7.12.05

No discurso de aceitação do Nobel, Harold Pinter pede que Blair vá a tribunal por crimes de guerra


No discurso que vai ser lido na cerimónia de entrega do Prémio no próximo Sábado, o escritor inglês Harold Pinter, Nobel de Literatura de 2005, pede com muita firmeza que o Primeiro-ministro inglês Tony Blair compareça no tribunal por crimes de guerra .

Ao longo das 5.000 palavras que compõem aquele discurso de aceitação, o dramaturgo britânico critica também ferozmente o governo norte-americano pelas prisões de Guantanamo e também a desestabilização que os norte-americanos desencadearam na Nicarágua nos anos de 1980.
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Todavia, reserva as suas críticas mais cerradas para o Reino Unido pela sua atitude «patética» de apoio aos Estados Unidos.

O corajoso escritor, indefectível activista anti-militarista, chega mesmo a declarar textualmente: «A invasão do Iraque foi um acto de bandidos, um acto de terrorismo de Estado, demonstrando a mais completa indiferença para com a lei internacional».
E acrescenta: « A invasão foi uma acção militar arbitrária, baseada nma série de mentiras e de grosseiras manipulações dos media e da opinião pública…um claro exemplo da responsabilidade da força militar pela morte e mutilação de milhares e milhares de pessoas inocentes»

Harold Pinter, de 75 anos, não poderá estar presente na cerimónia de entrega do Prémio Nobel de Literatura pela Academia Sueca em Estocolmo por causa do seu frágil estado de saúde, pelo que será substituído pelo seu editor. No entanto, o autor de «The Caretaker» e «The BorthdayParty» gravou o discurso num vídeo que será retransmitido naquela cerimónia.
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"How many people do you have to kill before you qualify to be described as a mass murderer and a war criminal? One hundred thousand? More than enough, I would have thought,"
(«Quantas pessoas terão de ser mortas antes daqueles políticos serem qualificados de assassinos de massa e de criminosos de guerra? Cem mil pessoas?»)
interroga-se o escritor a dado passo no discurso gravado.
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"Therefore it is just that Bush and Blair be arraigned before the international criminal court of justice. But Bush has been clever. He has not ratified the international criminal court of justice ...
But Tony Blair has ratified the court and is therefore available for prosecution. We can let the court have his address if they're interested: it is Number 10, Downing Street, London."
(«A justiça exige que Bush e Blair sejam presentes ao Tribunal Penal Internacional. Bush foi, no entanto, mais esperto ao não ter ratificado o tratado que institui aquele tribunal internacional. Mas o governo Blair ratificou, pelo que pode objecto de acusação. Podemos enviar ao Tribunal, desde já, o seu endereço se assim estiver interessado: é o nº 10 de Downing Street, London »)

Não à biometria ( por Giorgio Agamben)


(em apoio aos estudantes inculpados por terem destruído, no passado mês de Novembro, os dispositivos de biometria instalados no seu liceu, o filósofo Giorgio Agamben publicou no jornal Le Monde de 6 de Dezembro o texto que se segue, devidamente traduzido para português)

Quando no fim do século XIX, Galion começou as suas pesquisas sobre as impressões digitais na Inglaterra, e Bertllon, na França, inventou a fotografia judiciária para a identificação antropométrica ( termo da época), tais procedimentos estavam reservados exclusivamente para os criminosos reincidentes.
Hoje em dia perfila-se uma sociedade em que se propões aplicar a todos os indivíduos dispositivos que estavam, até ao momento, destinados aos delinquentes. Segundo um projecto que está em vias de ser aprovado a relação normal do Estado para com aqueles que Rousseau chamava os «membros do soberano» será a biometria, ou seja, a suspeita generalizada.
À medida que os indivíduos, sob a pressão da crescente despolitização das sociedades pós-industriais, se abstém de toda a participação política, cada vez mais são tratados como virtuais criminosos. O corpo político torna-se assim um corpo criminal.
Os perigos de uma tal situação são evidentes para todos salvo para aqueles que se recusam de ver. Já não bastou que as fotografias retiradas dos bilhetes de identidade e das cartas profissionais tivessem permitido às polícias nazis, dos países ocupados, identificar e registar os judeus e enviá-los para a deportação. O que é que se vai passar no dia em que um poder despótico disponha do registo biométrico de toda uma população?
Ora isto é tanto mais inquietante quanto os países europeus, depois de terem imposto o controle biométrico aos imigrantes, aprestam-se agora a impô-lo a todos os seus cidadãos. As razões securitárias invocadas a favor destas práticas odientas não se mostram convincentes pois que, se podem contribuir para impedir a reincidência, elas mostram-se inúteis para prevenir o primeiro delito ou um acto de terrorismo. Em contrapartida, ela são perfeitamente eficazes para o controle massivo dos indivíduos. No dia em que o controle biométrico seja generalizado e em que a videovigilância seja instalada em todas as ruas, toda a crítica e toda a dissidência serão impossíveis.
Os jovens estudantes que destruíram no passado dia 17 de Novembro os dispositivos biométricos na cantina do liceu de Gif-sur-Yvette mostraram, antes do mais, que se preocuparam bem mais com as liberdades públicas e a democracia do que aqueles que aceitaram e consentiram na instalação daqueles dispositivos.
Exprimo toda a minha solidariedade aos estudantes franceses e declaro publicamente que recusarei sujeitar-me a todo o controle biométrico e que, por isso, estou pronto a renunciar ao meu passaporte bem como de todo o documento de identificação

Revista Utopia; já saiu o nº 20 com um dossier sobre Artes & Anarquia


Já se encontra em distribuição o último número (nº 20) da revista Utopia, « revista anarquista de cultura e intervenção», editada pela Associação Cultural A Vida.
Além de um óptimo aspecto gráfico é de salientar o dossier «Artes & Anarquia», que ocupa grande parte do seu conteúdo, e que inclui textos sobre Teatro Anarquista, Os anarquistas no imaginário cinematográfico, e ainda sobre a arte e a sensibilidade anarquista. De destacar ainda um texto de Maria Luísa Malato Borralho intitulado «Não há Utopias Portuguesas?».
Refira-se que na contracapa da revista aparece uma citação do poeta António Maria Lisboa: » A Anarquia e a Poesia são uma obra de séculos e irrompe espontaneamente ou não irrompe» ( António Maria Lisboa, Abril de 1950)
Os pontos de distribuição da revista são os habituais, entre os quais se conta a Livraria Utopia, na Rua da Regeneração, 22, na cidade do Porto

Mais info:
www.utopia.pt

Transformar o mundo e Mudar a vida


«Transformar o mundo», disse Marx;
«mudar a vida», disse Rimbaud:
estas duas palavras de ordem são, para nós, uma só.

André Breton, in Discurso ao Congresso dos escritores, 1935