Aracruz, a Funai move acção na Justiça, pedindo indemnização por considerar a campanha discriminatória aos índios e à fundação.

Segundo cacique Wetá Kwatay, da aldeia Boa Esperança. , "antes da chegada do eucalipto não tínhamos o progresso da morte, que se destrói a si mesmo. O plantio de eucalipto no Espírito Santo acabou com a nossa base de subsistência


Esta versão é compartilhada pelo caboclo Edson (Zé) Barbosa, 91 anos, na aldeia Comboios. Como dona Genira na aldeia Pau Brasil, também "seu" Zé Barbosa sente saudades da caça e pesca farta "do tempo em que vivíamos em casa de palha e quase sem roupa. Nos últimos 18 anos, a Aracruz destruiu a mata virgem e matou o rio Comboios".
Sua esposa, Nilsa, mãe de dez filhos, no entanto, diz não ter perdido a esperança. "Eles dizem que aqui não tem índio, que caboclo não é índio. Podem fazer o que quiserem, mas não ganham a terra que é dos índios", diz.

A mesma esperança é alimentada pelos jovens tupiniquim da aldeia Pau Brasil. Que não deixam de guardar sementes em saquinhos de plástico cheios de terra. "Estamos preparando mudas de árvores nativas, para plantar no lugar dos eucaliptos, quando nos devolverem a nossa terra", disse um deles.

Entre os cerca de 370 mil índios existentes no Brasil, os guarani e seus subgrupos kaiowa, ñandéva e mbya formam a maior etnia. A maior parte vive no Mato Grosso do Sul, Estado dominado por grandes plantações de soja e fazendas de gado. No município de Dourados, por exemplo, 11 mil índios vivem numa área de 3500 hectares

O antropólogo Rubem Thomaz de Almeida é um dos maiores conhecedores no Brasil da cultura e da realidade dos índios guarani e kaiowa de Mato Grosso do Sul. Já realizou vários estudos científicos sobre a etnia e assessorou órgãos governametais e ONGs que atuam na região.

È com ele que é realizada a seguinte entrevista.

Jornalista: Como está a situação actual dos guarani no Mato Grosso do Sul?

Rubem Thomaz de Almeida: A situação dos guarani do Mato Grosso do Sul se acirrou e piorou consideravelmente, depois do trágico episódio do assassinato dos dois policiais civis no Paso Piraju em 1º. de abril de 2006. Nos 33 anos em que atuo com os guarani, nunca vi uma situação tão problemática como hoje, em especial por inoperância e omissão do Estado. A atual gestão da Funai [Fundação Nacional do Índio] simplesmente "abandonou" os guarani do Mato Grosso do Sul. Ela não atua para amenizar a situação, mas aloca o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) para assistir os índios. O Ministério Público defende com unhas e dentes os índios, mas a Justiça não reconhece sequer os relatórios de identificação de terras feitos pelos antropólogos e cria espaço para prisões aleatórias de índios. É um Estado esquizofrênico em relação aos índios. O que se observa no Mato Grosso do Sul são formas etnocIdas contra os índios, em especial da Justiça e das polícias. Os problemas têm se multiplicado e, para mim, são procedimentos genocidas.

Qual é o balanço que senhor faz da política indigenista brasileira desde a Constituição de 1988, que ampliou os direitos dos povos indígenas?

A política indigenista brasileira não sofreu grandes variações, apesar do cuidado da Constituição 1988 com os povos indígenas do país. O que se observa, por exemplo, é que a referida Constituição abriu vários espaços favoráveis aos índios, cabendo destaque às atribuições do Ministério Público. Mas a política indigenista em si não mudou muito, porque os responsáveis por sua condução atendem interesses políticos e econômicos vários, e não cumprem a lei. Há séculos as leis relativas aos índios são favoráveis, o que não significa que sejam cumpridas. E isso não é nenhuma novidade neste país.

A política indigenista do atual governo é melhor do que era a dos militares?

O atual presidente da Funai é um dos piores gestores da questão indígena no país. No caso dos guarani, os presidentes da Funai que mais contribuíram com esse grupo étnico foram o general Ismarth de Araújo (1974–1978) e o delegado de Polícia Federal Nelson Marabuto (1985–1986). Na primeira reunião do Conselho Indigenista, do qual me demiti junto com outros quatro colegas em fevereiro de 2005, o presidente da Funai disse que "não levaria problemas ao ministro". A ação indigenista foi absolutamente pífia no governo atual, pelo menos em relação aos guarani, fora, como já disse, o atendimento emergencial: fornecimento de cestas básicas, atendimento de saúde, combate à desnutrição e à fome, entre outras ações do MDS – não da Funai. E esses atendimentos não irão terminar enquanto não for solucionado o problema da terra.

Quais são hoje os principais motivos de conflito entre povos indígenas e brancos no Brasil?

O problema crucial dos conflitos entre brancos e índios é a disputa por terras. Uma parte considerável do problema já foi resolvida com demarcações. Alguns poucos grupos étnicos têm problema com a garantia de suas terras, sobretudo os índios do Nordeste e os guarani. Estes formam uma população entre 60 mil e 65 mil pessoas nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e especialmente no Mato Grosso, onde somam 42 mil pessoas. São a maior etnia em número e também a etnia que tem mais problemas de terra no país.

No Centro-Oeste e na Amazônia observa-se um "cerco do agronegócio" a terras indígenas. Como os índios reagem a isso?

Não sei como os índios mais ao norte da região Centro-Oeste reagem ou mesmo como o agronegócio está afetando essas populações. Quanto aos kaiowa e ñandéva do Mato Grosso do Sul, o cerco do "agronegócio" vem se fechando há muito tempo. Houve a exploração extensiva da erva-mate (1880–1920), daí veio a exploração de madeira e eliminação de florestas (1920–1960), a implantação de fazendas para gado (1960–1970) e o surgimento de grandes empresas agropecuárias com o plantio de soja (1980–2003). Para os próximos anos, prevê-se a construção de 30 usinas de açúcar e álcool no Mato Grosso do Sul, com plantações de aproximadamente 700 mil hectares de cana-de-açúcar em pleno território tradicional kaiowa e ñandéva, que servirão de mão-de-obra para o plantio e a colheita. O Estado brasileiro não está atento ao problema desses indígenas sem-terra. Por isso mesmo, é obrigado a oferecer-lhes cestas básicas para não morrerem de fome.




Houve um tempo em que, no Brasil, "todo dia era dia de índio", diz uma música de Jorge Benjor. Pelos menos virtualmente esse tempo parece estar voltando. Os índios começam a povoar a "aldeia global" formada pela internet.

Um exemplo disso é o portal Índios online www.indiosonline.org.br .
Trata-se de uma rede de diálogo intercultural, formada pelos povos Kiriri, Tupinambá, Pataxó-Hãhãhãe e Tumbalalá da Bahia, os Xucuru-Kariri e Kariri-Xocó de Alagoas, e os Pankararu de Pernambuco.
A intenção do projeto, desenvolvido pela ONG Thydewa, de Salvador (BA), com o apoio do Ministério da Cultura, da Associação Nacional de Apoio ao Índio (Anai) e assessoria de um etnólogo alemão, é facilitar a inserção digital indígena e apresentar aos internautas "os índios na visão dos índios", dizem os coordenadores.
Segundo o director da Thydewa, Sebastián Gerlic, além de ser útil ao resgate da cultura e da cidadania indígenas, o portal também está dando resultados práticos. "Os índios valeram-se da tecnologia para cobrar salários atrasados, receber merenda escolar, tirar o lixo de suas aldeias e ser cidadãos mais activos".

Além do site Índios Online e de outros projectos nacionais e internacionais desenvolvidos junto aos índios, também as estatística apontam um cenário de renascimento do povos indígenas no Brasil.
Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), a população indígena brasileira cresce em média 3,5% ao ano. Actualmente existem no Brasil entre 450 mil e 460 mil índios, quatro vezes mais do que em 1950, quando se chegou ao mínimo da população indígena brasileira, informou a Funai.


Fonte: Deutsche welle

26.11.06

Morreu Mário Cesariny, poeta e pintor surrealista

Amor, Liberdade e Poesia -
o programa dos surrealistas

"Para a pátria, a igreja e o estado a nossa última palavra será sempre... MERDA" ( Mário Cesariny )


Texto-poema de Cesariny que fala de Émile Henri, célebre anarquista francês:



PASSAGEM DE EMILE HENRI

Era no tempo da palavra papel
da pluma bem comida lançando ideias de justiça aos chineses
da espingarda de ar podre ao ombro de cada um

Depois de ver com os seus próprios olhos como é que o ratazana toma o sei chazinho
Emile Henri
escritor da literatura da dinamite
lança a segunda bomba à porta do Café Términus
dado que: da má distribuição da riqueza e das coisas boas da Terra
TODOS SEM EXCEPÇÃO TÊM A MÁXIMA CULPA»

[in Mário Cesariny, Pena Capital: Lisboa, Assírio e Alvim, 1982
e também in Paulo da Costa Domingos, Judicearias, o Álbum dos Glórias: Lisboa, frenesi, 2000]

retirado daqui


Breve biografia (retirada da wikipedia):

Mário Cesariny de Vasconcelos (Lisboa, 9 de Agosto de 1923 — Lisboa, 26 de Novembro de 2006) foi um pintor e poeta, considerado o principal representante do surrealismo português.
Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudou música com o compositor Fernando Lopes Graça. Durante a sua estadia em Paris em 1947, frequenta a Academia de La Grande Chaumière. É em Paris que conhece André Breton, cuja influência o leva a criar no mesmo ano o Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com figuras como António Pedro José Augusto França, Cândido Costa Pinto, Vespeira, Moniz Pereira e Alexandre O´Neill. Este grupo surgiu como forma de protesto contra o regime político vigente e contra o neo-realismo. Mais tarde, funda o Grupo Surrealista Dissidente.
Mário Cesariny adopta uma atitude estética de constante experimentação nas suas obras e pratica uma técnica de escrita e de pintura amplamente divulgada entre os surrealistas designada “cadáver esquisito”, que consiste na construção de uma obra por três ou quatro pessoas, num trabalho em cadeia criativa em que cada um dá continuidade, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas parte do que este fez.
São algumas das suas obras poéticas: Corpo Visível, 1950; Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos, 1953; Manual de Prestidigitação, 1956; Pena Capital, 1957; Nobilíssima Visão, 1959; Burlescas, Teóricas e Sentimentais, 1972.



Entrevista a Mario Cesariny de Vaconcelos, por Óscar Faria

Cesariny (n. 9/8/1923) gosta de posar. E de fumar. Muito. Cesariny tem o dom das palavras. Às vezes basta-lhe uma linha para construir um mundo: "Ama como a estrada começa". Outras, esse encantamento suscita contínuos estremecimentos: "longe dos jogos civilizados/ livres da hora da mãe e da filha/ jogamos fumo para uma bilha/ jogamos o pocker o king a vrilha/ jogamos tudo como danados". O maravilhoso surreal, ainda vivo, ainda intensamente livre atravessa uma conversa acontecida na inauguração da polémica exposição "Do Surrelismo em Portugal", que esteve patente na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão. Fala-se aqui de ditadura, de revolução e da dificuldade em cumprir o programa surrealista: "liberdade, amor e poesia". Também se recordam António Maria Lisboa e Pedro Oom, Vieira da Silva e Pascoaes: "Não tenho nada contra o Pessoa, mas para mim o Pascoaes é o velho da montanha, é o mágico". Cesariny é um sedutor. Cesariny é um danado.

Entrevistador - A revolução é um dos objectivos essenciais do movimento surrealista. Como é que viveu o 25 de Abril de 1974?
MÁRIO CESARINY - Nós estávamos muito mal vistos pelo Salazar e pelos marxistas; tínhamos dois inimigos. Há uma carta do António Dacosta, que está em minha casa - não sei onde, espero que apareça - em que me conta a ida para Paris, em 1947, onde frequenta as reuniões do grupo surrealista com o André Breton e o Benjamin Péret. Eu sei que dizer isto pode parecer esquisito, mas acho que devo dizer: ele começa a explicar ao Péret o que se passa em Portugal - "Há o anti-fascismo, claro, mas ao mesmo tempo não podemos acusar ou denunciar os estalinistas por causa do fascismo imperante e porque o Salazar prende os comunistas todos". Péret, que sabia bem o que se passava em todo o mundo, disse assim: "Ai o Salazar prende os comunistas, pois faz o Salazar muito bem". Esta anedota é complicada, o que se subentende disto tudo, mas agora subentendam o que quiserem.


P. - Mas Breton também se aproximou do comunismo soviético...
R. - Em duas palavras lhe digo. Tive uma perseguição muito grande e muito chata do regime, porque descobriram uma maneira mais simpática e mais atroz de me chatear: fui dado como vagabundo na Polícia Judiciária de Lisboa, tinha lá o cartão... dado não, suspeito, suspeito de vagabundagem, que era também um termo que se aplicava a pessoas assim um bocado esquisitas. E, em nome dessa suspeita de vagabundagem, tive uma perseguição que só acabou no 25 de Abril, porque tudo aquilo era ilegal. Não sou um mártir nem um herói da luta anti-fascista, não sou, mas fui muito chateado, porque a qualquer hora, a qualquer momento, a qualquer ano, podia receber uma convocação da polícia: o senhor venha cá - uma coisa horrorosa. Isso só acabou com o 25 de Abril, porque tudo aquilo era ilegal.


P. - Chatearam-no muitas vezes?
R. - Não é chatear muito; é que eles tinham o poder de chatear sempre que quisessem. Até podiam deixar passar vinte anos sem chatear, mas ao fim de vinte anos lembravam-se: "Olha este, vamos chamá-lo". Era uma coisa sempre pendente em cima da cabeça, uma espada. Tinha medo de ir ao telefone, tinha medo de ir ao correio: não me tratavam mal, nem me batiam, mas era uma coisa muito chata, muito humilhante ir às apresentações. Sempre me deitei muito tarde e sempre me levantei muito tarde, o que para a polícia era horrível: "não trabalha", essas coisas. E há uma manhã em que a minha irmã Henriette me chama e diz: "Mário, acabou a ditadura" - "O quê?", "Acabou a ditadura". Saio para a rua com uma máquina fotográfica e durante quase um ano, não foi um ano certo, mas quase um ano, fosse qual fosse a hora a que eu me deitasse, às oito horas eu levantava-me de cabeça fresca. Percebe o que isto quer dizer...


P. - Quais eram as acções desenvolvidas pelos surrealistas contra o regime?
R. - Havia uma glória em Portugal, que era ser mártir, ser preso e ser torturado pelo regime: nós não achávamos que isso fosse uma coisa interessante, as nossas intervenções eram um bocado aparecer, dizer, sair logo e aparecer noutro lado: uma guerrilha. Como não podíamos fazer uma revolução - e não fizémos, claro -, a nossa revolução foi uma espécie de implosão, foi cá dentro que explodiu; para fora não podia sair, que a censura não deixava, foi por dentro. É pena que não se estude um bocado mais a condição dos surrealistas sob a ditadura, porque havia muita coisa interessante a saber nesse aspecto. E depois morreu o António Maria Lisboa, que, quanto a mim é o maior - dizei que sou eu, mas não sou, é ele o maior, só não tem versos tão bonitos, a poesia dele é uma coisa dura, agreste. Tivemos o atabafamento dos neo-realistas, que eram os realistas-socialistas e tivemos o atabafamento do Salazar: essas duas forças contra nós. As gerações que vieram a seguir, também não sabiam bem o que se passava... Foi um bocado uma ideia louca, porque falei com o André Breton e combinamos fazer uma pequena revista, mas era uma ideia um bocado louca, hoje vejo isso, era impossível tentar uma expansão pública, porque íamos logo para a choça e não estávamos muito interessados em ser mártires e heróis do estalinismo. O Cruzeiro Seixas foi para África, o António Maria Lisboa morreu, o Pedro Oom fechou-se em casa, como grande abjeccionista e, depois, o nosso grupo dispersou-se.


P. - Qual é a grande diferença entre o surrealismo e o abjeccionismo?
R. - Quem captou a grande frase foi o Pedro Oom, o criador do abjeccionismo: "Que pode fazer um homem desesperado, quando o ar é um vómito e nós seres abjectos". Ele refere-se à condição política. O que pode fazer esse homem? Pode suicidar-se, por exemplo. Pode sair para a rua, como os malucos, e matar uma data de gente. O que é que ele fez: meteu-se em casa. Uma vez fui a casa dele e fiquei gelado. Aquilo não era uma casa, era uma coisa despida de tudo, com uma flor de plástico no corredor: nada. O Pedro Oom desistiu de tudo e, no entanto, ele escreveu um ou dois dos mais belos poemas que se escreveram na altura e depois foi para casa e acabou daquela maneira: um suicídio se não pessoal em relação a tudo. Aparecia raras vezes. O abjeccionismo contagiou também um bocado o António Maria Lisboa. O António Maria Lisboa suicidou-se contra vontade, ele não queria realmente morrer, mas são as tais imprudências... foi uma primeira vez a Paris, mas a segunda vez que ia a Paris já não tinha um pulmão...


P. - Foi a morte que mais lhe custou na sua vida?
R. - Não digo isso, mas digo que o António Maria Lisboa era, de certeza, embora a sua obra seja diminuta, um ponto muito alto, se não o mais alto, de todos nós. Para mim, neste século que passou, houve duas grandes revoluções: a russa e a sureealista. A revolução russa acabou no que acabou, uma tragédia, um inferno. A revolução surrealista foi sabiamente soterrada pela sociedade. Primeiro ignorada pela geração que veio a seguir - o Cruzeiro Seixas é de outra opinião, muito optimista, eu não, eu acho que a revolução surrealista não é só os quadros que se põem nas paredes, pretendia-se uma revolução mesmo, muito mais utópica que a russa; agora os Magritte e os Max Ernst valem milhões, que é a maneira da sociedade abafar -, depois porque os actuais membros da Assembleia da República leram o bê-à-bá da literatura portuguesa pela história da literatura portuguesa do Óscar Lopes e do António José Saraiva. O Óscar Lopes era, e ainda é, membro do comité central do PCP, veja o que isto quer dizer, o outro era um espírito mais aberto, mas fez o jeito; de maneira que aprenderam todos o bê-à-bá do enterro do surrealismo e ainda hoje estão nisso.


P. - O que se pode fazer para dar a volta a essa situação?
R. - Não posso fazer nada. Só posso sair para a rua com uma metralhadora e matar uma data de gente.


P. - Cumprir o gesto de Breton?
R. - É. Sair para a rua de revólver. São uma coisa profética, os textos dele, porque isso é o que está a acontecer agora. Na América é dia sim, dia não: a criancinha entra na escola de metralhadora e mata os colegas todos e outras coisas assim. Outra coisa que pode ser um aspecto negativo é a droga, o Breton também a experimentou, mas aquilo atingiu um ponto tal, em grupo... É sabido e contado que uma noite, já não era em casa do Breton, era numa pequena moradia assim género "chateau", já havia um que andava atrás do Eluard com um punhal para o matar, foi pena, deixa lá [risos]f+b.f-b A sociedade apanhou todos os aspectos mais negativos: a droga e o matar a torto e a direito, que é o que está a acontecer, isso é profético.


P. - E quais são os aspectos mais positivos do surrealismo?
R. - É a luta desesperada pelo amor, pela liberdade e pela poesia: é isto. Parece que é uma trindade que vem substituir a liberdade, igualdade, fraternidade: liberdade, amor, poesia - é viver isso, é um bocado complicado, não é?


P. - Já falou de António Maria Lisboa. Outra figura que o marcou e que, em termos plásticos, chegou a comparar a Rimbaud, é Maria Helena Vieira da Silva...
R. - Essa é a velha história que também se prende com a exposição do surrealismo. Tenho um livro chamado "Vieira da Silva/Arpad Szènes, ou o Castelo Surrealista", onde até inventei uma expressão que gosto muito, que é "os surrealistas-copistas". Em Inglaterra, a pintura surrealista é toda metade Dali e metade Magritte, e dali não saiem. Em 40, antes de partirem para o Brasil, a Vieira da Silva e o Arpad fazem uma exposição no atelier deles, exposição tal que o João Gaspar Simões vai lá e faz uma pequena crónica em que fala no Breton e no surrealismo. Quando o António Pedro, estava a tentar lançar o dimensionismo - uma coisa que, se não se opunha, ignorava o surrealismo - com um companheiro se possível mais fascista do que ele, um tal Dutra Faria.


P. - A posição política do surrealismo é o anarquismo?
R. - É capaz de ser. Não, é um socialismo utópico. A última grande exposição organizada pelo André Breton, em Paris, chamou-se - e há um catálogo admirável - "L' Écart Absolu" [dedicada a Charles Fourier, a mostra teve lugar na Galeria L'Oeil, em1965] , quer dizer "afastamento absoluto", total, da política, da arte: desaparecer. Porque falhou: não falhou nos museus, mas o voto profundo dos surrealistas, que era também uma revolução social e a revolução total da linguagem e a revolução total das revoluções humanas: tudo isso falhou.


P. - No caso das relações sexuais, os surrealistas, sobretudo Breton, foram sempre muito rigorosos quanto à homossexualidade...
R. - Isso diz-se do Breton e é verdade, mas o homem era assim, o que é que se há de fazer. Mas lembro que nas célebres conversas sobre a sexualidade, o Péret diz não é contra nem a favor: "Não tenho nada com isso". E o Breton responde: "Se continua com esses termos eu vou-me embora". É uma opção pessoal. E no entanto, que ele tinha dessas coisas à czar... fazia excepções, como o Marquês de Sade. É evidente que o Breton terá tido os seus deslizes, como toda a gente. O [René] Crevel era homossexual e o Breton sabia-o perfeitamente, e o Crevel matou-se por causa do Breton, quando foi a história do congresso de escritores em prol da União Soviética, em que não deixaram falar o Breton; o Crevel - os textos dele são muito importantes - matou-se e deixou um papel a dizer "enojado". E também é discutível a história da "femme-enfant", a mulher-menina, que também é um mito do Breton; mas isso são mitos pessoais, não são obrigatórios: a culpa não é do Breton, a culpa é de quem aceitava a gritaria. Eu não aceito isso, pronto, acabou-se.


P. - Há alguns anos, em Madrid, Eugénio Granell, recentemente falecido, falava de si com grande apreço. Como se conheceram?
R. - O nosso encontro foi muito bonito. Conheci-o em Nova Iorque: havia uma exposição chamada "Exposição Mundial do Surrealismo", em Chicago. A Gulbenkian pagou e eu fui lá - parece que é assim, para se ir ao México tem de se aterrar primeiro em Nova Iorque, era assim, não sei se ainda é - e então ficámos uns dias em Nova Iorque e foi aí que conheci o Eugénio Granell, acho que ele ficou a gostar muito de mim, sobretudo porque eu era um português, isso foi em 1975, era o ano quente da revolução, que ele acompanhava muito pela rádio, porque lhe interessava. Eu fiz-lhe uma entrevista bastante grande, onde ele pôs os seus pontos de vista, e acho que ficou grato por eu lhe ter aparecido em casa e o pôr a falar do que acontecia e do que não acontecia, porque é evidente que o 25 de Abril teve muita importância para a própria Espanha. Tenho uma admiração muito grande por ele: na pintura considero-o um dos pintores mais originais do surrealismo espanhol. Não foi como o Picasso roubar à arte negra, que não é para pôr na parede - a arte negra é para cachimbos, é para fazer cadeiras, tem um sentido utilitário ou então tem um sentido sagrado, e o Picasso, com todo o seu talento, que é enorme, transformou aquilo numa coisa decorativa. E o Granell é muito original como surrealista espanhol, não foi à arte negra, nem às criancinhas, como o Miró - o Miró é muito bom, mas foi às criancinhas - e o Granell tirou aquilo lá não sei donde: para mim é o mais original, não digo que seja o maior ou o menor, isso não interessa. E depois, pessoalmente, teve uma vida admirável, de resistente: até ao fim, quis ser enterrado com a bandeira republicana: tudo isso é de uma coerência... e as perseguições que ele teve dos comunistas, porque ele era do POUM [trotskistas catalães]. E até no estrangeiro quem se encarregava disso era o Pablo Neruda, que pode ser um grande poeta, mas era um grande sacana ao serviço do comunismo soviético.


P. - Há um quadro seu em que homenageia Teixeira de Pascoaes...
R. - O Pascoaes é o grande poeta, não tenho nada contra o Pessoa, mas para mim o Pascoaes é o velho da montanha, é o mágico. Sabe que ele tinha lá no solar uma divisão em vidro no exterior, quando havia grandes tempestades devia ser uma coisa formidável, uma trovoada no Marão...


P. - Dizia-se que ele tinha poderes mágicos, druídicos...
R. - O João [um familiar de Pascoaes] contou-me e eu perguntei-lhe: "Você que idade tinha?", "Para aí 19 anos, vi-o sair do escritório com a cabeça em chamas". Isso é corroborado por um simples camponês que viu o Pascoaes vir não sei de onde e disse: "Quem é aquele homem que deita fogo pela cabeça?" Estava a carregar lá naquela coisa de vidro. Mas isto atira tudo para um terreno que as pessoas não gostam, cheira ao paranormal. A poesia dele - e talvez não propriamente os versos,"O Bailado" em prosa, por exemplo - é uma coisa formidável...


P. - "S. Paulo" é um texto notável...
R. - Desses o que ainda gosto mais é "S. Jerónimo e a Trovoada", porque é aflitivo, parece que ele estava lá. Não nego o talento poético do Pessoa, mas tornou-se odioso, porque já se ganha a vida à custa do Pessoa: é demais, já não pode ser. Nós temos grandes poetas desde os galaico-portugueses, não é? Isto acontece porque o Pessoa pegou lá fora, não é por outro motivo. Como pegou lá fora, então a saloiada toca toda a pegar no Pessoa nas universidades. O Camilo Pessanha não é inferior ao Pessoa; há muitos, o Sá-Carneiro...


P. - Foi por isso que escreveu "O Virgem Negra"?
R. - Não é contra ele, mas é contra a igreja dele. Isso tem uma segunda edição onde acrescentei mais duas cartas inventadas, mas muito giras.


P. - Na exposição tem um verso seu: "Ama como a estrada começa". Qual é essa estrada?
R. - Oh, aí é que está. Não sei, é com cada um. "Ama como a estrada começa" é o sentido da criação original, começa e vai...


P. - Falou nos antecessores, como Pascoes ou a própria Vieira da Silva. Actualmente quem é poderia ser visto na continuidade da tradição surrealista? Recordo, por exemplo, Álvaro Lapa... R.- Se ele quiser entra à vontade, se não quiser não entra: o resultado é igual. E a Paula Rego, com certeza, essa tem a sorte de ter fama internacional; ela disse-me que está dentro. E entre os novos, novíssimos, o Álvaro Lapa. E parece que está a aparecer mais gente, veremos.

Poesia de António Gedeão ( a propósito do centenário de nascimento de Rómulo de Carvalho)




Enquanto

Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
para ver como é;

enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
e correr pelos interstícios das pedras,
pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas;

enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
num silêncio de espanto,
rasgado pelo grito da sereia estridente;

enquanto o grande pássaro de fogo de alumínio
cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
amassando na mesma lama de exetrmínio
os ossos dos homens e as traves das suas casas;


enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz
enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia
o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA!

(António Gedeão, in Linhas de Força, 1967, Coimbra)
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O poeta, professor e investigador Rómulo de Carvalho ( mais conhecido na literatura com o pseudónimo de António Gedeão), cujo centenário de nascimento é agora recordado, marcou gerações inteiras e nunca é demais divulgar a sua obra e vida.
Num destes últimos dias a sua esposa divulgou um seu escrito que reproduzimos:
“Os governos têm sabido organizar as coisas de modo a alterar tudo segundo as suas conveniências. A imprensa só diz o que é conveniente dizer-se e de um só modo considerado conveniente. Os serviços oficiais só dão notícia e relevo a tudo quanto contribui para o prestígio de uma certa doutrina considerada como a única aceitável.”

"Eu tenho sobre a história uma ideia que está longe de ser a mais frequente. Penso que, quem faz a história, não é o governo de uma nação. Sou eu, a vizinha do andar do lado e o merceeiro que está estabelecido com loja na esquina da rua. É o par de namorados que passa de lambreta ou o operário que vai para a oficina com a malinha do almoço. É o poeta, é o pensador, é o cientista, é tudo, toda a gente, a que sai e a que fica em casa, todos, todos, excepto os que compõem o governo. Esses só têm uma atitude permanente, que é a de, atónitos, solucionarem, ou verdadeiramente ou falsamente, os problemas que lhes são impostos."
( retirado daqui)
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Para um homem simples, que nunca votou, e que se recusou a integrar a comissão de apoio à presidência de Mário Soares, estas palavras mostram, caso fosse ainda necessário, o sentido da sua filosofia de vida e a sua concepção política:
A emancipação dos seres humanos é obra deles próprios !
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Aproveitamos para incluir dois excertos de textos que analisam a obra e a vida de Rómulo de Carvalho:
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A ideologia de António Gedeão foge tanto à ideologia oficial como ao padrão cultural da classe dominante, que chega não raro a afectar o discurso mesmo daqueles que contestam o regime. É a ideologia de um sage: cientista, professor, poeta, espectador crítico e dilacerado, cuja intervenção se resume ao seu fazer de artista, mas que penetra fundo em quem o lê. Ele sonha a harmonia do mundo, isto é, a igualdade na desigualdade, a fraternidade na competição ou na luta de instintos; a liberdade íntima e cívica, que só pode conseguir-se através de um aperfeiçoamento incessante e progressivo da espécie humana.
Será redutor empregarmos a palavra socialismo para nos acercarmos desta cosmovisão? O certo é que não encontro melhor expressão. O mundo sonhado pelo trovador de «A Pedra Filosofal» está ao mesmo tempo aquém e além da visão de Fourier, de Proudhon, de Karl Marx? É decerto um mundo sem deus, no estrito sentido teológico da crença num criador do universo, omnisciente e omnividente, detentor do castigo e da recompensa. Materialista, darwnista, einsteineano, Rómulo de Carvalho/António Gedeão sonha no entanto o paraíso possível, a pacificação das feras que são a maioria dos homens, ainda presos e talvez para sempre aos primórdios da sua origem, mas capazes de ternura, de êxtase ante a beleza do mundo. É essa dualidade, a do homem preso à terra e à morte, condicionado pelas leis biológicas, rigorosas, da mecânica universal, e a da ascensão a uma plataforma superior da vida transformada através da cor, do gesto, da música e das palavras, que ele tenta comunicar-nos, ensinando-nos a olhar sem ilusões, mas com calma euforia, a beleza dos rios, das fontes, das plantas, das crianças, a união dos contrários. E assim a sua poesia fala a dor, o absurdo e por vezes, com atormentada alegria, a esperança
(texto de Urbano Tavares Rodrigues, retirado daqui)
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É durante este período preparatório (de 1954 a 1955) que lhe surge a ideia da adopção de um pseudónimo. Mas é só de quando em quando que surge uma assinatura nesses poemas, a maior parte das vezes resumida a um simples A (de António). Aliás, ao longo de toda a sua produção, só muito raramente assinava o pseudónimo completo. O elemento que está quase sempre presente é o A ou António.
Esse período preparatório para a arrancada definitiva que o levará a definir- -se e a aparecer publicamente como António Gedeão, corresponde a uma grande alteração na sua vida individual. Transplantáramo-nos da nossa cidade natal, de Lisboa e capital, onde nos ficavam, além dos sítios históricos que ele amava, o resto da família, a dele e a minha, e assentávamos em Coimbra, cidade de características académicas e de costumes ainda acentuadamente provincianos, e isto durante o período do Estado Novo. Havia ainda alguns costumes da«praxe», que não nos agradavam, havia procissões pelas ruas, com as figuras gradas da cidade a pegarem nas borlas dos pálios debaixo dos quais seguiam os bispos paramentados, e havia no liceu oficial para que ele fora nomeado uma hierarquia rígida, que envolvia obediências políticas, cívicas e religiosas muito acentuadas. Nesse meio, um professor de liceu devia mostrar-se como uma figura grave, encarregada da instrução e da educação de jovens. Era difícil mostrar uma faceta crítica, filosófica, implicitamente contestatária e, pior, lírica e anti-convencional.
(texto de Natália Nunes,retirado daqui)
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Para ver cronologia e mais informações sobre Rómulo de Carvalho ( isto é, ó poeta António Gedeão), consultar:
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Acreditava não poder zangar-se com alguém, e considerava que havia de morrer inocente, exactamente como nascera. Poeta até ao fim, António Gedeão, afirmava em 1989: "continuarei a escrever poesia até ao último suspiro. Suponho que o último suspiro será um verso."

Rómulo e Gedeão, o pedagogo da simplicidade e o poeta do sonho, deixam-nos uma obra vastíssima com a lucidez das palavras, idealisticamente voltada para o futuro.

25.11.06

Certificado de isenção de prendas

Certificado de isenção de prendas
(nota: esta declaração-modelo pode ser livremente modificada pelos interessados, segundo a sua imaginação e fantasia)


Uma vez que o essencial da vida não se compra…

… e como já tenho tudo o que me é necessário
….sendo tudo o resto muitíssimo caro.

Eu, abaixo-assinado, declaro isentar com todo o gosto o dever-obrigação dos meus amigos de me comprarem uma prenda neste período de festas e de Natal.

Declaro, desde já, que prefiro muito mais:

- fazer um passeio em plena natureza com boa companhia

- partilhar uma refeição com os amigos

- aproveitar o meu tempo para conviver com quem tenho gosto de estar

- brincar e divertir-me em conjunto

- fazer qualquer outra coisa que me encha de prazer e que não passe por comprar bens e mercadorias sob a forma de prendas.

Assino com gosto e muita ternura,

………….......





Dia Sem Compras ( 25 de Novembro)



Greve Geral dos Consumidores

No dia 25 de Novembro, último Sábado do mês de Novembro, celebra-se o Dia Sem Compras (Buy Nothing Day) em todo o mundo.

Falem dele aos familiares, aos vossos amigos e colegas.
Convencei-los a não comprar nada e a aproveitar esse dia para reflectirem individual ou em conjunto sobre o que andamos a fazer nesta vida e tentar responder a esta interrogação:


Será que somos, todos nós, consumidores consumidos?

Aproveitai também o dia para começar a simplificar a vossa vida.
Tentai fazer com que ela seja menos neurótica, consumista e stressante.


A sociedade de consumo em que vivemos é cega. Com efeito, não há crescimento económico infinito e sem limites. O nosso mundo não aguenta com tanto «crescimento» e «progresso» pela simples razão de que os seus recursos são limitados: nós extraímos duas vezes mais recursos fósseis, e emitimos gás carbónico para a atmosfera duas vezes mais que a capacidade de absorção do planeta. A bioddiversidade está a desaparecer. A extracção do petróleo decai. A sociedade de consumo e a febre consumista provoca uma autêntica pilhagem de recursos e a multiplicação de injustiças: 20% do nosso planeta, concentrada nos países ricos, consomem mais de 80% dos recursos planetários. O nosso nível de consumo e a febre consumista de que se apoderou de nós tem um custo: a submissão de população inteiras a um modelo económico predatório da natureza e dos homens. A sociedade de consumo é mortífera: ela reduz o ser humano a pouco mais do que a um agente económico, isto é, a um simples consumidor, negando e impedindo a valorização das nossas dimensões políticas, culturais, filosóficas, poéticas e espirituais, que são, no fundo, o que constitui a humanidade.
Devemos, pois, libertar-nos deste obscurantismo que consiste em acreditar piamente na toda-poderosa tecno-ciência e atirar para ela as nossas próprias responsabilidades pelos destinos das nossas sociedades. A ciência baseia-se – e é sempre bom recordar – na dúvida e não em qualquer lei sagrada. O nosso objectivo com esta iniciativa é reanimar a nossa responsabilidade social, e traduzir em actos do quotidiano a nossa tomada de consciência que assim não vamos a lado algum. Apostemos nas nossas capacidades de contenção, optemos pela simplicidade voluntária e exploremos a via do decrescimento sustentável e equitativo.

Façamos todos um gesto simbólico, individual e colectivo, e não façamos compras no próximo dia 25 de Novembro, aproveitando o Sábado para uma celebração das coisas simples da vida, e dedicando-o a uma reflexão sobre os caminhos por que anda a trilhar a nossa civilização.

Em Portugal a associação ambientalista Gaia promove um conjunto de iniciativas que visam celebrar o Dia Sem Compras, que é também assinalado em muitos outros países.

Participa e envolve-te.

Ver, para mais informação:

http://www.adbusters.org/home/

http://adbusters.org/metas/eco/bnd/index.php

http://www.ecoplan.org/ibnd/ib_index.htm - muito bom

Sê um herói do consumo. Luta contra o bombardeamento mediático para se comprar:
http://www3.sympatico.ca/dalia/buy0/buytoc.htm

http://www.punknews.org/article/20836

http://www.buynothingday.co.uk/ - no Reino Unido

http://www.ecologistasenaccion.org/article.php3?id_article=6134 - em Espanha
http://www.ecologistasenaccion.org/article.php3?id_article=6135

http://www.letra.org/spip/article.php?id_article=1492 - Consome até morreres


http://www.casseursdepub.org/ - em França

http://www.koopniets.nl/ - na Holanda ( muito bom)


http://www.thevacuumcleaner.co.uk/ - um vídeo acerca dos prazeres da vida gratuitos

Um filme sobre a Wal-Mart e como os baixos preços têm afinal um custo elevado:
http://walmart.bravenewtheaters.com/screening/show/4791

Ideias acerca do Natal sem compras:
http://www.buynothingchristmas.org/


Um certificado que serve para cada um de nós isentar os amigos e parentes de nos «encher» com prendas e presentes:
http://www.consommateur.qc.ca/union/images/PasDeCado.jpg

21.11.06

Vamos pôr as armas nucleares em tribunal

Campanha internacional e
Acção Cívica Mundial
contra as armas nucleares

As armas nucleares são tão criminosas em território da NATO como na Coreia do Norte ou no Irão.
Põe as armas nucleares em tribunal: apresenta queixa contra a politica nuclear da NATO!

Em postos policiais por toda a Europa, activistas irão apresentar queixas oficiais contra os seus próprios governos pela preparação de crimes de guerra.
Numa iniciativa conjunta da Bombspotting e da Greenpeace, dinamizada em Portugal pelo GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, juntamente com outras associações pacifistas e indivíduos, os movimentos irão exigir aos membros da NATO para que desmontem as armas nucleares instaladas na Europa.
A Greenpeace e a Bombspotting estão a encorajar os cidadãos de todos os países dos estados membros para que apresentem as suas próprias queixas legais e colocaram a informação necessária para a apresentação da queixa na internet ( ver www.bomspotting.be )
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Versão portuguesa também no site do GAIA:
http://www.gaia.org.pt/

A NATO condenou os testes da Coreia do Norte por serem “uma ameaça extremamente séria à paz e segurança mundiais.” Ao mesmo tempo, a NATO continua a manter 480 armas nucleares dos EUA na Europa: na Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda, Turquia e Reino Unido. A lei internacional está a ser desrespeitada pois todos os dias centenas de ogivas nucleares norte-americanas permanecem em solo Europeu e a NATO desenvolve planos para o sua utilização. A NATO deveria pôr a própria casa em ordem e eliminar a sua própria extremamente séria ameaça para a paz e segurança mundial se pretende ter qualquer legitimidade moral para exigir que outros países façam o mesmo.

O Estado português, enquanto membro da NATO, é não só conivente como cumplice e responsável directo no desenvolvimento desta política nuclear imoral e ilegal.
As queixas a serem apresentadas contra os governos exigem a aplicação da lei internacional humanitária. O Tribunal Internacional de Justiça indicou na sua Opinião de Conselho de 1996 as regras da lei internacional que se aplica às armas nucleares. O uso ou ameaça de armas nucleares é contrário a estas regras internacionais, pois as armas nucleares causam sofrimento desnecessário e são indiscriminadoras. A queixa aponta a cumplicidade dos governos na tomada de decisões na NATO sobre o nuclear e a sua consequente responsabilidade.
A 24 de Novembro, um oficial de diligências irá entregar uma intimação para terminar a orientação ilegal da NATO relativamente à manutenção ilícita de armas nucleares ao seu Secretário Geral General De Hoop-Scheffer. A 28 e 29 de Novembro os líderes vão reunir-se em Riga para discutir o futuro da NATO.
Esta é uma oportunidade para os líderes europeus irem de encontro à sua obrigação de desarmar o mundo das armas nucleares, removendo as armas nucleares norte-americanas do território europeu. Nesse sentido é essencial o papel que todos os cidadãos podem e devem assumir, neste momento, o direito de todas as crianças a crescer em países e numa Europa “limpa” de armas nucleares.
A apresentação da queixa envia uma mensagem clara: removam as armas nucleares da Europa! Esta também pode ser a tua voz.
Faz download da queixa em www.bomspotting.be ou, no site do GAIA http://www.gaia.org.pt/(estará também acessível uma folha informativa sobre todos os passos a dar para proceder a uma queixa) e entrega-a no posto de policia local. Convida a família, amigos e vizinhos a fazer o mesmo.
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Manda informações das acções planeadas, relatos de acções e fotos para: international@bombspotting.beou, em Portugal, para porto@gaia.org.pt

Documento da Queixa


Eu,…...,
residente na Rua/Praça/Avenida,
Venho aqui apresentar queixa visando a prática de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.
O Conceito de Estratégia da NATO inclui a detenção de armas nucleares e permitiu a sua primeira utilização em tempo de guerra. A NATO e os seus Estados-membros detêm 480 armas nucleares norte-americanas na Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda, Turquia e Reino Unido. Os pilotos destes países e dos Estados Unidos treinam e preparam-se para o uso destas armas em tempo de guerra. SHAPE, o quartel-general da NATO, aloja as bases de dados e o sistema de controlo e comando nucleares.
Todos os Estados-membros da NATO, Portugal incluído, participam no Grupo de Planeamento Nuclear, onde a estratégia nuclear e este sistema de detenção de armas nucleares é decidido bem como nas estruturas militares onde o uso actual é preparado.
Através desta política nuclear, a NATO e os seus Estados-membros, Portugal incluído, infringem as normas do Direito Internacional, como elas estão especificadas pelo Tribunal de Justiça de La Hague. Estas violações do Direito Internacional subsumem-se à designação de crimes de guerra, crimes contra a paz, e crimes contra a humanidade. A detenção de armas nucleares é contrária ao Direito Internacional.
No seu julgamento de 8 de Julho de 1996, o Tribunal Internacional de Justiça indicou as regras fundamentais do Direito Internacional que são válidas para as armas nucleares. Primeiramente, é necessário fazer a distinção entre combatentes e civis, logo, armas com as quais esta distinção não poderá nunca ser feita não são autorizáveis. Segundo, é proibido infligir sofrimento desnecessário nos combatentes, e é portanto proibido o uso de armas que inflijam sofrimento desnecessário.
A consequência do uso das armas nucleares não pode ser limitado no espaço nem no tempo. Consequentemente, as armas nucleares detidas pela NATO não poderão nunca ser utilizadas sem que estas regras elementares da lei humanitária sejam transgredidas. O Presidente do Tribunal Internacional de Justiça, Bedjaoui, considerou as armas nucleares como sendo contrárias ao Direito Internacional:”As armas nucleares são passíveis – pelo menos no actual estado de desenvolvimento científico – de causar vítimas indiscriminadas entre combatentes e não-combatentes, bem como desnecessário sofrimento em ambas as categorias. Até que os cientistas sejam capazes de desenvolver uma arma nuclear “limpa” que possa distinguir entre combatentes e não-combatentes, as armas nucleares terão claramente efeitos indiscriminados e constituirão um absoluto desafio à lei humanitária.”
A presença de armas nucleares nestas bases europeias indicia a prática de actos preparatórios de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade. Uma vez que as armas nucleares não podem nunca ser usadas sem infringirem as mais elementares regras das leis da guerra, o uso de armas nucleares constitui um crime de guerra e um crime contra a humanidade. Mais se acrescente que o Tribunal Internacional de Justiça coloca no mesmo plano a ameaça de uso e o próprio uso.O Governo Português participa na preparação de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade ao participar no processo de tomada de decisão e no planeamento da política nuclear da NATO.
As seguintes pessoas são portanto culpadas das violações acima descritas:
· Ministros responsáveis ao nível político, e mais especificamente o Ministro da Defesa, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, e o Primeiro-Ministro.
· Os militares e diplomatas portugueses que trabalham no quartel-general da Nato ou no SHAPE para o Grupo de Planeamento Nuclear e outras estruturas relacionadas com assuntos do nuclear.
Por favor note que, no contexto dos crimes de guerra, e de crimes contra a humanidade, não é válido o argumento de que as ordens emanavam duma autoridade superior, ou de que as acções desenvolvidas eram da responsabilidade do governo.
Data:
Assinatura:--

20.11.06

Another Brick in the Wall (Pink Floyd) ou sobre como não deve ser a educação...







Another Brick in the Wall Part 2 (Waters) , é uma letra de um tema incluido no album The Wall, dos Pink Floyd.


(The Wall é uma ópera rock e conceptual, da banda inglesa de rock progressivo Pink Floyd. Aclamado por críticos e fãs como um dos melhores álbuns dos Pink Floyd (juntamente com Dark side of the Moon e Wish You Were Here), é conhecido como sendo um clássico do rock, e os suas canções inspiraram muitos dos músicos rock contemporâneos.)

Letra:


We don't need no education
We dont need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teachers! Leave them kids alone!
All in all it's just another brick in the wall.

All in all you're just another brick in the wall.
We don't need no education
We dont need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teachers! Leave them kids alone!
All in all it's just another brick in the wall.
All in all you're just another brick in the wall.

"Wrong, Do it again!"
"If you don't eat yer meat, you can't
have any pudding. How can youhave any pudding if you don't eat yer meat?"
"You! Yes, you behind the bikesheds, stand still laddy!"


Análise da letra (excertos):

This second and most famous part of the "Brick in the Wall" trilogy continues with the narrative line and themes begun in "Happiest Days of Our Lives." In Part 2, the school children create an anthem of youthful unrest in response to the harsh treatment of the cynical teachers.
Since its release, countless children and adults have adopted "ABITW 2" as an anarchistic hymn using it to strike back against years of educational oppression. While some apply the song's biting lyrics to specific kinds of schooling, others use it as a rallying cry against any government mandated form of education. Largely as a result of this latter utilization, many countries around the world have banned the song from being played on their radio stations, a few even going so far as to place a national band on both the album and Pink Floyd. However, counter to these extremist views of total educational anarchy, the song was written as an attack against a specific type of learning, that which Waters and countless others endured as children. The lyrics are quite specific in this effect, rebuking those teachers first described in "Happiest Days" who use "thought control" and "dark sarcasm" to mold the school children into mindless drones of society. While there seems to be no specific allusion to Aldous Huxley's Brave New World, there are certainly parallels between Huxley's vision of future "education" and the rote learning of Pink's teachers. As previously mentioned, Huxley's novel presents children learning largely through hypnopedia, a process of repeating fundamental lessons to each child as he or she sleeps. Although the specific lessons depend upon the child's social status, there are certain governing "truths" that are taught which all must abide by. The outcome is a loss of individuality and the molding of each child into identical cells in the body of society. Though the educational system Waters is speaking out against is not as subliminal as Huxley's vision, the effects are the same, producing social clones who know the definition of an acre yet who cannot produce an original, imaginative thought throughout the majority of their lives. The opening lyrics illustrate this in the fact that "we don't need no education," is both a double negative (We Need Education, in the sense that certain types of education are good…they keep people from using double negatives! :-) ) and it's a specific cry stating "we don't need THIS TYPE OF education." In this sense, "ABITW 2" is not so much a song about complete revolution as it as an anthem about reclaiming stifled individuality; it's a criticism regarding the types of teachers and systems that ridicule an imaginative child for writing poetry, as in Pink's case.


Para consultar e ler mais sobre a letra e sobre os Pink Floyd:

http://www.thewallanalysis.com/secondbrick.html

http://www.thewallanalysis.com/Intro.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/The_wall



18.11.06

Contra as (J)aulas de substituição

Realizaram-se em todo o país manifestações e foram fechadas várias escolas contra as (J)aulas de substituição

Convocada nova Manifestação de estudantes no Porto
(para a Avenida dos Aliados às 9.30 h.do próximo dia 22 de Nov.

Circulou por todo o país um SMS com esta mensagem: «Greve de alunos 16 de Novembro contra as substituições. Mensagem a rodar.Passem.».
O resultado deste apelo que circulava desde o início do mês foi o encerramento de várias escolas a cadeado ( em Vale de Cambra, em Portalegre, em duas escolas de Lisboa, e noutros pontos do país com particular incidência no Alentejo e Algarve, onde centenas de alunos faltaram às aulas e se manifestaram nas ruas). A acção desencadeada teve larga repercussão o que obrigou o Ministério da Educação a ordenar aos Conselhos Executivos das Escolas a chamarem de imediato a polícia e a tentarem identificar os seus autores.

Em Lisboa, cerca de 400 estudantes manifestaram-se frente ao Ministério da Educação, onde decorre a vigília dos professores, gritando na rua pela demissão da ministra.Na zona da capital, as escolas secundárias Fonseca Benevides e Braancamp Freire foram encerradas a cadeado, tendo-se ainda registado desacatos na Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos Gonçalves Crespo, na Pontinha, onde os alunos impediram a entrada dos professores

A repercussão dos protestos teve grande impacto no Alentejo, onde a participação rondou os 80 a 90 por cento na secundária São Lourenço, em Portalegre, e cerca de 50 por cento na secundária Diogo de Gouveia, em Beja. Em Évora, os alunos bloquearam com pregos as entradas da secundária Gabriel Pereira, enquanto no litoral alentejano mais de duas centenas de estudantes protestaram nas ruas de Alcácer do Sal, com a greve a fazer-se sentir igualmente nos concelhos de Sines e Santiago do Cacém.
No Algarve, cerca de 200 estudantes manifestaram-se nas ruas de Faro, tendo sido recebidos pelo governador Civil da cidade, a quem entregaram uma moção com as suas reivindicações.
Também na Madeira houve participantes no protesto, contrariamente aos Açores, onde não houve qualquer tipo de protestos pelos alunos do ensino secundário.

Cerca de 200 alunos das duas Escolas Secundárias da cidade de Beja, Diogo de Gouveia e D. Manuel 1.º, manifestaram-se hoje, junto do Governo Civil de Beja, contra as aulas de substituição.
André Rosa, aluno da Escola Secundária Diogo de Gouveia, disse à Voz da Planície que "os alunos sairam à rua para protestar contra a maneira como as aulas de substituição são feitas e contra os exames de 9º. ano".
O protesto começou junto ao Governo Civil de Beja e terminou nas instalações da Escola Secundária Diogo de Gouveia.


Várias centenas de alunos da Escola Secundária de Vale de Cambra boicotaram, na manhã de ontem, a ida às aulas em protesto pelas aulas de substituição e manifestaram-se em frente à autarquia. O estabelecimento de ensino esteve encerrado durante as primeiras horas da manhã com um cadeado, mas os alunos acabaram por permitir a entrada de professores e auxiliares de acção educativa. Alguns dos alunos contestatários consideram que as aulas de substituição não têm utilidade prática para o ensino e não representam uma mais-valia


Convocatória para uma manifestação dos estudantes do Básico e Secundário das escolas do distrito do Porto para o próximo dia 22 de Novembro (4ª feita)

Entretanto foi convocada para o próximo dia 22 de Novembro ( 4ª feira) uma manifestação dos alunos do Básico e do Secundário das escolas do distrito do Porto a fim de ser divulgado um caderno reivindicativo, onde se exige o fim das (J)aulas de substituição e a introdução da disciplina de educação sexual no currículo escolar.

Declararação dos Direitos Sexuais


A Organização Mundial de Saúde considera a sexualidade como um aspecto fundamental na qualidade de vida de qualquer ser humano. Essa dimensão é fundamental em tudo o que somos, sentimos e fazemos. A OMS considera ainda a saúde sexual como uma condição necessária para o bem-estar físico, psíquico e socio-cultural.

Sexualidade é uma parte integral da personalidade de todo ser humano. O desenvolvimento total depende da satisfação de necessidades humanas básicas tais quais desejo de contacto, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e amor.Sexualidade é construída através da interacção entre o indivíduo e as estruturas sociais. O total desenvolvimento da sexualidade é essencial para o bem estar individual, interpessoal e social.

No seguimento destes postulados a Associação Mundial de Sexualidade, com o apoio da OMS, aprovou a seguinte Declaração dos Direitos Sexuais:

1. O direito à liberdade sexual.
A liberdade sexual diz respeito à possibilidade dos indivíduos em expressar seu potencial sexual. No entanto, aqui se excluem todas as formas de coerção, exploração e abuso em qualquer época ou situações de vida.
2. O direito à autonomia sexual, integridade sexual e à segurança do corpo sexual.
Este direito envolve a habilidade de uma pessoa em tomar decisões autónomas sobre a própria vida sexual num contexto de ética pessoa e social. Também inclui o controle e o prazer de nossos corpos livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo.
3. O direito à privacidade sexual.
O direito às decisões individuais e aos comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos sexuais dos outros.
4. O direito à igualdade sexual.
Liberdade de todas as formas de discriminação, independentemente do sexo, género, orientação sexual, idade, raça, classe social, religião, deficiências mentais ou físicas.
5. O direito ao prazer sexual.
O prazer sexual, incluindo auto-erotismo, é uma fonte de bem estar físico, psicológico, intelectual e espiritual.
6. O direito à expressão Sexual.
A expressão sexual é mais que um prazer erótico ou actos sexuais. Cada indivíduo tem o direito de expressar a sexualidade através da comunicação, toques, expressão emocional e amor.
7. O direito à livre associação sexual.
Significa a possibilidade de casamento ou não, ao divórcio, e ao estabelecimento de outros tipos de associações sexuais responsáveis.
8. O direito às escolhas reprodutivas livres e responsáveis.
É o direito em decidir ter ou não ter filhos, o número e o tempo entre cada um, e o direito total aos métodos de regulação da fertilidade.
9. O direito à informação baseada no conhecimento científico.
A informação sexual deve ser gerada através de um processo científico e ético e disseminado em formas apropriadas e a todos os níveis sociais.
10. O direito à educação sexual compreensiva.
Este é um processo que dura a vida toda, desde o nascimento, pela vida afora e deveria envolver todas as instituições sociais.
11. O direito à saúde sexual.
O cuidado com a saúde sexual deveria estar disponível para a prevenção e tratamento de todos os problemas sexuais, preocupações e desordens.

Consultar:
http://www.worldsexology.org/


O presente texto foi retirado do weblog Sexualidade Medular. Trata-se de um blog que se dedica meritoriamente a divulgar informações acerca da sexualidade das pessoas que se encontram numa situação de discapacidade física. Ver:
http://sexualidademedular.blogspot.com/

A GNR avalizou o corte de uma árvore, contra a vontade da população


À terceira foi de vez. A árvore nº 290 do Instituto Estradas de Portugal (IEP) deixou de fazer sombra às gentes do lugar de Arufe, Loivos da Ribeira, em Baião.
A árvore - um majestoso plátano com cerca de 30 metros de altura suportado por um tronco que teria na base um diâmetro de quatro metros - foi cortada pela raiz para desgosto da maioria da população.
A regra básica da democracia, as maiorias, desta vez de nada lhes valeu.
A ofensa foi tal, que só com a presença da GNR, e uma suposta ordem judicial, é que os contestatários cederam à vontade dos técnicos do IEP de eliminar o referido plátano.
"É um crime", repetia-se à medida que a motosserra golpeava os ramos da árvore deixando-a despida, antes do golpe fatal.
Questões de segurança?
A árvore fazia parte de um conjunto de oito plátanos que ladeiam a ponte sobre o rio Teixeira, na estrada nacional 108, actualmente em obras. Na empreitada, os técnicos confrontados com a existência de uma cavidade na base do árvore, decidiram-se, há cerca de 15 dias, pelo seu abate, alegando questões de segurança.
Porém, a população opôs-se ao corte da árvore. Os moradores lembraram que, já há cerca de 13 anos, houve idêntica intenção, e se na ocasião não conseguiram vencê-los, não seria agora. Os dois agentes da GNR, entretanto chamados ao local, terão sido incapazes de manter as condições necessárias para que o corte fosse efectuado sem alteração da ordem pública. Ontem, o mesmo número de agentes com uma suposta ordem judicial, foi o suficiente para a população baixasse os braços, mas não a revolta.
Nas imediações, estaria pronto a intervir o pelotão de intervenção da GNR, segundo o JN conseguiu apurar junto de fonte que pediu anonimato.Os poucos habitantes da aldeia, presentes, mais não fizeram que descarregar para o bloco de apontamentos do repórter, a "tristeza na alma", com algumas bocas de permeio aos técnicos.
Dizem que o "tal rombo" no tronco, "foi provocado com fogo, pelo proprietário do terreno" que colhia a maior fatia da sombra. O homem, que o JN não conseguiu localizar, alegadamente, não gostaria da sombra que a árvore lhe fazia à sua casa. Por essa razão, acusam os contestatários, "tentou secar a árvore com fogueiras"." Mas não conseguiu ela está ali firme", diziam. Foi por pouco tempo.

Fonte: JN

Festival de Teatro Associativo

12º AMASPORTO -FESTIVAL DE TEATRO ASSOCIATIVO
de 4 de Novembro de 2006 a 27 de Janeiro de 2007 no Porto


Calendário da programação

Todos os espectáculos às 21,45HORAS,
no auditório da Companhia Teatral de Ramalde
Rua de Requesende, 1949



04 de Novembro - Teatro Fonseca Moreira - Felgueiras
"MULHER SEM PECADO"


18 de Novembro - SENTIDOS - Grupo de Teatro – Porto
"QUEM SOMOS: UM GRÃO DE AREIA NO SAPATO?"


25 de Novembro - ARAUTOS -Grupo D'arte e Cultura - Esmoriz
"AS JÓIAS DE SANGUE"

02 de Dezembro - TEAGUS - Teatro Amador de Gulpilhares"
AS MULHERES DE ATENAS"

16 de Dezembro - Escola Dramática e Musical Valboense
"DESPERTA E CANTA "

06 de Janeiro - CORIFEU - Grupo Teatro de Vila do Conde
"A RUA"

13 de Janeiro - CORIFEU - Grupo de Teatro de Vila do Conde
"CARTA A UMA FILHA"

20 de Janeiro - A Capoeira – Companhia de Teatro de Barcelos
"FARSA DE INÊS PEREIRA"

27 de Janeiro - Companhia Teatral de Ramalde - Porto
" A PÁTRIA DAS CAMÉLIAS"-segundo O Porto Profundo(excepcionalmente, a estreia ocorrerá no Auditório da Paróquia da Freguesia de Ramalde)

Encerramento

28 de Janeiro -16 horas- Atribuição dos "PRÉMIO TALMA" Entrega das Placas Associativas aos Grupos participantes

Colóquio - Exílio e Exilados Políticos (1926-1974)




Encontro- Colóquio Exílio e Exilados Políticos (1926-1974)

24 e 25 de Novembro

Casa das Artes

A entrada é livre, sendo apenas necessário a inscrição prévia até 22 de Nov.

Programa

24 Novembro Sexta


09h30 -ABERTURA. Intervenções do Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa, e do Consultor Científico do Museu Bernardino Machado, Prof. Doutor Norberto Ferreira da Cunha


10h00 - O REVIRALHISMO E A LIGA DE PARIS.Prof. Doutor Fernando Rosas (Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa)

10h30 - BERNARDINO MACHADO, OPOSICIONISTA À DITADURA MILITAR E AO SALAZARISMO (1926-1944). Prof. Doutor Norberto Cunha (Universidade do Minho)

11h00 -Debate

11h30 - OS BUDAS E A OPOSIÇÃO À DITADURA MILITAR E AO ESTADO NOVO - CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS NO REVIRALHISMO DOS ANOS 30.Mestre António José Queirós (Investigador do Centro de Estudos da População Economia e Sociedade da Universidade do Porto)


12h00 - OS EXILADOS PORTUGUESES NO BRASIL. Prof.ª Doutora Heloísa Paulo (Universidade Salgado de Oliveira, de Niterói, Brasil)

12h30 - Debate

15h00 - OS EXILADOS PORTUGUESES NA SUÍÇA: REFLEXÕES EM VOLTA DE UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA (1963-1974). Prof. Doutor Eurico Figueiredo (Universidade do Porto)

15h30 - A FRENTE PATRIÓTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL (1962-1974). Prof.ª Doutora Susana Martins (Doutoranda da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa)

16h00 - Debate

16h30 - O EXÍLIO SOCIALISTA ORGANIZADO: DA ACÇÃO SOCIALISTA AO PARTIDO SOCIALISTA (1964-1974). Prof. Doutor António Reis (Universidade Nova de Lisboa)

17h00 - EXILADOS DISCRETOS. Prof. Doutor António Ventura (Universidade de Lisboa)

17h30 - EXÍLIO E MEMÓRIA. Prof. Doutor Acílio Estanqueiro Rocha (Universidade do Minho)

18h00 - Debate



25 Novembro I Sábado


09h30 -JAIME CORTESÃO: UM HISTORIADOR NO EXÍLIO. Mestre Elisa Neves Travess(Universidade de Lisboa)

10h00 -ALEXANDRE PINHEIRO TORRES: AS ILHAS E O DESTERRO. Doutor Fernando Guimarães (Poeta e Ensaísta)

10h30 -Debate

11h00 - OS EXÍLIOS DOS ARTISTAS PLÁSTICOS: ARTE E EXÍLIO EM PORTUGAL. Prof. Doutor António Pedro Pita (Universidade de Coimbra) e Prof. Doutor Bernardo Pinto de Almeida (Universidade do Porto)

11h30 -RUY LUÍS GOMES: UM CIENTISTA NO EXÍLIO. Prof.ª Doutora Natália Bebiano Providência (Universidade de Coimbra)

12h00 - Debate.

12h30 - Conclusões e encerramento.

17.11.06

As «malditas palmeiras»




As lógicas dos impérios têm muito em comum e será, pois, oportuno relembrar o que se passou quando um governador imperial britânico, Sir Stamford Raffles, visitou uma das ilhas da Indonésia, no final do século XIX. Aqui as populações viviam autonomamente, graças a uma vida frugal e às palmeiras espontâneas locais que lhes forneciam tudo aquilo de que necessitavam.
Afirmou então o Governador: «Mas estas pessoas são ingovernáveis!».
Queria ele dizer que eram ingovernáveis porque não havia nada que o poder lhes pudesse dar e que elas quisessem ou precisassem.
Perante isso, é evidente que o governo sob a chefia do dito Governador foi forçado a deitar abaixo as «malditas palmeiras» a fim de tornar as populações locais dependentes e, por conseguinte, governáveis.



As ideologias das missões, da colonização e do «desenvolvimento»

Antes da colonização, a ideologia da missão dividia os seres humanos em cristão e pagãos, tendo os primeiros o «dever» de levar a «fé» aos pagãos.
A ideologia da colonização, surgida no século XVIII dividia os seres humanos em civilizados e selvagens, competindo aos civilizados a tarefa de levar a «civilização» aos «selvagens».
A partir da II Grande Guerra Mundial começa-se a falar e a fazer-se a distinção entre desenvolvimento e subdesenvolvimento: os seres humanos são então divididos em ricos e pobres, cabendo aos ricos ajudar os «pobres» de forma a estes se tornarem «ricos». Esta ideologia do «desenvolvimento» aparece nos Estados Unidos e visa substituir a ideologia da colonização, já que os próprios Estados Unidos tinham sido colónias pelo que dificilmente poderiam aceitar a ideologia da colonização.
Hoje em dia em plena época do capitalismo financeiro e da globalização capitalista o termo subdesenvolvidos toma um tom pejorativo e passa-se a estabelecer diferenças na base do maior ou menor grau de industrialização, aparecendo então a distinção entre 1) países industrializados; 2) Novos países industrializados; 3) Países em Desenvolvimento
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