1.4.05

Um mentiu sobre a guerra, o outro sobre sexo!

Clinton mentiu sobre assuntos de sexo.
Bush mentiu sobre assuntos da guerra.

Clinton foi julgado e quase expulso da Presidência. Ao Bush nada lhe acontece.

Não é estranho?

Clinton foi julgado e quase expulso da Presidência por ter mentido sobre assuntos de sexo.

E Bush não mentiu sobre assuntos da guerra? E nada lhe acontece!!!
Não é estranho?

E Blair? Agora já não são apenas mentiras?
Agora já se matam os cientistas "traidores" que ousam dizer as verdades à população e ao mundo.
Já para não falar dos assassínios encomendados que matam as princesas "dissidentes"?

Afinal quem são os mentirosos e criminosos?

Será que O USA e a Grã-Bretanha estão a ser governados por uma mafia de criminosos "eleitos" democraticamente?
(Hitler também foi eleito)

Queremos mentiras novas!


Queremos mentiras novas!
Porque as velhas já estão gastas!
A mentira sobre as armas de destruição maciça do Iraque?
Já toda a gente a denunciou (menos os tolos e atrasados mentais)
A mentira sobre a crise económica?
Então não foram os Bancos Portugueses que tiveram em 2004 um grande aumento dos seus lucros?
A mentira sobre os benefícios do Capital?
O Capital é sede do lucro e da rapina, não do desenvolvimento humano. (bem diz a sabedoria antiga que mais fácil é passar um camelo pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus!)
A mentira sobre a competência dos ministros?
Quantos ministros já não saíram dos governo por acusação de cometerem ilegalidades?
Até o António Vitorino, acusado de não declarar impostos, subiu ao cargo de Comissário da União Europeia!
A mentira sobre o Estado como pessoa de bem?
Então os meninos da Casa Pia não estavam entregues à responsabilidade do próprio Estado?
E há alguém que acredita no bom nome do Estado?
A mentira sobre a Igreja como Casa de Deus? Como?
Só realmente se Deus fosse o Diabo......
A mentira sobre a democracia ou o tal poder do povo!
Pusessem os escravos a votar e veríamos se o seu senhor não os obrigaria a votar nele próprio...Ora o mesmo acontece aos assalariados.
Queremos mentiras novas!
Estamos fartos das antigas...

A Televisão, os Fast-Thinkers e as ideias feitas (por P.Bourdieu)



(…) Penso, com efeito, que a televisão ( …) faz correr um perigo muito grande às diferentes esferas da produção cultural, arte, literatura, ciência, filosofia, direito (…) e faz correr um não menor risco à vida política e á democracia.
(…)
O discurso articulado, que foi pouco a pouco excluído dos estúdios de televisão(…) continua, com efeito, a ser uma das formas mais seguras de resistência à manipulação e da afirmação da liberdade de pensamento.
(…)
O acesso à televisão tem por contrapartida uma censura formidável, uma perda de autonomia ligada, entre outras coisas, ao facto de o tema ser imposto, de as condições de comunicação serem impostas (…) em última instância, poderá dizer-se que é a coacção económica que pesa sobre a televisão. Dito isto, não podemos contentar-nos com dizer que aquilo que se passa na televisão é determinado pelas pessoas que a possuem, pelos anunciantes que pagam a publicidade, pelo Estado que paga subsídios(…) É importante sabermos que a NBC é propriedade da General Electric,…que a CBS é propriedade da Westinghouse, que a ABC é propriedade da Disney, que a TF1 é propriedade da Bouygues…

A televisão é um formidável instrumento de conservação da ordem simbólica (…), quanto melhor compreendemos como funciona melhor compreendemos também que as pessoas que nele participam são tão manipuladas como manipuladoras. Muitas vezes, os que manipulam fazem-no tanto melhor quanto mais manipulados são e quanto mais inconscientes estão desse facto…
(…)
A televisão tem uma espécie de monopólio de facto sobre a formação dos cérebros de uma parte muito importante da população
(…)
E, quem conta um conto acrescenta um ponto, a televisão, que pretende ser um instrumento de registo, torna-se instrumento de criação de realidade. Encaminhamo-nos cada vez mais para universos em que o mundo social é descrito-prescrito pela televisão, em que esta se transforma no árbitro do acesso à existência social e política
(…)
Uma das paradas das lutas políticas, à escala das trocas quotidianas ou à escala global, é a capacidade de impor um princípio de visão do mundo, uns óculos que façam com que as pessoas vejam o mundo segundo certas divisões (os jovens e os velhos, os estrangeiros e os Franceses)…
(…)
As escolhas que se operam na televisão são de certo modo escolhas sem sujeito(…) o facto dos jornalistas que, de resto, têm muitas propriedades comuns, de condição, mas também de formação e de origem, se lerem uns aos outros, se verem uns aos outros, se encontrarem constantemente uns com os outros em debates onde aparecem sempre os mesmos, tem o efeito de encerramento e, não devemos hesitar em dizê-lo, de censura tão eficazes – mais eficazes até porque o seu princípio é mais invisível – como os de uma burocracia central, uma intervenção política expressa.
(…)
Se nos perguntarmos, pergunta que poderá parecer um tanto ingénua, como são informadas as pessoas que estão encarregadas de nos informar, veremos que, de um modo geral, são informadas por outros informadores…
(…)
Não podemos representar o meio como se fosse homogéneo: há a arraia-miúda, jovens, subversivos, gente que parte a louça, lutando desesperadamente por introduzir pequenas diferenças na imensa sopa homogénea imposta pelo círculo (vicioso) da informação que circula de maneira circular entre as pessoas que têm em comum – não o devemos esquecer –a mesma submissão às coacções dos níveis de audiência, enquanto os quadros não passam, pelo seu lado, do braço dos mesmos níveis de audiências. (…) Há actualmente uma «mentalidade de níveis de audiência» (…), hoje, cada vez mais, o mercado é reconhecido como instância legítima de legitimação.
(…)
Um dos problemas maiores que a televisão põe é a questão das relações entre o pensamento e a rapidez? A televisão, dando a palavra a pensadores que se considera pensarem a velocidade acelerada, não se condenará a nunca ter mais do que fast-thinkers, pensadores que pensam mais depressa do que a sua própria sombra? (…) A resposta é que pensam por «ideias feitas». As «ideias feitas» de que fala Flaubert são ideias aceites por toda a gente, banais, conformes, comuns, mas são também ideias que, quando as recebemos, já as tínhamos recebido, de tal maneira que o problema da recuperação não chega a pôr-se (…) Quando emitimos uma «ideia feita» é como se não faltasse fazer nada; o problema está resolvido. A comunicação é instantânea, porque, em certo sentido, não existe. Ou é apenas aparente. A troca e lugares-comuns é uma comunicação sem outro conteúdo para lá do próprio facto da comunicação. Os lugares-comuns que desempenham um papel enorme na conversação quotidiana têm a virtude de toda a gente os poder aceitar e aceitar imediatamente: pela sua banalidade, são comuns ao emissor e ao receptor. No pólo oposto, o pensamento é, por definição, subversivo: tem de começar por desmontar as «ideias feitas» e tem de passar em seguida a demonstrar. Quando Descartes fala de demonstração, fala de longos encadeamentos de razões. É uma coisa que leva tempo, é necessário desenrolar um série de proposições encadeadas (…) Se a televisão privilegia um certo número de fast-thinkers que propõem fast-food cultural, alimentos culturais predigeridos, prepensados, não é só porque ( e isso também faz parte da submissão à urgência) tem a sua agenda de contactos que é, de resto, sempre a mesma …
(…)
Há, em primeiro lugar, os debates verdadeiramente falsos, que reconhecemos imediatamente pelo que são (…vemos logo que são compadres(…) Há também debates aparentemente verdadeiros, falsamente verdadeiros…


Excertos do livro de « Sur la television» de Pierre Bourdieu
(tradução portuguesa na editora Celta, com tradução de Miguel Serras Pereira)

Duas concepções opostas sobre a Natureza


Concepção dominante = é necessário dominar a natureza
Concepção ecológica = é necessário viver em harmonia com a natureza


Concepção dominante = modelo de desenvolvimento baseado no crescimento económico/material a fim de satisfazer o crescimento da população
Concepção ecológica = modelo económico baseado na satisfação das necessidades materiais simples da população e que se ligam ao objectivo da sua autorealização


Concepção dominante = crença que os recursos são inesgotáveis
Concepção ecológica = noção de que os bens são finitos


Concepção dominante = Progresso e soluções de carácter exclusivamente tecnológico
Concepção ecológica = Tecnologia adequada, e conhecimento científico não-dominante


Concepção dominante = Consumismo
Concepção ecológica = Produzir o suficiente, reciclar

As novas tendências do desespero



Tal como a diatribe é mais literária que o panegírico, assim também o desespero é uma fonte inesgotável de inspiração para o texto que não seja uma simples prosa de escriba mais ou menos inspirado. Acontece que o tempo passa e marca como um ferrete o desespero humano. Ignorá-lo é render-se ao platonismo essencialista dos cultores da metafísica em busca de uma mais que duvidosa quinta-essência. Do outro lado encontramos os determinismos de matizes várias que tudo tentam reduzir a equações causais e estatísticas sem valorar em devida conta o vitalismo que (des)organiza toda a matéria e alimenta o complexo de processos por que passa a vida errante dos elementos.
O desespero é irredutível e insolúvel. Em escalas diferentes, é certo, mas sempre presente no infra como no sobre-humano, na história como na actualidade, em mim tanto como no outro. O que distingue o homem das outras espécies é, segundo Edgar Morin, a consciência da morte, que alimenta, aliás, os seus medos e fantasmas, e dos quais procura esconjurar por múltiplas maneiras (Arte, Religião, etc). Poder-se-á dizer que historicamente a Humanidade atravessou diferentes formas de medo: do pânico (que exigia o correspondente heroísmo), num primeiro momento, evoluiu para a ansiedade e a angústia ( face à redescoberta da solidão humana após a morte de Deus) até desaguar na inquietação actual face às forças tecnológicas que o próprio homem pôs em marcha, não obstante toda a programação e integração dos riscos. No fundo, o medo não procede da vida instintiva e animal, mas é antes um produto do imaginário, uma ideia da morte que cada cultura e cada indivíduo transporta em si mesmo.
No mundo antigo era impossível escapar ao desespero de origem teológica. O quotidiano estava saturado do elemento divino. O próprio imaginário não prescindia também dessa copiosa fonte. As sociedades organizavam-se em função do transcendental e os seus membros viviam os seus desesperos em função dessa misteriosa força que detinha esse estranho poder de dar como retirar a vida. O poder opressivo do deus castigador lançava definitivamente o desespero para os braços escatalógicos da religião. O taoísmo representou talvez uma das poucas excepções a essa tendência, e a Tragédia clássica uma das suas mais belas ilustrações.
A civilização medieval mais não fez que reforçar o desespero humano ao submergir o homem no mundo insondável da Cidade de Deus. . O Carpe Diem rabelaisiano era precisamente uma tentativa de fugir a esse apocalipse dantesco. E não tardou muito a que se tenha acrescentado uma nota de crueldade desumana à herança antiga ao entregar a tutela das penas divinas à Instituição clerical que não hesitou em montar, ao seu serviço, toda uma fria parafernália inquisitorial. As heresias assim como as utopias milenaristas e literárias eram assomos de um desespero incontido que pagavam caro a sua recusa.
O individualismo romântico mudou radicalmente o sentido faustico da existência humana. Esta passou a traduzir-se numa multiplicidade de possibilidades, numa liberdade imanente que escondia uma real angústia face ao vazio. O desespero traduzia este desencantamento do mundo e a consciência de estarmos condenados à solidão. As várias cores e matizes em que se expôs não alteram em nada aquele registo.
A lucidez do pessimismo reaccionário de Schopenhauer ( que exerceu tanta influência em autores tão variados, desde Strindberg, até Beckett, passando por Wagner, Thomas Mann, Kafka, Pirandello, Borges) leva-o a confessar que « a vida oscila, como um pêndulo de relógio, entre o sofrimento e o aborrecimento» e não hesita mesmo a escrever que « a vida de cada um de nós, no seu conjunto, é uma verdadeira tragédia». Baudelaire fala, por sua vez, de “une désespérance voisine de l’anéantissement”, e os filósofos da suspeita ( Marx, Nietsche, Freud) mais não fazem que corroborar a profundeza da dúvida e da incerteza. E d aí em diante há que não nos iludirmos: quanto mais vemos, mais cegos ficamos.
Montherlant ao dar-se conta que estava em vias de cegar, suicida-se («Je deviens aveigle, je me tue»), e com ele uma longa lista de suicidados literários impregna a modernidade social, quais epígonos da morte e do sofrimento desesperado de que é feita a barbárie civilizacional. Mas o caso de Pavese é ainda mais flagrante: a ascenção do fascismo italiano bloqueia totalmente a existência e faz da morte o seu projecto de vida. Primo Levi nunca mais recuperou da sua experiência concentracionária. E Mishima prefere já- e sintomaticamente - a morte como espectáculo.
Apesar das fenomenologias, das hermenêuticas, das retóricas, das teorias de comunicação, a verdade é que um tal paradoxo da cegueira num mundo mediatizado não mais largou a contemporaneidade massificada em que passamos a viver. Acontece que neste planeta de símios a hipersocialização a que a massa está submetida gera contraditoriamente cada vez mais exclusão social! O desespero ganha outros cambiantes. A atomização é acompanhada por um controle social em larga escala, panóptico. A unidimensionalidade de Marcuse e a aldeia global de McLuhan são porventura hoje as metáforas-mundo mais fortes. Baudrillard refere-se a um universo em que há cada vez mais informação e menos significado. E não faltam tentativas para explicar o desespero do homem actual a cargos de ensaístas cotados na bolsa inflacionada da academia . Submergida por uma enxurrada de sinais exteriores e de simbolismos imagéticos , que não domina nem consegue inteiramente decifrar , a vontade humana desespera.
Escritores tão diversos como William S. Burroughs, Don Delillo, Norman Mailer, Pynchon, etc – só para citar os que nasceram nas entranhas do Império Americano - não se cansam de povoar as suas obras de personagens assustadas com o modo como as grandes organizações – não identificáveis, mas com poderes extraordinários e objectivos inconfessáveis - estariam a controlar as suas vidas, influenciando as suas acções e construindo os seus desejos. A teoria da conspiração, tão poderosa na não menos poderosa América do século XX e XXI, e que tem servido de álibi para todos os acontecimentos da vida americana, representa bem o estranho ambiente de desespero em que o massificado homem comum vive no mundo pós-industrial das sociedades do capitalismo avançado. Justamente por as teorias de conspiração não poderem ser confirmadas é que a. paranóia conspirativa cumpre integralmente a sua função. E a sua proliferação e aceitação é tanto mais convincente quanto coincide justamente com o quase, ou mesmo total, desaparecimento dos grandes esquemas explicativos que, apesar de se digladiarem, orientavam até agora a História
. A teoria da conspiração, a paranóia e a ansiedade colectiva das massas ganham hoje novos desenvolvimentos com as chamadas tecnociências, o terrorismo, o fundamentalismo, as nanotecnologias, as mudanças climáticas, a bomba demográfica e o esgotamento de recursos, tudo isto numa Natureza repasteurizada e urbanizada. As actuais sociedades do risco e a multiplicação dos seus riscos ( riscos alimentares, tecnológicos,e profissionais,...) - expressão tão cara aos sociólogos de serviço que desempenham hoje impecavelmente o histriónico papel de Pangloss - obrigam à introdução de princípios como o da precaução e gestão controlada dos riscos, sem, no entanto, minorar nem eliminar a consciência colectiva do medo iminente. Ao mesmo tempo ensaia-se a fabricação do sobre-humano, através da engenharia genética e respectiva parentela, e que levou o filósofo alemão Peter Sloterdijk, num texto polémico, a falar a este propósito da «ganadaria genética» dos humanos, o anarquista primitivista John Zerzan a lançar violentas críticas ao american way of life que se pretende globalizar, e o lobby psy a comprazer-se ( e, já agora, a enriquecer) com toda este mal-estar, a que não falta até um catálogo de apocalipses possíveis, produto de rendosos estudos de futurologia prospectiva.
A literatura não faltou à chamada e a ficção científica acaba por aproveitar o filão. O movimento cyberpunk, ilustra abundantemente alguns dos aspectos inquietantes dos desenvolvimentos tecnológicos e esboça os traços dos futuros cyberbodys.
Mas parece-nos ser noutro lado que o desespero ainda se aloja e se refugia. É no indíviduo cerceado, televigiado, manipulado, perdido , representado na figura emblemático do homem sem qualidades. Naquele indivíduo que – cúmulo irreal da história - para ser aceite socialmente, aceita passivamente ser excluído do mundo dos vivos. Metaforicamente, bem entendido.

Autor – AAS

Texto publicado no nº 1 da revista a Voz de Deus, editada pelas Edições Mortas