28.4.09

«Andanças para a liberdade», livro de memórias de Camilo Mortágua, um guerrilheiro revolucionário que participou no 1º desvio de um navio no alto-mar


Andanças para a liberdade - volume I: 1934-1961
de Camilo Mortágua

Acaba de ser lançado o 1º volume de «Andanças para a Liberdade» de Camilo Mortágua, cuja apresentação decorreu na semana passada em vários locais do país com a presença do autor, e que pretende dar conta das memórias de um revolucionário e guerrilheiro que participou no assalto ao Santa Maria, o que constituiu historicamente a 1ª acção de desvio de um navio em alto-mar realizada nos tempos modernos ( o desvio do paquete português «Santa Maria» é considerado o primeiro acto de pirataria dos tempos modernos), e em muitas outras acções políticas - que hoje, tal como na época, seriam conotadas com o terrorismo internacional - tendo fundado a LUAR, uma organização política que defendia a autogestão dos trabalhadores, com Emídio Guerreiro ( futuro secretário-geral do PSD) e Palma Inácio (actual militante socialista). Hoje, Camilo Mortágua é um dos mais dinâmicos activistas do desenvolvimento local, depois de ter sido figura destacada na cooperativa Torre Bela durante os anos de 1974 e 1975.

(refira-se que já está no prelo o “Volume II: 1962-1977 - Do Santa Maria ao 25 de Abril… e o que aconteceu depois”)


Camilo Mortágua, um herói vivo da Acção Directa,...
...e grande oficial da ordem da liberdade da República Portuguesa


Partindo de uma aldeia portuguesa da Beira litoral, estas “Andanças” atravessarão mares e continentes, em viagens de ida e volta. Nos dois volumes desta obra dá-se conta, nomeadamente: do derrube da ditadura venezuelana e das solidariedades com a revolução cubana; da concepção, prepa­ração e execução do assalto ao Santa Maria; da ascensão e queda de Jânio Quadros e da implantação da ditadura militar no Brasil; do assalto ao quartel de Beja e da campanha de Humberto Delgado para a Presidência da República; de certos “mistérios” relacionados com os primórdios da guerra colonial; da preparação e execução da operação VAGÓ (desvio do avião da TAP a partir de Marrocos); das misérias e dos desânimos de quem não se conformava, e das traições entre militantes; da oposição do PCP à luta armada; da preparação e exe­cução do assalto ao Banco da Figueira da Foz e do subsequente apa­recimento da LUAR; dos percursos de muitos dos nossos “líderes” de hoje nesses tempos de Medo e Resistência…

Camilo Mortágua foi um dos protagonistas dos golpes mais espectaculares que abalaram a ditadura, nomeadamente participou na Operação Dulcineia, em Janeiro de 1961, comandada pelo capitão Henrique Galvão e inspirada pelo general Humberto Delgado ― o desvio do paquete português “Santa Maria”. Mais tarde seria um dos fundadores da LUAR.


Nascido junto aos rios Vouga e Antuã, no concelho de Oliveira de Azeméis - terra de moleiros e padeiras - Mortágua destaca nas primeiras 70 páginas da obra a vida feliz, mas austera, da infância. "Normalmente o Batata [Mortágua] acompanhava o pessoal da casa nos trabalhos das lavouras".

"As pessoas não têm paciência para olhar para o lugar de onde se vem. Mas é fundamental", diz o autor. Assim, fala da influência do Antuã. "O rio era o prolongamento da casa de cada família"; "sem mestre, foi aí que o Batata se autoformou nas artes de esbracejar para se manter à tona d'água".

Aos 12 anos seguiu com os pais e as duas irmãs para Lisboa - Alto do Pina. Lugar da "grande desilusão" onde aprendeu "a conhecer profundamente as razões da sua assumida e inevitável paixão pela liberdade". Na capital já não era nem "Come e cala", nem "Batata". Era "Zé ninguém". Sofreu. Vendeu pão, serviu "copos" na taberna do pai. E leu muito. Mas a vida opunha-se a que estudasse.


Aos 17 anos, revoltado, partiu - "para um lugar onde pudesse ser eu" - e chegou à Venezuela. Ali foi emigrante. Foi à Colômbia. Assistiu à queda da ditadura venezuelana e solidarizou-se com a revolução cubana. Aventurou-se na rádio com o desportivo "Ecos de Portugal". E "sem o saber (...) estava traçando o rumo futuro da minha actividade política".

O seu baptismo político foi na "Junta Patriótica Portuguesa", movimento antifascista onde se "oficiava a doutrina do socialismo científico" e a "obediência ortodoxa moscovita". Mas com a chegada do capitão Henrique Galvão (exilado na Venezuela desde 1959) "as condições alteraram-se radicalmente". Galvão bateu-se contra os que na Junta "condenavam e combatiam a acção directa contra a ditadura". A Camilo soaram--lhe bem as palavras "acção directa" - "tinha mais a ver comigo" - e foi-se embora atrás de Galvão.

Poucos dias antes de fazer 27 anos entrou para o Santa Maria, ou Santa Liberdade - paquete de luxo português, símbolo do regime.
"Foi numa sexta-feira do mês de Janeiro de 1960, dia 20 (...) Não me lembro de ter olhado para o céu, nem prestado atenção ao tempo que fazia". O assalto planeado tempos antes e comandado por Henrique Galvão deu-se dois dias depois. Antes de serem localizados por um avião americano, o navio esteve em "andanças" para a "liberdade"...
"Uma liberdade que eu considero absoluta, mítica... que se calhar nunca alcançaremos, mas à qual nos temos de aproximar".

http://camilomortagua.no.sapo.pt/

BIOGRAFIA

1934 1944

UL: Conselho de Oliveira de Azemeis; Salreu: Concelho de Estarreja. Recém nascido,estudante e aprendiz de agricultor.


1945 1951

Distribuidor de pão a domicílio, caixeiro de mercearia, aprendiz numa fábrica de malhas, empregado de escritório, aprendiz de padeiro, caixeiro de balcão de padaria, estudante esporádico.

1951 1960

Na Venezuela com períodos curtos em diversos países da América Central e do Sul.

Padeiro, fabrico e distribuição; ajudante de carpinteiro; Produtor de Programas radiofónicos; Locutor de Rádio; Fundador da empresa Publicitária “Ecos de Portugal” e do semanário com o mesmo nome; Dirigente do Clube Desportivo Português; Organizador e participante da primeira ligação terrestre entre Caracas e Rio Janeiro em motorizada; co-fundador e militante da Junta Patriótica Portuguesa, activista contra a ditadura de Perez Gimenez; co-fundador com Henrique Galvão e outros anti-fascistas portugueses e espanhóis do DRIL – Directório Revolucionário Ibérico de Libertação da Península Ibérica.

No Mar

Janeiro de 61
Participação no assalto ao navio de passageiros Santa
Maria; (a título de curiosidade histórica vejam “documentos” o menu da “Última ceia”).

No Brasil: activista anti-fascista com um grupo de companheiros liderado pelo Cap. Henrique Galvão.

Em Marrocos: participação no assalto ao avião da TAP da carreira Casablanca – Lisboa.


1961 1965

No Brasil: Actividade clandestina (sob o nome de Manuel Domingues) activista contra a ditadura portuguesa; actividades profissionais para a sobrevivência, vendedor da multi-nacional 3M e de vários grossistas de papelaria.


1965 1966

Em França: Actividade clandestina (sobe o nome de Carlos Costa) mobilização, recrutamento e organização.

Actividades profissionais: ajudante de pintor (construção civil), montador de andaimes, aprendiz e depois encarregado de produção de produtos farmacêuticos (Laboratórios LABAZ).

1967 1968
Em França, em Portugal e na Bélgica, actividade clandestina para a organização da operação "Mondego" recuperação de fundos no Banco de Portugal na Figueira Foz.Surge a LUAR – Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

1969 1970
Em França, continuação da actividade clandestina e encarregado dos serviços de reprodução gráfica da CINAM – Compagnie d’ Etudes Industrielles et d’ Aménagement du Territoire – inquéritos sócio Económicos; colaborador da CIMAD (ONG internacional de Solidariedade).

1970 1974
Em França, continuidade da acção logística clandestina, co–fundador e sócio gerente da Cooperativa de reprodução gráfica 2-R Repro Rápid – Paris.

1974 1979
Em Portugal, até 75 parcialmente dirigente da LUAR, efectivamente dinamizador de processos de criação de cooperativas agrícolas, de comercialização, de habitação e culturais, entre as quais: a Torre Bela (agro-silvo-pecuária), a AZAGRO cooperativa de 2º grau para a comercialização de produtos agrícolas e a ERA NOVA cooperativa cultural co-fundada por José Afonso, Sérgio Godinho, Victorino, Fausto, Francisco Fanhais e muitos outros.


1979 1984
Em Moçambique: Funcionário do Ministério da Agricultura. Responsável pelo Departamento “organização” das Cooperativas Agrícolas a nível nacional e pelo executivo nacional do desenvolvimento rural cooperativo.
Programa MONAP II e III (Programa de ajuda nórdica a Moçambique) director do Projecto CO-1. Projecto de âmbito nacional de apoio ao desenvolvimento rural integrado, nas vertentes da: comunicação, educação / alfabetização, saúde, formação de camponeses e agentes de desenvolvimento local, produção, abastecimento, comercialização etc.

1985 1988
Em Portugal, Agricultor e criador pecuário.


1988 1990
Em Portugal, Animador independente. Membro da equipa responsável pela implementação de "Projecto de Formação para o Desenvolvimento de Messejana" (Aljustrel).
Monitor responsável pela área de formação em “Desenvolvimento Comunitário” (financiamento Comissão Europeia DG V – FSE).
Animador do processo e co-fundador da Cooperativa ESDIME. Análise e concepção metodológica para alterações da intervenção no Bairro da Cruz da Picada (Évora) – Programa de luta contra a pobreza.


1990 1994
Em Portugal, Câmara Municipal de Viana do Alentejo.Organizador e responsável do Gabinete de apoio ao desenvolvimento integrado do Concelho.
Co-responsável pela concepção, organização do Programa de Formação para o desenvolvimento de Alcáçovas envolvendo essencialmente mulheres desempregadas de longa duração.
Co-fundador e principal dinamizador da Associação para o Desenvolvimento Integrado de Micro-Regiões Rurais "TERRAS DENTRO". Coordenador do Programa LEADER I para a Região Alentejo. Dinamizador da valorização identitária desta zona sob a designação “Terras do Cante”.
Fundador e editor do Jornal TERRAS DO CANTE.
Conceptor / dinamizador das acções promocionais; "Alentejo Maio Florido" entre outras.
Coordenador / animador de Projectos como: NOW, INTEGRAR, LEONARDO etc. aplicados a várias Freguesias das “TERRAS DO CANTE”.



1994 1996
Em Portugal: Organização e Coordenação, em representação de Terras Dentro e em parceria com a INDE, da Terceira Universidade Rural Europeia. (Évora Maio de 93).

Animador de 5 encontros, em diferentes regiões do País, financiados pela Comissão Europeia DG XVI, denominados:
“Acções de Desenvolvimento Local que contributo para o desenvolvimento regional”.

Proponente e responsável pela organização da Primeira Conferencia Europeia sobre o Desenvolvimento Local e a Coesão Social. (Serpa Novembro de 95) Comissão Europeia DG XVI. Animador do processo de criação e co-responsável pela Direcção da Associação “Ideia Alentejo”.

Co-formador nos cursos de formação de técnicos de turismo, para pós graduados, organizados pela Associação de Defesa do Património de Mértola e Campo Arqueológico de Mértola.

Na Polónia: Para o Programa PHARE/STRUDER- apoio aos agentes para o Desenvolvimento regional de MIELEC e RZESZOW.

Missão da INDE de Apoio à concepção e preparação de um programa piloto para o desenvolvimento local em meio rural e um de cooperação tripartida entre a Polónia, França e Portugal para transferencia da metodologia LEADER.

Países da União Europeia: Comissão Europeia – DG VI – Observatório Europeu LEADER. Membro do grupo temático “Metodologia de Inovação e do Desenvolvimento Rural”.

Participação na montagem do micro-observatório de 10 grupos LEADER europeus.

Participação na animação de Seminários europeus LEADER: “ Métodos e instrumentos para o diagnóstico permanente do território”. (Sertã – Portugal Novembro de 2005).
“Situação e perspectivas da Europa Rural” ( Bas Windsheim, Alemanha – Setembro de 96).

Em Espanha: Instituto Agronómico Mediterrânico.
Universidade de Saragossa.

Formador nos cursos de verão sobre o Desenvolvimento Local, e o papel da comunicação social no desenvolvimento local.
(Julho de 96)

Na Europa: Dinamizador, co-fundador e presidente
da DELOS Constellation, Association International pour le Developpement Local Soutenable – rede Europeia extinta em 2002.


1997 2001

Em Itália: Instituto Svillupo del Vale del Bellice / Centro de Ricerche Economiche e Sociali per il Meridione – CRESM. Programa “ Emergenza – Sud – Sicilia.

Formação de 80 jovens licenciados em diversas áreas como técnicos de Desenvolvimento Rural Integrado, futuros técnicos dos GAL do Programa LEADER na Sicilia. (Gibelina, Caltaniseta e Siracusa – Nov. 96 – Fevereiro 97).

Em França: Participação na animação do Seminário europeu “ Interesse e metodologias Da Cooperação transnacional” (Dieulefit, Abril de 97)

Na Bélgica: Participação na preparação e na animação do Colóquio Europeu LEADER. Animador do atelier “Democracia Local, participação e igualdade de Oportunidades” (Bruxelas).

Polónia – França – Portugal: Programa Ecos – Ouverture – Comissão Europeia DG XVI, visando a transferencia da metodologia LEADER para o sudeste da Polónia.

Formação de técnicos polacos na Polónia e em Portugal e apoio ao lançamento de um projecto pilo no vale “Dolina Strugo” região Rzeszow.

Equador: Comissão Europeia – DG 1. Projecto de Apoio à Mulher Rural na Província de Chimborazo. Missão de apoio na área do fortalecimento das organizações de mulheres e respectivas comunidades. Análise da situação presente e propostas de melhoramento das metodologias de intervenção do projecto.

Em Cabo Verde: Assessor técnico ao Programa de Luta Contra a Pobreza Rural (PLPR) financiado pelo FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola) especificamente para a definição de metodologias de intervenção, formação de animadores de terreno, animação de comunidades rurais, concepção de estruturas de coordenação, etc. ( desde Setembro de 2000).

Na Europa: Desde Novembro de 2000, Presidente da Associação – APURE, Association pour les Universités rurales Europeenes.

Em Portugal: Definição das metodologias de intervenção e formação de Dirigentes Associativos locais no âmbito dos Projectos “Bairro activo” e “Bairro Itenerante” no Prior Velho e Bucelas respectivamente.

Membro da Célula de Animação da REDE LEADER II – (DG VI e Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Responsável pela formação e animação directas dos 48 grupos locais “GALs” Portugueses. Actividade desempenhada de 1996 a 2001, na qualidade de responsável pelo sector da Animação e Organização Local da Cooperativa INDE de Lisboa.


2002 2004

Colaborador a diferentes níveis, nos processos de avaliação de competencias e de auto-avaliação participada, formação de animadores de terreno etc, para várias Associações Portuguesas e estrangeiras, no âmbito dos Projectos EQUAL, POEFDs, INTER REGUE etc, nomeadamente a Associação Marítima Açoreana e a Associação ADRACES, dos Açores e V. Velha de Ródão respectivamente.

Dinamizador co-fundador e primeiro Presidente da Associação – ACVER, Associação Internacional para o Desenvolvimento e Cooperação de Comunidades Rurais.

Responsável pela área da formação nos Projectos desta associação com C. Verde.

Colaborador pontual de diversos jornais temáticos ligados às áreas do Desenvolvimento Local, da educação para a cidadania e das práticas concretas da democracia participativa, de proximidade!

Observação: O percurso tem de continuar até onde a vontade de aprender me levar.


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Acordai! ( canção heróica de Lopes Graça)

Acordai

Acordai,
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raiz!

Acordai,
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões!
Vinde incendiar
de astros e canções
as pedras e o mar,
o mundo e os corações!

Acordai!
Acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis!
E acordai, depois
das lutas finais,
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!


As Canções Heróicas/ /Canções Regionais Portuguesas foram compostas musicalmente por Fernando Lopes-Graça e cantadas pelo Coro da Academia de Amadores de Música com Olga Prats ao piano.
São canções politicamente empenhadas que contribuíram para exaltar a liberdade e dar força a todos aqueles que lutavam contra o antigo regime. A primeira versão foi publicada, em 1946, sob o título de «Marchas, Danças e Canções – próprias para grupos vocais ou instrumentos populares». Foi apreendida pela Censura o que impediu que os poemas fossem ouvidos e cantados em espectáculos ou sessões públicas, como até então. Contudo, muitos resistentes continuaram a cantar as canções nos encontros clandestinos ou nos países onde se encontravam exilados. Em 1960, surge uma colecção, mais alargada, com o nome de «Canções Heróicas, Dramáticas, Bucólicas e Outras». A nova edição destinava-se a celebrar o 50º aniversário da implantação da República e foi divulgada com grandes precauções, num meio muito restrito de pessoas. Finalmente, a versão final ficou conhecida por «Canções Heróicas».


Biografia de Fernando Lopes Graça:
http://en.wikipedia.org/wiki/Fernando_Lopes-Gra%C3%A7a



Perguntas subversivas do professor catedrático Vítor Oliveira Jorge

«Às vezes pergunto-me: por que é que muitos dos meus amigos de juventude se acomodaram, se calaram, jamais contribuíram para mudar fosse o que fosse no país que então tanto achávamos anacrónico?

Por que é que tantos se ajustaram ao "realismo político" das suas carreiras, incluindo ao desenvolvimento de um discurso académico que sabem inócuo?


Por que prepondera sobre tudo a vontade de conforto?

Por que é que tantos se esgotam mesmo em escrever ou ditar opiniões, quase nada fazendo para criar um evento, uma ruptura, uma diferença?

Isto para mim é um enigma! »

Fonte: aqui
Retirado do blogue do professor catedrático Vítor Oliveira Jorge: