30.11.07

Hoje é a greve da Função Pública mais politizada de sempre contra um governo de só-cretinos

A greve dos funcionários públicos marcada para hoje, é, de longe, a greve mais politizada de sempre. Não se trata apenas de defender direitos adquiridos ao longo dos anos, mas também de manifestar repúdio contra um governo xuxialista liderado por um indivíduo que tenta passar por ser aquilo que não é, um mentiroso crónico, um ex-PSD/PPD, que tomado pelo brio de querer ser um bom aluno- que nunca o foi no seu tempo de escola - não olha a meios para mostrar trabalho feito à União Europeia, nem que para isso tenha de lançar dois terços da população portuguesa para a pobreza, mais ou menos remediada.

PESO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS NA POPULAÇÃO ACTIVA (Dados de 2004)
(Fonte EUROSTAT)

Suécia---------------- 33,3%
Dinamarca----------- 30,4%
Bélgica---------------- 28,8%
Reino Unido--------- 27,4%
Finlândia------------- 26,4%
Holanda-------------- 25,9%
França---------------- 24,6%
Alemanha------------ 24%
Hungria--------------- 22%
Eslováquia------------ 21,4%
Áustria---------------- 20,9%
Grécia---------------- 20,6%
Irlanda---------------- 20,6%
Polónia---------------- 19,8%
Itália------------------- 19,2%
República Checa--- 19,2%
PORTUGAL--------- 17,9%
Espanha-------------- 17,2%
Luxemburgo---------- 16%

Não há pois funcionários públicos a mais. Há sectores em falta e outros em excesso.

A reforma administrativa deverá começar por mudar o seguinte:

- Cada ministro deste e de outros governos tem, para seu serviço pessoal e sob as suas ordens directas, uma média de 136 pessoas (entre secretários e subsecretários de estado, chefes de gabinete, funcionários do gabinete, assessores, secretárias e motoristas) e 56 viaturas, apenas CINCO vezes mais que no resto da Europa.


Nestes dias, a ideia que mais uma vez a comunicação social vendeu à opinião pública, foi a da necessidade de 200 mil despedimentos na função pública.

Resulta que somos o 3º país da U.E. com menor percentagem de funcionários públicos na população activa.

Assim se informa e se faz política em Portugal.
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OS TRABALHADORES SÃO CADA VEZ MAIS EXPLORADOS


Pelos dados facultados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional - IEFP a um jornal, confirma-se que o tipo de oferta de emprego disponível nos centros de emprego, para os trabalhadores no desemprego é de um nível salarial baixíssimo.

De facto, sendo a média salarial oferecida nesses empregos de 516 euros, temos de concluir que para um grande número de empregos, o salário oferecido não será superior ao Salário Mínimo Nacional.
Estes dados mais uma vez confirmam que o emprego criado, continua, na sua maioria, a ser precário, mal pago e não qualificado. E mesmo as ofertas destinadas a dirigentes e quadros superiores, a média, segundo é dito pelo IEFP, é de 635 euros, o que demonstra a baixa oferta salarial que é proposta aos trabalhadores com maior qualificação.

O que é nos dado a observar, é que as empresas, entretanto, continuam apostar numa política de despedir os trabalhadores mais velhos e mais qualificados para os substituir por trabalhadores mais jovens mal pagos e sem direitos e onde não há nenhuma estabilidade. Na prática, o que se verifica é que o emprego tem cada vez menos qualidade.

A competitividade da economia tem assentado, essencialmente, no baixo custo de mão-de-obra e na forte exploração dos trabalhadores. Torna-se imperioso romper com este modelo, que é injusto e promove desigualdades sociais e é desastroso do ponto de vista económico e optar por um crescimento baseado na inovação, no investimento, nas qualificações e no respeito pelos direitos de quem trabalha

29.11.07

Alguns privilégios e mordomias da classe política que tem a lata de pedir sacríficíos aos portugueses para… equilibrar as contas do Estado!!!

É preciso continuar a pedir sacrifícios aos portugueses, dizem eles, os políticos, os demagogos, os jornalistas bajuladores…

Não há dinheiro, dizem...

Mas já agora, talvez seja bom verificar em que condições e nível de vida andam aqueles que pedem sacrifícios aos portugueses …

É isso que este texto pretende: abrir os olhos de todos para a hipocrisia dos nossos governantes, e mostrar quem são os responsáveis pelo estado a que chegou o país…


A)

Segundo a revista Focus (pág.25), a EDP conta com um novo assessor jurídico. Foi nomeado pelo ex-ministro António Mexia (actual presidente executivo da EDP) e vai ganhar cerca de EUR 10.000/mês

Quem é ele? Perguntam vocês...

Pensem um pouco... Mais um bocadinho...

Não era fácil:

- Pedro Santana Lopes (MAIS UM JOB)

B)

A opinião pública é fabricada por quem? Pela COMUNICAÇÃO SOCIAL.

E porque é preciso ter os jornalistas na mão.... O subsistema de saúde "dos fazedores de opinião" é INTOCÁVEL!!!

A Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas é dirigida por uma comissão administrativa cuja presidente é a mãe do ministro António Costa (PS) e do Director-Adjunto da Informação da SIC, Ricardo Costa.

Maria Antónia Palla Assis Santos - como não tem o "Costa", passa despercebida...

O Ministro José António Vieira da Silva (PS) declarou, em Maio último, que esta Caixa manteria o mesmo estatuto!

Isso inclui regalias e compensações muito superiores às vigentes na função pública (ADSE), SNS e os outros subsistemas de saúde.

C)

Manuel Queiró (CDS - “o braço direito do Algarve”, casado com a Celeste da Caixa Geral de Depósitos Cardona), do PP, era administrador da área de imobiliário (?) 8.000euros/mês.

A contratação de um administrador espanhol passou por serem-lhe (ao Manuel) oferecidos 15 anos de antiguidade (é o que receberá na hora da saída), pagamento da casa e do colégio dos filhos, entre outras regalias.

D)

Guido Albuquerque, cunhado de Morais Sarmento, foi sacado da ESSO para a GALP. Custo: 17 anos de antiguidade, ordenado de 17.400 euros e seguro de vida igual a 70 meses de ordenado.

E)

Um quadro superior da GALP, admitido em 2002, saiu com uma indemnização de 290.000 euros, em 2004. Tinha entrado na GALP pela mão de António Mexia (PSD) e saiu de lá para a REFER, quando Mexia passou a ser Ministro das Obras Públicas e Transportes.

F)

O filho de Miguel Horta e Costa (CDS-PPD), recém licenciado, entrou para lá com 28 anos e a receber, desde logo, 6600 euros mensais.

G)

Freitas do Amaral foi consultor da empresa, entre 2003 e 2005, por 6350 euros/mês, além de gabinete e seguro de vida no valor de 70 meses de ordenado.

H)

Ferreira do Amaral, presidente do Conselho de Administração. Um cargo não executivo (?) era remunerado de forma simbólica: 3.000 euros por mês, pelas presenças. Mas, pouco depois da nomeação, passou a receber PPRs no valor de 10.000 euros, o que dá um ordenado "simbólico" de 13.000 euros...


I)

Outros exemplos avulsos, ainda na GALP:

• Um engenheiro agrónomo que foi trabalhar para a área financeira a 10.000 euros por mês;
• A especialista em Finanças que foi para Marketing por 9800 euros/mês...
• Neste momento, o presidente da Comissão executiva ganha 30.000 euros e os vogais 17.500.
• Com os novos aumentos, Murteira Nabo passa de 15.000 para 20.000 euros mensais.
Assim, este dream team à moda de Portugal, pode dar cobertura a um bando de sanguessugas que não têm outro mérito senão o cartão de militante. Ou o pagamento de um qualquer favor político...

J)


Em Setembro de 2002 foi publicada na II Série do Diário da República a aposentação do Exmº. Senhor Juiz Desembargador Dr. José Manuel Branquinho de Oliveira Lobo, a quem foi atribuído o número de pensionista 438.881.
De facto, no dia 1 de Abril de 2002 o Dr. Branquinho Lobo havia sido sujeito a uma “Junta Médica” que, por força de uma doença do foro psiquiátrico, considerou a sua incapacidade para estar ao serviço do Estado, o que foi determinante para a sua passagem à aposentação.
O Dr. Branquinho Lobo passou a auferir uma pensão de aposentação no montante
de € 5.320,00.
Contudo, por resolução proferida no dia 30 de Julho de 2004, o Conselho de Ministros do Governo do Dr. Pedro Santana Lopes nomeou o Dr. Branquinho Lobo como Director Nacional da Polícia de Segurança Pública.
Desde então, o Dr. Branquinho Lobo acumula a sua pensão de aposentação por incapacidade com o vencimento de Director Nacional da P.S.P!!!!!


L)

ANíBAL CAVACO SILVA
Actualmente recebe três pensões pagas pelo Estado, distribuídas da seguinte forma:
- € 4.152,00 - Banco de Portugal.
- € 2.328,00 - Universidade Nova de Lisboa.
- € 2.876,00 - Por sido primeiro-ministro.
Podendo acumulá-las com o vencimento de P.R. !
Porque será que, o Expresso, o Público, o Independente, o Correio da Manhã e o Diário de Notícias, não abordaram este caso, mas trataram os outros conhecidos, elevando-os quase à categoria de escândalos, será que vão fazer o mesmo que fizeram com os outros??? Não será por coisas destas a falência da Segurança Social?


M)

Li, há semanas, numa pequena notícia do Expresso, que prescreveu uma dívida de 700.000 Euros, de IRS de António Carrapatoso, figura de proa da Telecel/Vodafone e destacado dirigente do PSD. Porque razão prescreveu esta dívida? Porque razão não se procedeu à cobrança coerciva, dado que o contribuinte em causa não tem, nem nunca teve, paradeiro desconhecido?
Aliás, António Carrapatoso nunca deixou de aparecer, com alguma frequência, nos écrans da televisão para entrevistas e comentários, onde sempre defendeu as virtudes do "sistema" em que vivemos e que nos é imposto (pudera!!!!!!). Esta dívida não pode prescrever porque se trata de dinheiro devido ao Estado, ou seja a TODOS NÓS.

N)

Os CTT pagaram 19 mil euros a Luís Felipe Scolari por uma palestra de 45 minutos, que teve como tema algo do tipo «Como fortalecer o espírito de grupo» no dia 14 de Janeiro de 2005, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, durante um Encontro dos Correios de Portugal.
A decoração custou mais de 430 mil euros e havia dois carros de luxo. A despesa efectivamente facturada entre 8 de Julho de 2002 e 31 de Maio de 2005, com a decoração do gabinete do presidente do Conselho da Administração dos CTT, Carlos Horta e Costa, bem como a sua sala de visitas e ainda das salas de visitas e refeições custou 430.691 euros. Carlos Horta e Costa teve à sua disposição, entre 2002 e 2005, um Jaguar S Type (a renda para o adquirir custou cerca de 50.758 euros) e um Mercedes Benz S320CDI (comprado em Abril de 2004 por 84 mil euros). Assim, o Relatório da Inspecção-Geral das Obras Públicas conclui haver «indícios de má gestão» e «falta de contenção de uma empresa que gere dinheiros públicos», pelo anterior Conselho de Administração que liderou os CTT entre 8 de Julho de 2002 e 31 de Maio de 2005.
É preciso lata...
É preciso lata...

O)

Sabe-se dia 27 no Público que a advogada Vera Sampaio foi contratada como assessora pelo membro do Governo Senhor Doutor Manuel Pedro Cunha da Silva Pereira, Ministro da Presidência.
Como a tarefa não é muito cansativa foi autorizada a continuar a dar aulas numa qualquer universidade privada onde ganha uns tostões para compor o salário e poder aspirar a ter uma vidinha um pouco mais desafogada.
O facto de ser filha do Senhor ex-presidente não teve nada a ver com este reconhecimento das suas capacidades, juro pela saúde do Engenheiro Sócrates.
Há famílias a quem a mão do Senhor toca com a sua graça. Ámen.
Neste caso soube-se há tempos que o filhote depois de se ter formado foi logo para consultor da Portugal Telecom, onde certamente porá toda a sua experiência ao serviço de todos nós.
Agora, como já ontem se disse, calhou a sorte à maninha e lá vai ela toda lampeira em part-time para o desgoverno, onde certamente porá toda a sua experiência ao serviço de todos nós.

P)

Com apenas 50 anos de idade e gozando de plena saúde, o socialista Vasco Franco, número 2 do PS na Câmara de Lisboa durante as presidências de Sampaio e de Soares, está já reformado com uma pensão de 3.035 euros, um valor bastante acima do seu vencimento como vereador. Foi aposentado como técnico superior de 1ª classe – apesar de as suas habilitações literárias serem equivalentes ao 9º ano.
Entrou para o Ministério da Administração Interna em 1972 e dos 30 anos passados só ali cumpriu sete de dedicação exclusiva; três foram para o serviço militar e os restantes 20 na vereação da Câmara de Lisboa, doze dos quais a tempo inteiro. Vasco Franco diz que a lei o autoriza a contar a dobrar 10 dos 12 anos como vereador a tempo inteiro: triplicar o salário.
Já depois de ter entregue o pedido de reforma, Vasco Franco foi convidado para administrador da Sanest (uma sociedade de capitais públicos), com um ordenado líquido de 4000 euros mensais. Foi convidado pelo presidente da Câmara da Amadora, cuja mulher é secretária de Vasco Franco na Câmara de Lisboa.
A acumulação de vencimentos foi autorizada mas o salário de administrador é reduzido em 50% – para 2000 euros – a partir de Julho, mês em que se inicia a reforma, disse ao EXPRESSO Vasco Franco.
A somar aos mais de 5000 euros da reforma e do lugar de administrador, Vasco Franco recebe ainda mais 900 euros de outra reforma, por ter sido ferido em combate (!?) em Moçambique já depois do 25 de Abril (????????) e cerca de 250 euros em senhas de presença pela actuação como vereador sem pelouro.
Contas feitas, o novo reformado triplicou o salário que auferia no activo, ganhando agora mais de 1200 contos limpos. Além de carro, motorista, secretária, assessores e telemóvel.

Q)

Nem tudo vai mal nesta nossa República (Pelo menos para alguns!) Com as eleições legislativas de 20/Fevereiro, metade dos 230 deputados não foram eleitos. Os que saíram regressaram às suas anteriores actividades sem, contudo saírem tristes ou cabisbaixos. Quando terminam as funções, os deputados e governantes têm o direito, por Lei (deles) a um subsídio que dizem de reintegração (coitados, tem de voltar para esta selva que é a luta pelo pão de cada dia nos seus antigos lugares de administração ou de profissionais liberais tão mal pagos, como sabemos):
Um mês de salário (3.449 euros) por cada seis meses de Assembleia ou governo.
Desta maneira um deputado que o tenha sido durante um ano recebe dois salários (6.898 euros). Se o tiver sido durante 10 anos, recebe vinte salários (68.980 euros). Feitas as contas e os deputados que saíram, o Erário Público desembolsou mais de 2.500.000 euros!
No entanto, há ainda aqueles que têm direito a subvenções vitalícias ou pensões de reforma (mesmo que não tenham 60 anos!). Estas são atribuídas aos titulares de cargos políticos com mais de 12 anos.
(Segue Lista)
Entre os ilustres reformados do Parlamento encontramos figuras como:
Almeida Santos........................ 4.400, euros;
Medeiros Ferreira..................... 2.800, euros;
Manuela Aguiar......................... 2.800, euros;
Pedro Roseta............................ 2.800, euros;
Helena Roseta........................... 2.800, euros;
Narana Coissoró . .................... 2.800, euros;
Álvaro Barreto........................... 3.500, euros;
Vieira de Castro..........................2.800, euros;
Leonor Beleza . ........................ 2.200, euros;
Isabel Castro............................. 2.200, euros;
José Leitão................................ 2.400, euros;
Artur Penedos............................1.800, euros;
Bagão Félix............................... 1.800, euros.

(Vêem? Tadinhos destes "desconhecidos",
que se não fosse esta esmola estavam a comer na Mitra)
Quanto aos ilustres reintegrados , encontramos os seguintes:
Luís Filipe Pereira 26.890, euros / 9 anos de serviço;
Sónia Fortuzinhos 62.000, euros / 9 anos e meio de serviço;
Maria Santos 62.000, euros /9 anos de serviço;
Paulo Pedroso 48.000, euros / 7 anos e meio de serviço(e ainda vamos ver se não vai receber indemnizações pelo processo Casa Pia);
David Justino 38.000, euros / 5 anos e meio de serviço;
Ana Benavente 62.000 , euros / 9 anos de serviço;
M.ª Carmo Romão 62.000, euros / 9 anos de serviço;
Luís Nobre Guedes 62.000 , euros / 9 anos e meio de serviço.

A maioria dos outros deputados que não regressaram estiveram lá somente na última legislatura, isto é, 3 anos, o suficiente para terem recebido cerca de 20.000 euros cada !


R)
Vítor Constâncio governador do Banco de Portugalganha 272.628 € por ano, ou seja quase 3.894 contos MENSAIS, 14 meses/ano.
Outros ordenados chorudos do Banco de Portugal :
O Vice-governador, António Pereira Marta - 244.174 €/ano
O Vice-governador, José Martins de Matos - 237.198 €/ano
José Silveira Godinho - 273.700 €/ano
Vítor Rodrigues Pessoa - 276.983 €/ano
Manuel Ramos Sebastião - 227.233 €/ano
O Vice-governador, António Pereira Marta até acumula com o seu salário com a sua pensão como reformado … do Banco de Portugal.
Aliás, o Vítor Rodrigues Pessoa, também tem uma reforma adicional de 39.101 €/anoTotal 316.084 €/ano
e o José Silveira Godinho também acumula com uma pensão do BP, mais 139.550 €/ano
Total 413.250 €/ano



S)
Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças recebeu durante os dois meses em que esteve no Executivo 4600 euros mensais de ordenado e uma reforma de 8.000 euros do Banco de Portugal.



T)
Mira Amaral saiu da Caixa Geral de Depósitos (CGD) com uma reforma de gestor 18.000 euros.
Na altura acumulava uma pensão de 1,8 mil euros, como deputado e 16.000 euros como líder executivo da CGD.
O que me choca não é o valor da reforma. É o facto de Mira Amaral poder auferir desta reforma - paga pelos contribuintes - ao fim de apenas um ano e nove meses!!!!!!



É ESTA A CLASSE POLÍTICA QUE TEM A LATA DE PEDIR SACRIFÍCIOS AOS PORTUGUESES PARA DEBELAR A CRISE!!!!!!

Fonte: aqui

Greve geral de toda a Administração Pública - 30 de Novembro

O direito à Greve está consagrado na Constituição da República Portuguesa (Artigo 57.º) e traduz-se como uma garantia, competindo ao trabalhador a definição do âmbito de interesses a defender através do recurso à Greve. Mais se acrescenta na Constituição da República: a lei não pode limitar este direito!

A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública convocou para o próximo dia 30 de Novembro, uma greve geral e nacional de trabalhadores da Administração Pública, para exigir melhores salários, uma verdadeira negociação das condições de trabalho e contrariar a destruição dos Serviços Públicos.



Deste modo, a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública e os Sindicatos da Função Pública do Norte, do Centro, do Sul e Açores e dos Consulados e Missões Diplomáticas iniciaram já o processo de mobilização dos trabalhadores que representam para a participação nesta nova jornada de luta.



Numa altura em que o Governo se mostra intransigente no que toca aos aumentos salariais, tentando impôr percentagens que confirmam a perda de poder de compra já registada em anos anteriores; numa altura em que se perspectiva a entrada em vigor de um novo sistema de avaliação de desempenho que é apenas e só um instrumento de coacção dos trabalhadores; numa altura em que se prepara a destruição do vínculo público e dos sistemas de carreiras e de remunerações, a luta dos trabalhadores da Administração Pública é determinante.


Sons em Trânsito - Festival de músicas do Mundo em Aveiro (28 Nov. a 1 de Dez.)

Programa no Teatro Aveirense

28 NOV 21:30 /
Fanfare Ciocarlia - Queens and Kings (Roménia)

29 NOV 21:30 /
Deolinda (Portugal)


29 NOV 23:00 /
Sérgio Godinho (Portugal)


30 NOV 21:30 /
Tcheka (Cabo Verde)


30 NOV 23:00 /
Jane Birkin (Inglaterra)


1 DEZ 21:30 /
Gonzales (Canadá)


1 DEZ 23:00 /
Vinicio Capossela (Itália)

http://www.set.com.pt/scid/set07/
www.sonsemtransito.com/scid/set/default_f.asp

As lendas históricas portuguesas nas jornadas do Centro de tradições populares portuguesas

6ª JORNADA DO CENTRO de TRADIÇÕES POPULARES PORTUGUESAS

Histórias de Valentia, Milagres e Prodígios:
as lendas históricas portuguesas


5ª feira, 29 de Novembro de 2007

(a partir das 09.30 horas)
Anfiteatro III,
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

www.fl.ul.pt/unidades/centros/ctp/jornadas/6jornada_programa.pdf


O Centro de Tradições Populares Portuguesas organiza desde 2002 uma Jornada temática anual com o objectivo de apresentar resultados de investigação, promover o debate com investigadores nacionais e estrangeiros e divulgar as actividades do Centro ao público em geral

Programa

9. 30 Abertura

10.00 - As lendas históricas – a construção de uma história paralela
Moderador – João David Pinto-Correia
Alexandre Parafita Quem são os mouros das lendas?
Maria de Lourdes Cidraes Quando os Santos desciam a combater
Vanda Anastácio Os papéis da Restauração
Vitor Serrão Lendas e prodígios na pintura barroca
Carla Covas “Essa mulher lá do Minho, / Que da fouce fez espada…” – Maria da
Fonte uma heroína lendária

Debate

Intervalo

14.30 - Lendas históricas e lendas modernas: memória, transmissão, reinvenção
Moderador – Maria de Lourdes Cidraes
Rui Mário Gonçalves Representações de lendas e de factos históricos na pintura moderna
Ernesto Rodrigues Dona Chama – pluralidade e ficção
Alexandre Parafita Património Imaterial do Alto Douro: importância das lendas no
conhecimento e afirmação da identidade
Fernanda Frazão A lenda e a teoria da continuidade paleolítica

Debate

Intervalo

16.30- Lendas históricas e lendas modernas: memória, transmissão, reinvenção
(continuação)
Moderador – Francisco Melo Ferreira
Aires Nascimento Judas em representações menores
Maria Aliete Galhoz Nª Sª do Cabo – lenda e ritual num círio de uma freguesia saloia
José Joaquim Dias
Marques Lendas modernas?
Alberto Carvalho Acerca do maravilhoso caboverdiano

Debate

18.15 Lançamento da Revista Lusitana (Nova Série) nº 22-24
Apresentação de João David Pinto-Correia

O índice de Desenvolvimento humano de Portugal desceu entre 2000 e 2005

O índice de desenvolvimento humano de Portugal desceu entre 2000 e 2005, o que acontece pela primeira vez desde 1975. Portugal foi mesmo o único país da União Europeia e do conjunto da Europa onde esta tendência se registou nesse período, de acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2007-2008, divulgado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Nesta lista ordenada (“ranking”), que abrange 177 países, houve 14 países cujo índice desceu no mesmo período, mas nenhum outro dos classificados com desenvolvimento humano elevado (onde Portugal se encontra), que abrange os países com os 70 melhores resultados e tem o Brasil a encerrar o grupo.

Entre os 13 países que acompanharam Portugal nesta tendência estão sobretudo Estados africanos, como a África do Sul, o Zimbabwe e outros da região, ou ainda o Gana, o Quénia, o Togo e o Chade. Mas há também países como o Belize e a Papua-Nova Guiné. Estão sobretudo no grupo dos classificados como tendo desenvolvimento humano intermédio.

Portugal ficou na 29 posição na lista hoje divulgada pelo PNUD, tendo descido uma posição face ao ano precedente. O valor do índice de desenvolvimento humano de Portugal foi de 0,897 em 2005, quando no ano 2000 tinha sido de 0,904.

Mas uma descida de posição poderia no entanto ter acontecido mesmo com uma eventual subida do índice, o que significava que a situação no país continuava a melhorar, mas a um ritmo inferior à daquele(s) que nos ultrapassava(m). Uma descida do valor do índice como a que agora se conhece revela à partida uma degradação das condições de vida médias da população.

Desde 1975, quando o valor do índice era de 0,793, a tendência tinha sido sempre de subida nos intervalos quinquenais até ao ano 2000 – 0,807 em 1980, 0,829 em 1985, 0,855 em 1990 e 0,904 no ano 2000.

O índice de desenvolvimento humano é calculado para cada país com base num conjunto de indicadores estatísticos nacionais, como a esperança de vida à nascença, os níveis de instrução e o rendimento por habitante
Fonte: jornal Público

Madrid amanheceu com 11 quilómetros de ciclovias pintadas à mão


Uma ciclovia de 11 Km apareceu pintada com linhas brancas no passado Domingo, ao longo das ruas mais centrais de Madrid, como forma de reivindicar a bicicleta como meio de transporte urbano mais sustentável e económico.

Segundo um porta-voz do colectivo BiciMad, que organizou a acção,bastou cerca de 100 pessoas para numa hora pintarem à mão a ciclovia nas ruas de Atocha, Colón y bulevares, até Princesa, Moncloa e Ciudad Universitaria, que se prolonga por mais de 22 quilómetros, ida e volta.

Na manhã de Domingo a acção teve seguimento com a colocação de placas informativas reivindicando a participação directa dos cidadãos na gestão sustentável da cidade.

Jornadas por um pensamento crítico (alegre e combativo) em Madrid



Novembro

27 nov -"¿Sistema educativo o educación para el sistema?"

“Una visión crítica de una pedagogía moldeada y diseñada para anular las potencialidades de las personas y asegurar la perpetuación del sistema”

29 Nov - "Salud mental y control social"

"Pinceladas sobre el papel represivo que la psiquiatrización masiva juega en nuestra sociedad, como elemento normalizador, y la violencia de sus métodos".


Dezembro


MARTES 4
"Roles sociales e identidad colectiva; la interiorización del capitalismo en la vida cotidiana"


"Charla-Debate sobre la interiorización del capitalismo en nuestra vida cotidiana. El cuestionamiento de los roles sociales como principio de partida para transformar la realidad."


MIERCOLES 5
“Gobernabilidad y explotación en la sociedad-fábrica"


"Reflexión sobre la trayectoria de los últimos años en el modelo de explotación-gobernabilidad capitalista, sobre los conceptos de trabajo y empleo, sobre las nuevas subjetividades frente a y en relación al trabajo y al empleo, siempre referido a las luchas y a las mutaciones del sistema frente a las luchas de los últimos años y de la actualidad"


MARTES 11
“Okupación: De la herramienta subversiva a la recuperación. De la lógica de la confrontación al militantismo.”

“La okupación; un potencial subversivo. Un acercamiento histórico, un análisis de las estrategias estatales y una visión de las consecuencias del enfrentamiento y la legalización. Una introducción al código penal. Un paseo por el vacío político de los espacios okupados; el militantismo y el ciudadanismo. Y un punto de vista para las perspectivas de futuro.”

MIERCOLES 12
“Patriarcado”


“Patriarcado, orígenes y manifestaciones en la actualidad. Acercamiento a la cuestión de género y a la constante represión de la mujer que creemos superada”

MARTES 18
"Formas de control social”


“Recorrido histórico que arranca desde los regímenes absolutistas, de los siglos XVII-XVIII, evoluciona hasta configurar los sistemas disciplinarios de los s.XIX-XX, y culmina en la formación de las sociedades de control, a partir a del último tercio del s.XX, hasta la actualidad.”

MIERCOLES 19
"Violencia estructural y perpetuación del sistema"


“Charla-debate en torno a la violencia estructural y su fundamental papel para el mantenimiento y perpetuación del sistema. Apuntes sobre las múltiples formas de la violencia y su evolución. Y por último un recorrido por la interiorización de la violencia estructural, su aceptación y su rechazo.”

TODAS LAS CHARLAS SERÁN A LAS 11:30

EN EL AULA SOCIAL AUTOGESTIONADA,

EN LA FACULTAD DE POLÍTICAS Y SOCÍOLOGIA DE LA UCM.


PARA LLEGAR; AUTOBUSES A (MONCLOA), H (ALUCHE), I (CIUDAD UNIVERSITARIA), Y METRO LIGERO LINEA 2.

28.11.07

A Tertúlia Liberdade organiza acção dos 200 anos de denúncia da escravatura


Nos dias 8 e 9 de Dezembro a Tertúlia Liberdade organiza na Livraria Ler Devagar (junto ao Poço do Bispo, em Lisboa) uma acção de denúncia da escravatura, uma condição a que ainda hoje estão sujeitos milhares de seres humanos.


200 anos de denúncia da escravatura (1807-2007)


8 e 9 de Dezembro
Livraria Ler Devagar
Poço do Bispo, Lisboa

Programa

Sábado, 8 de Dezembro

Das 18:00 às 20:00 - Comunicações de Paulo Guimarães, historiador (Portugal); Tereza Neves, historiadora (Cabo Verde); Zaluar Basílio, economista (Portugal); representante do jornal Gueto, dos bairros de africanos dos subúrbios de Lisboa; Sérgio Mesquita, historiador (Brasil); e Robert King (EUA)



Domingo, 9 de Dezembro

Das 18:00 às 19:30 - Projecção do filme «Quilombo» de Carlos Diegues

Das 19:30 às 21:30 - Jantar africano (inscrições : tertúlia.liberdade@yahoo.com )

A partir das 21:30

- Música com José Mário Branco, Naidy Barreto, Tino Flores, Cantadores da Rusga, Couple Coffee, Kova.M.Most e Kumpanhia Algazarra

- Poesia por Maria das Graças e Pedro Mota

- Capoeira (colaboração de mestre Chá Preto)

- Cinema (colaboração da Casa do Brasil)

- Exposição


ENTRADA LIVRE

Organização: Tertúlia da Liberdade
http://tertulialiberdade.blogspot.com/

Inscrições e contacto por e-mail:



Esta será a primeira iniciativa da Tertúlia Liberdade. Faz agora dois séculos que foi promulgado um decreto na Câmara dos Lordes inglesa, em que se abolia o tráfico de escravos.

Uma vez que Portugal foi um dos principais fomentadores do comércio de escravos, considerámos que esta data não deve ser ignorada, como tudo indica os diversos (i)responsáveis se preparam coerentemente com os seus interesses e dependências para fazer. Entendemos também que o assinalar desta data não será uma festividade, mas sim uma denúncia.

Denúncia não só do passado, com o domínio do homem através da escravatura, mas também das novas formas de exploração salarial que muitas vezes, prolongam a dependência dos seres humanos, não já sob a degradada forma da posse das pessoas através da desumana sociedade esclavagista, mas num regime de exploração salarial que reduz os seres humanos a utensílios da valorização do capital.

O nosso foco incidirá particularmente sobre a escravatura passada, entretanto abolida, mas não deixará de referir as actuais formas de exploração, com o seu cortejo de diferenças sociais, precariedade, desemprego e utilização do ser humano, sem respeito pela sua dignidade e liberdade. Interessa-nos realçar as diferenças e pontos de contacto entre estas duas sociedades. Não se pode compreender o presente sem perceber o passado.

Será a partir da denúncia das actuais formas de exploração que poderemos basear a continuidade deste actividade. Projecto este que encontrará a razão de ser através da participação activa das comunidades imigrantes, das suas associações, que conhecem bem as novas formas de exploração. Será em conjunto com associações e as comunidades que fará sentido prosseguir com a actividade. Não queremos que este assinalar do 2º centenário do início da abolição da escravatura seja um acto isolado.

Queremos acentuar a tónica sobre a destruição das sociedades fornecedoras de escravos e a acumulação de capital daí resultante para os países esclavagistas e beneficiários desse hediondo comércio. Entendemos que a escravatura praticada ao longo de séculos configurou desigualdades sociais persistentes à escala portuguesa e mundial que constituem hoje, factor de graves injustiças sociais e focos de tensão social e política A escravatura passada ajuda-nos a perceber a evolução histórica até aos dia de hoje, em que se atingiram as formas mais elaboradas de exploração.





TERTÚLIA LIBERDADE - QUEM SOMOS

Breve e necessária apresentação da Tertúlia Liberdade.


Um grupo de pessoas amantes da liberdade, alguns dos quais aqui chegados cansados das maquinações de poder dos partidos políticos , decidiram juntar-se numa perspectiva de auto-organização para abordar em conjunto questões sociais, políticas e culturais e levar à prática as iniciativas que entendermos pertinentes em cada momento.

As actividades que iremos promover serão autogeridas e fomentarão a autonomia dos participantes, as suas capacidades e iniciativa. Cada membro, ou grupo participante, terá a sua autonomia.

Do nosso diálogo nasceu a primeira iniciativa. Outras se seguirão.


CONTACTA-NOS: tertulia.liberdade@yahoo.com


Oficina prática de produção local de sementes

A herdade do Freixo do Meio vai realizar, em conjunto com a Colher para Semear, no dia 1 de Dezembro de 2007 – sábado, uma Oficina Prática de Produção Local de Sementes.
A formação terá a orientação do José Miguel Fonseca.

A associação COLHER PARA SEMEAR fundamenta a sua existência na necessidade de preservar e incentivar o cultivo das variedades regionais e locais, demonstrando a todos a importância de perpetuar no futuro este legado ancestral.
No decurso desta oficina procurar-se-á demonstrar as vantagens de preservar as variedades tradicionais, promovendo a sustentabilidade dos produtores locais e fomentando a reflexão sobre algumas perspectivas económicas e sócio-culturais associadas ao cultivo destas variedades.
O programa desta oficina contempla aspectos relacionados com técnicas de cultivo, colheita e preservação das variedades tradicionais. São analisados os diferentes tipos de polinização e as estratégias para a manutenção da pureza varietal, tendo em atenção as características das variedades e as suas condicionantes botânicas. Os interessados em participar nesta iniciativa poderão ainda pôr em prática as técnicas de extracção de sementes pelos métodos húmido e seco. A finalizar serão abordados aspectos relacionados com a selecção e conservação das variedades cultivares.

Para mais informações e inscrições contactar o 266892452.

A formação irá desenrolar-se no período das 10h-13h e das 15h-17h, na Herdade do Freixo do Meio, Foros de Vale de Figueira, e o preço da inscrição é de 10€, para a formação e 15€ para o almoço (agradece-se a reserva prévia) a pagar no próprio dia em cheque ou dinheiro.

Workshop de Permacultura – 1 e 2 de Dezembro de 2007 – Ferreira do Alentejo


Workshop de Permacultura


1 e 2 de Dezembro de 2007


Ferreira do Alentejo – Centro Cultural Manuel da Fonseca


Sábado e Domingo das 10.00h. às 18.00 com almoço entre as 13.00h. e as 14.00h.


Inscrições (gratuitas) no Museu Municipal de Ferreira do Alentejo.


Na Esdime por telefone (284 650 000/932950028 –natàlia), por fax 284 655 274 ou por e-mail; natalia.tost@esdime.pt


Natàlia TostEsdime - Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste

Rua do Engenho,

107600 -337

Messejana

tel. 284 650 000

fax. 284 655 274

tm. 932 950 028

Sessão sobre a Palestina (no Museu República e Resistência, no dia 30 Novembro às 18h.30)




Dia 30 Novembro pelas 18:30h


sessão sobre a Palestina


na Biblioteca-Museu República e Resistência



Rua Alberto de Sousa, n.º 10A – Lisboa

(metro: Cidade Universitária)


com a participação da Sra. Embaixadora, José Saramago, etc.

A parte dos rendimentos dos trabalhadores no PIB da União Europeia tem caído continuamente nos últimos 30 anos

A percentagem dos salários no PIB da União Europeia caiu de 70% para 58% nos últimos 30 anos

Os trabalhadores europeus recebem um fatia cada vez menor da riqueza produzida nos países da União Europeia.
No Relatório agora divulgado sobre o mercado de trabalho na UE conclui-se que os rendimentos do trabalho atingiram em 2006 um mínimo histórico da ordem dos 58% do PIB da União Europeia, o que representa uma queda abrupta se considerarmos que em 1975 a quota parte da riqueza gerada pela actividade económica entregue aos trabalhadores era da ordem dos 70%.

Curiosamente o mesmo relatório informa que a diminuição da quota da riqueza entregue aos trabalhadores nas últimas 3 décadas não é um facto exclusivo da União Europeia, pois a mesma tendência se verifica nas economias desenvolvidas, como a do Japão e dos EUA.

Afirma-se ainda que a desvalorização dos rendimentos do trabalho se deve à globalização, à abertura dos mercados e aos avanços tecnológicos, uma vez que o investimento em capital se mostra mais rentável para as empresas, o que explica também que o ritmo de crescimento dos rendimentos das empresas tenha sido muito maior que o verificado para os rendimentos entregues aos trabalhadores.

A perda de peso dos rendimentos do trabalho em favor dos rendimentos do capital contribui para uma maior desigualdade e coloca em risco a coesão social, lê-se no relatório

Em Portugal o ano de 1975 marca o momento em que a percentagem dos rendimentos dos trabalhadores no conjunto do rendimento nacional foi maior, vindo a partir de então a descer continuadamente até atingir um mínimo histórico nos últimos anos.

Hoje há manifestação dos estudantes do ensino superior no Porto (14h na Pr Gomes Teixeira, aos Leões)

Estudantes do Porto do ensino superior manifestam-se esta quarta-feira por uma educação gratuita e de qualidade para todos

Um grupo de estudantes do ensino superior, críticos da actuação da Federação Académica do Porto (FAP), promove quarta-feira uma manifestação em defesa de uma educação pública gratuita e de qualidade para todos.

"Defendemos que a educação não é um negócio, é um direito", afirmou António Valpaços, um dos promotores da iniciativa, em declarações à Lusa.
Para este estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a manifestação, que terá lugar na Praça Gomes Teixeira, frente à Reitoria, pretende "mostrar o descontentamento" dos estudantes relativamente a várias questões.

O Processo de Bolonha é um dos alvos dos protestos, alegando António Valpaços, que este processo de equiparação de cursos do ensino superior na União Europeia "tem prejudicado muitos alunos".
Por outro lado, as críticas dos estudantes dirigem-se ao governo, questionando a criação de um sistema de empréstimos para os alunos do ensino superior, que consideram ser "uma forma do Estado se desresponsabilizar".
"Isto de ter que pedir um empréstimo para poder estudar, faz com que se comece a vida activa endividado. O Estado é que deveria assumir a responsabilidade destes custos", defendeu António Valpaços.
O aumento das propinas, a redução da participação dos estudantes nos órgãos de gestão das instituições do ensino superior e a destruição da acção social escolar são outras das críticas que vão ser apresentadas neste protesto.
A iniciativa realiza-se sem o envolvimento da Federação Académica do Porto, que os promotores do protesto consideram ter uma posição "muito passiva" em relação às questões que estão em causa.
"Há uma passividade clara da FAP em relação a estas questões. Não basta tomar posição pública, é preciso contactar os estudantes para lhes explicar o que está em causa", frisou António Valpaços.

27.11.07

Bicicletadas / Massas Críticas - Aveiro, Coimbra, Lisboa, Portimão e Porto - 30 de Novembro às 18h.

Aparece e traz amigas/os

· Aveiro - Início de encontro na Praça Melo Freitas (perto do Rossio) a partir das 18h, saída às 18h30.


· Coimbra - Concentração no Largo da Portagem, junto à estátua do Mata Frades.

· Lisboa - Concentração na Marquês Pombal, no início do Parque Eduardo VII.

· Portimão - Concentração na Fortaleza de Santa Catarina às 18:30.

· Porto - Concentração na Praça dos Leões.


Nesta Bicicletada / MC de Outono, poderá estar frio, chuva e escuro, aconselha-se que levem as bicicletas equipadas com luzes e reflectores, atrás e à frente, e também reflectores nas rodas. Levem também casacos quentinhos e impermeáveis, luvas, etc...




O uso da bicicleta na cidade




Bicicletas na cidade(reportagem da sic)






Miúdas e bicicletas em Copenhaga - ideias e fotos de:

http://copenhagengirlsonbikes.blogspot.com/

http://taborda.stumbleupon.com/

O cancioneiro de Estevam da Guarda pelo grupo La Batalla de Pedro Caldeira Cabral (hoje, no TMG)

O Cancioneiro de Estevam da Guarda
por LA BATALLA


TER 27 de NOVEMBRO • 21H30

COMEMORAÇÕES DO DIA DA CIDADE - 808 ANOS DA ATRIBUIÇÃO DO FORAL


TEATRO MUNICIPAL DA GUARDA

Entrada livre
[Mediante levantamento prévio do ingresso na bilheteira do TMG]

O grupo La Batalla, sob direcção de Pedro Caldeira Cabral, apresenta, em estreia absoluta, “O Cancioneiro de Estevam da Guarda”.
É a primeira vez nos tempos modernos que são interpretadas as Cantigas de Amigo, de Amor, de Escárnio e Maldizer de um dos últimos trovadores do círculo de D. Dinis.

Fundado e dirigido por Pedro Caldeira Cabral, o grupo La Batalla foi criado em 1984, inserindo-se então no projecto de animação cultural e reutilização funcional do Museu/Mosteiro de Santa Maria da Vitória na Batalha. Tem-se dedicado, desde o seu início, exclusivamente à interpretação de música medieval de carácter secular, com especial destaque para o repertório dos trovadores e jograis galaico-portugueses. Composto por músicos com formação e experiência em diversas áreas musicais, o grupo não pretende assumir o seu trabalho como uma reconstituição histórica, dada a escassez de informação musical específica sobre este período.



Estevam da Guarda

Sendo provavelmente natural da cidade da Guarda terá nascido por volta do ano de 1280, sendo já escrivão régio em 1299.

De acordo com estudos recentes do Professor Doutor Resende de Oliveira, poderá haver uma relação familiar entre o trovador e um tal Lourenço Esteves da Guarda, escrivão de D.Dinis e cevadeiro-mor em 1320.Ambos poderiam ser filhos de Estevam Rodrigues da Guarda, escudeiro, o qual doara bens que possuía na cidade da Guarda à Ordem do Hospital.

Estevam da Guarda ganhará importância a partir de 1314, tendo o seu nome substituído o do próprio rei em vários documentos .A partir dessa data o rei concedeu-lhe doações e benesses expressando a sua gratidão pelos bons serviços prestados, bem como pela lealdade e fidelidade com que o serviu.

Com o rei D.Afonso IV, após 1325, Estevam da Guarda é referido em documentos como conselheiro real.

Terá reunido consideravel fortuna, cuja gestão o afasta progressivamente da corte, tendo bens espalhados por Lisboa, Torres Vedras e Santarém.
Morre em 1364, sendo sepultado no Mosteiro de São Vicente de Fora , em Lisboa.

"O Cancioneiro de Estevam da Guarda" é apresentado pelo grupo La Batalla, sob a direcção de Pedro Caldeira Cabral, amanhã, dia 27 de Novembro (Dia de aniversário da cidade da Guarda), no TMG.

http://www.tmg.com.pt/



Pedro Caldeira Cabral


Feira Medieval com música de Pedro Caldeira Cabral

Filmes e conversas sobre transgénicos em Coimbra esta 5ª feira (29 de Nov.)

Aparece para veres alguns pequenos videos e conversar sobre transgénicos!

Esta Quinta-feira (dia 29) às 21h15

em Coimbra,
na República Prá-kys-tão
(R. Esteirinhas 2, 1º – à Sé Velha).

1ºs Encontros Ecológicos – Portalegre 2007

Integrados no seu Plano Anual de Actividades para 2007, o Núcleo Regional de Portalegre da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, vai organizar durante o mês de Dezembro os seus "1 os Encontros Ecológicos".

Com esta iniciativa pretende-se criar um espaço de reflexão e debate em torno de diversas temáticas ligadas ao Ambiente, procurando levar a todos os interessados, a opinião e o conhecimento dos oradores convidados para as diferentes sessões.

Esta primeira edição dos "Encontros Ecológicos" terá como pano de fundo a Serra de São Mamede, o seu enquadramento em termos físicos, biológicos e geológicos, e o papel que esta Serra, enquanto área protegida integrada na Rede Natura 2000 (Rede Ecológica Europeia),
pode desempenhar no desenvolvimento local.

Ao longo de três sessões realizadas ao final da tarde, serão abordadas temáticas de grande interesse, procurando levar ao grande público assuntos plenos de relevância e actualidade.

A todos os interessados nas questões ambientais, fica desde já o convite a marcarem presença no evento.


PROGRAMA

"1os Encontros Ecológicos" – Portalegre 2007

4 de Dezembro –
"Parque Natural da Serra de S. Mamede – Turismo Sustentável e Actividades de Animação Ambiental"
João Pargana – Parque Natural Serra S. Mamede - ICNB
Armando Carvalho – Parque Natural Serra S. Mamede - ICNB
Ceia da Silva - Região de Turismo de S. Mamede
Peter Eden – Monte da Moita Rasa - Marvão

6 de Dezembro – "Geologia da Serra de S. Mamede"
Ana Paula d´Ascenção - Geóloga

11 de Dezembro – "Relevância da Biodiversidade"
Jorge Paiva – Botânico – Universidade de Coimbra

Local: Auditório da Escola Superior de Educação de Portalegre

Hora: Todas as sessões realizam-se às 17.30 h.

Acesso: Entrada Livre

Organização : Quercus – Associação Nacional de Conservação da
Natureza (Núcleo Regional de Portalegre)
QUERCUS - Associação Nacional de Conservação daNatureza
Núcleo Regional de Portalegre
Apartado 163, 7301-901
PORTALEGRE,
Telefs: 96 010 70 80 / 96 020 7080
Web page: www.quercus.pt

25.11.07

Centenário do nascimento de Roberto das Neves, o mais conhecido anarquista individualista português


Em Setembro deste ano de 2007, Roberto das Neves, anarquista individualista português, natural de Pedrogão Grande, completaria 100 anos se ainda vivesse. Em sua memória deixamos aqui a sua bio-bibliografia, alguns poemas, textos e traduções que foram publicados pela editora Germinal, de que foi fundador e principal impulsionador, e a quem se deve um papel ímpar na divulgação do anarquismo e das ideias libertárias no Brasil, para onde foi viver a dada altura da sua vida, e cujo trabalho de difusão também chegou a Portugal, para onde eram enviados igualmente algumas das suas edições.

Todos os textos foram retirados do site do seu filho, com o mesmo nome que o seu pai, expressamente criado para recordar a pessoa e a obra de Roberto das Neves pai, e onde se encontram disponíveis outros textos e informações, para consulta e leitura, e cuja visita recomendamos:

http://betodasneves.multiply.com/journal/item/14




Roberto das Neves
(nota bio-bibliográfica, por Manuel Pedroso Marques)


Roberto das Neves, cidadão do mundo, nascido em Pedrógão Grande, terra de onde resguardava as memórias das gentes e das paisagens que nunca esqueceu ao longo de toda a sua vida.


Anarquista que o acontecimento do 25 de Abril deixou tão feliz que, como então escrevia a um amigo, "quase chegou a cometer o perjúrio de se sentir patriota".


Treze vezes preso por motivos políticos (onze em Portugal e duas no Brasil), foi poucas vezes julgado e nunca condenado.


Individualista fascinado pela criação da inteligência dos outros; solidário em extremo com os seus companheiros de ideias.


Escritor e cultor com peculiar afecto da Língua Portuguesa ("porque não havia uma língua universal"), foi esperantista, professor de Esperanto e publicou em Portugal um Curso de Esperanto e foi co-autor de um Dicionário Português-Esperanto e Esperanto-Português que nunca chegou a ser publicado.


Ateu, não por indiferentismo mas por anti-clericalismo, "convicto das dúvidas sobre a existência de Deus", mas atraído pelas para-ciências e por todas as indagações misteriosas e mais ou menos obscuras que a "ciência académica, oficial, recusa". Panteísta: "se a Natureza for Deus… Deus existe".


Maçon desde novo, numa linha que não reúne consenso generalizado, de afirmação de uma atitude anti-clerical para a maçonaria e de debate de política e não apenas de outros campos de ideias.


Grafólogo, apresentou uma tese de conclusão da sua licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Lisboa, afirmando o método grafológico como um dos que podem contribuir para caracterizar a personalidade. Apesar daquele curso compreender, na altura, a área da Psicologia, não teve arguente na Faculdade porque o tema era, então, completamente desconhecido, mas obteve aprovação… e dedicou-se durante toda a vida à grafologia.


Vegetariano, macrobiótico e militante de regimes alimentares e de vida a que atribuía os fundamentos de vida saudável, como o nudismo, a vida ao ar livre, o antitabagismo, a abstenção de álcool e a recusa de medicamentos.


A identidade de Roberto Barreto Pedroso Neves poderá definir-se por estas anotações de pensamento e de vida. Há coerência, haverá incoerências. Mas, atenção!, para Roberto das Neves a coerência era o efeito de uma relação dele para com ele mesmo, de uma relação estritamente individual.

Ele era um anarquista individualista, na linha de Max Stirner, sempre em oposição à orientação colectivista, bacunineana. O indivíduo, com sentido de ego, era o fim social. As organizações sociais eram manifestações burocráticas. Os Estados eram a expressão máxima dessa burocracia. A sociedade só se podia organizar com e na perfeição dos indivíduos.


Todavia, era um homem de causas, empenhado nas lutas cívicas que as serviam. As suas actividades cívicas, profissionais e intelectuais depõem sobre ele. Foram vividas intensamente, mais por amor e amadorismo que por profissão e carreirismo profissional, político ou outro, embora rigoroso ao extremo na sua verdade.


O percurso da vida de Roberto das Neves começa em Pedrógão Grande, no dia 7 de Setembro de 1907 e, quando chega a altura do liceu, em Coimbra, onde os seus pais residiam, com mais cinco filhos. Freqüenta os primeiros anos da licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas. Foi dos primeiros estudantes a serem presos a seguir ao "28 de Maio", juntamente com Vasco da Gama Fernandes, seu colega e amigo. Foi-o várias outras vezes. Em 1927 é preso por andar a distribuir panfletos de sua autoria propagando os ideais anarquistas. Dois anos depois é novamente preso como director do jornal "A Egualdade" ligado à Federação Regional dos Anarquistas do Norte. Em 1930, é mais uma vez preso, acusado de divulgar ideias subversivas (…), sendo ferido e preso numa manifestação popular, em Lisboa, no Campo Santana.



Espanha – Passados alguns anos (e mais algumas prisões), já como jornalista de "O Primeiro de Janeiro", vai para Espanha (1931), interrompendo o seu curso, em Coimbra, cujas praxes académicas haviam merecido o seu repúdio expresso, pelo espírito "conservador e alcoólico" que as caracterizava.


Em Madrid liga-se ao movimento anarquista espanhol, ajuda na reestruturação da Federação Anarquista de Portugueses Exilados e escreve no jornal "Rebelião", órgão oficial desta organização. Aqui, conviveu com outros portugueses que lá se encontravam exilados, como Jaime Cortesão, Jaime de Morais e Alberto Moura Pinto, e ainda o Coronel Velez Caroço entre outros. Os três primeiros (os “Budas” como na oposição eram chamados) viria a encontrar mais tarde, no Brasil, para onde fora em 1942.


Vive das crónicas madrilenas e dos artigos que envia para aquele jornal portuense, na altura, um dos melhores do país. Mas o pagamento era pouco e irregular. Quando o dinheiro atrasava para pagar a pensão, algumas vezes dormiu enrolado na sua capa, que conservara de estudante de Coimbra, no jardim de O Retiro, no centro de Madrid, em cuja situação conhece uma jovem atraída por "um homem bonito que se via logo que não era vagabundo"… e com quem vem a casar e a ter uma filha que viera a nascer também em Pedrógão Grande.
(Vinte e seis anos depois, eu e esta sua filha, Primavera, viríamos a casar e a ter a nossa filha Maria Alexandra. Nenhuma pode ler estas linhas. Faleceram. Muito cedo.)



Conspiração em Portugal – De regresso a Portugal, Roberto das Neves vive em Lisboa, escreve para vários jornais vindo a ser jornalista n’O Século. Conclui a sua licenciatura em Histórico-Filosóficas e interessou-o a Psicologia e a Para-Psicologia a que associava a Grafologia. Muito popular na Universidade pela vivacidade da sua inteligência, a originalidade das ideias e pela leitura das letras dos e das colegas, dos namorados e das namoradas…


Faz amizade com José Barão, jornalista de O Século e fundador do "Jornal do Algarve", com Emídio Santana, Mário de Oliveira, Marques da Costa e outros anarquistas, como o anarquista angolano Inocêncio da Câmara Pires, além de outros oposicionistas à ditadura salazarista, de diferentes proveniências ideológicas, como José Magalhães Godinho, Filipe Mendes, Carvalhão Duarte, Henrique de Barros, Piteira Santos, Castro Soromenho e muitos outros com quem mantinha correspondência assídua. Com o poeta goês Adeodato Barreto mantém a amizade que vinha dos tempos de Coimbra, deixando-lhe a sua morte prematura uma inesquecível e terna recordação.


A conspiração contra a ditadura salazarista continua. Há registo de prisões suas nos arquivos da Pide. Duas no Alentejo, em 1933 e 1937, mas consegue convencer a organização local de que não andava em contactos políticos mas sim na prosaica missão de angariar publicidade para uma publicação.


Durante a Guerra Civil de Espanha, quando as forças republicanas já se encontravam em desvantagem, começaram a aparecer em Portugal muitos refugiados espanhóis, clandestinos. Franco e Salazar estabeleceram uma “entente” que se traduzia na entrega dos refugiados que fossem presos às forças franquistas e em deixar em liberdade os que tivessem conseguido obter documentos junto da embaixada do México, em Lisboa, até que fossem transferidos para aquele país longínquo, o que aconteceu por duas vezes, com o afretamento de um navio de passageiros que levou mais de dois mil republicanos espanhóis. Neste período, a mulher de Roberto das Neves, Maria Jesusa Saiz y Diaz, andava acompanhada de uma das suas amigas, muitas vezes a Berta Mendes, mulher do escritor Manuel Mendes, pelas ruas da baixa de Lisboa, a falar espanhol ostensivamente alto… para que algum refugiado se aproximasse a pedir auxílio. Assim conseguiu esconder em casa dezenas de pessoas, até que Roberto das Neves entrava em contacto com a embaixada, com as fotografias, para obter o passaporte e as pessoas pudessem esperar em liberdade a sua transferência para o México.


(Quase trinta anos depois, um destes lê num jornal de Caracas que um “capitão português, genro de Roberto das Neves, se encontrava em asilo político diplomático na Embaixada do Brasil em Lisboa”. O capitão era eu. Recebo uma carta dando-me solidariedade e transportando um cheque com a quantia que um então velho professor de matemática e ex-oficial do Exército republicano espanhol podia dispor.)

Brasil. Editora Germinal – Durante a 2ª Grande Guerra, Roberto das Neves emigra para o Brasil, com a mulher e a filha, passando a viver no Rio de Janeiro. Arranja trabalho em alguns jornais, de início, mas a sua vida de trabalho vem centrar-se na editora Germinal e no Instituto de Pesquisas Grafológicas. A actividade editorial caracteriza-se pela divulgação das suas ideias anarquistas, de concepção de vida e saúde e, indefectivelmente, pela oposição ao regime de Salazar.


Na Germinal – nome sugestivo para anarquista – publica obras de combate à ditadura de Salazar, da autoria do Capitão Henrique Galvão (“Operação Dulcineia”, sobre o assalto ao paquete Santa Maria), do Capitão Fernando Queiroga (“Portugal Oprimido”), do Comandante Oliveira Pio (“Fascismo Ibérico”) e do General Humberto Delgado (“Tufão sobre Portugal”), além de outros, sobre temas anti-clericais, como os de autoria de Tomás da Fonseca (“Sermões da Montanha”, “Bancarrota da Igreja”, etc.).


Publica também livros sobre temas de saúde e alimentação, como Macrobiótica Zen, sobre o regime alimentar de Are Waerland, e outros cultivados na tradição alimentar tibetana, além de prospectos e folhetos que publicava sobre os mais variados temas, desde o anti-tabagismo à ridicularização dos comendadores endinheirados da colónia portuguesa, todos salazaristas, com duas únicas excepções: o Comendador Seabra e o Comendador Feteira.


No campo anarquista, a Germinal tinha duas vertentes: uma editorial e outra livreira. Editava obras de tese anarquista, cujo fundo compreendia autores como Daniel Guérin (O Anarquismo – Da doutrina à acção), José Oiticica (Ação Directa), Han Ryner (Manual filosófico do individualista), E. Armand (A Nova Ética sexual” e “Cooperativas de Amor”), V. Tcherkesof (“Erros e contradições do Marxismo”), entre outros. No catálogo de venda de livros estrangeiros, principalmente clássicos em francês ou espanhol, incluíam-se obras de E. Lanti, (O Manifesto dos Anacionalistas), Sébastien Faure, Proudhon, Kropótkin e outros de oposição à historiografia oficial da Revolução Soviética, como Vóline, que tratavam dos temas polémicos da oposição entre anarquistas e comunistas na então URSS e em Espanha, durante a guerra civil.


A Germinal teria, obviamente, um catálogo de “literaturo en esperanto” que incluía traduções de algumas das obras atrás citadas e de Goethe (“O Fausto”), de Tolstoi, Malatesta, Krishnamurti, Óscar Wilde, Jack London, Eugen Relgis, Rosa Luxemburgo, etc., editadas pelas comunidades esperantistas de todo o mundo e que a Germinal vendia, militante.


Bibliografia – Da sua própria autoria Roberto das Neves publicou, em Portugal, alguns poemas de juventude (“Maio em Flor”) e, de conteúdo mais político, “O Espectro de Buiça”, em 1926, logo apreendido pela polícia, além de uma monografia sobre a sua terra natal – Pedrógão Grande. Publicou ainda o que intitulou “Curso Completo de Esperanto”, em fascículos, que consistia numa adaptação de outros métodos de aprendizagem do Esperanto por falantes doutras línguas ocidentais para os de língua portuguesa. Os exemplares restantes da edição deste livro seriam transportados na bagagem de porão do navio, quando Roberto das Neves se transfere para o Brasil, com a família, e viriam a ser todos devorados por um incêndio ocorrido no 18º. andar de um conhecido edifício no centro do Rio de Janeiro, o edifício Rex, onde tinham acabado de se instalar a Editora Germinal e o Brazilia Instituto de Esperanto. Numa edição de autor, publicou a sua tese de licenciatura, “Os temperamentos e as suas manifestações gráficas”.

No Brasil editou, sob a chancela da Germinal e das Edições Mundo Livre, as seguintes obras:


“Assim cantava um cidadão do mundo” que reúne poesias de intervenção social desde os tempos de Coimbra. Mereceu críticas elogiosas de amigos e de companheiros de ideias, entre os quais Henrique de Barros, João de Castro Lira e de outros, como Luís Inácio Domingues (Gazeta do Brasil), Edmundo Moniz (Correio da Manhã) que diz: “se, por um lado, o carácter político de sua obra prejudica a sua forma artística, por outro lado dá-lhe grande relevo, pois nele temos um vigoroso panfleto, escrito em versos flamejantes, que tão bem interpreta os sentimentos e as aspirações de um povo oprimido, sofredor e revoltado” … “Na poesia de R. das N. não falta poder de comunicabilidade emocional, pois ele toca numa das teclas mais sensíveis da nossa época: a libertação material e espiritual”. De inspiração junqueiriana, os títulos de alguns dos seus poemas depõem sobre o conteúdo: ‘Sem bandeiras nem fronteiras’, ‘Não irei à guerra, César’, ‘Quero ser como tu, Satan’, ‘Um burro se confessa’, ‘Bernard Shaw chega ao Céu’, etc. Dedica alguns poemas ao Cardeal Cerejeira, que assevera ser ‘o maior ateu de Portugal’. Este seu primeiro livro, de maior fôlego, inclui um soneto satírico e autobiográfico, composto na prisão, que deixa escrito na parede da cela:


Nasceu em Pedrógão Grande
e é cidadão do Universo.
Suas revoltas expande
nas asas largas do verso!
Os sofrimentos do Povo
combate-os – louco idealista! –
e visiona um mundo novo,
em seus sonhos de anarquista.
Javerts sinistros, medonhos,
em prémio dão-lhe a delícia
de ir concluir os seus sonhos
nas masmorras da Polícia…



“O Diário do Dr. Satan” (Comentários subversivos às escorrências cotidianas da sifilização cristã), onde atinge o seu máximo de irreverência e crítica à religião católica e a todas as formas de dogmatismo religioso, político, cultural e científico. Satan (de Satanás, Lúcifer, das luzes…) foi o nome que R. das N. adoptou na maçonaria, em Lisboa. Quando acabou o seu curso de história e filosofia os amigos (irmãos) começaram a tratá-lo por “Dr.”, e daí o Dr. Satan. Nos seus comentários, os nomes de Hitler, Estaline, Franco e Salazar aparecem, com repetida frequência, irmanados na hediondez das respectivas ditaduras.


“Marxismo, escola de ditadores”, editado pela Mundo Livre, trata-se de um pequeno ensaio, incluído numa colecção de Cadernos da Juventude, onde, referindo as contradições que via em Marx, afirma as ideias anotadas pelos anarquistas de que “a ditadura do proletariado” não perderá a transitoriedade que Marx profetiza, perpetuando-se numa ditadura de partido único. Por outro lado, as análises correctas de Marx sobre o capitalismo da época "não lhe pertencem, pois, já haviam sido enunciadas pelos socialistas apodados com desdém de utópicos, que o antecederam".


Defende historicamente as utopias e os utopistas. "Utopias foram a monarquia liberal, no tempo das monarquias absolutas; o abolicionismo, na época da escravatura; a república, na era das monarquias; Júlio Verne e as viagens à Lua…" Este trabalho compreende uma exaustiva recensão das utopias escritas ao longo da História, e de que há conhecimento, no Brasil e no mundo.


“Entre Colunas” (livro cujo título revela a natureza ou a relação maçónica do conteúdo e do autor) reúne doze ensaios ou conferências proferidas nas lojas maçónicas: Labareda, de Coimbra; Rebeldia e Montanha de Lisboa; Aurora, do Porto; Republica Portuguesa, de Madrid; Libertá e Primeiro de Mayo, em Barcelona; Germinal, Pátria Humana, Maria Lacerda de Moura, Lusitânia Livre e Prof. José Oiticica, no Rio de Janeiro; e Francisco Ferrer y Guardia, de São Paulo. Da Maçonaria, R. das N. escreve que ela "não é, como se sabe, uma organização anarquista, anticapitalista, anti-religiosa, mas sim um laboratório de investigação filosófica, sociológico, científica, adogmática, uma tribuna livre, aberta a todas as doutrinas, numa busca incessante e ilimitada da Verdade. Possui um único dogma, se assim se lhe pode chamar: o culto da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. É sobre esta pedra triangular que assenta o edifício doutrinário da Maçonaria". "Maçons, esses incansáveis investigadores e cultores da filosofia prática".

Na vertente prosélita dos regimes de saúde que associava à felicidade individual e ao bem estar social, do anti-consumismo e de uma certa austeridade de vida, escreveu e traduziu livros e opúsculos, entre os quais, “Você é macrobiótico ou vegetariano?”; “Método infalível para deixar de fumar”; “Duodecálogo do verdadeiro macrobiótico”. A “acção directa”, neste campo, consistiu na dinamização de uma cooperativa de restaurantes macrobióticos no Rio de Janeiro, que se pretendia estender pelo Brasil inteiro e que chegou a atingir considerável expressão económica e social, embora restrita àquela cidade.

No cultivo da literatura de combate pelo humor, pelo sarcasmo e pela obscenidade, ao bom estilo dos anarquistas do tempo em que a acção directa armada era por eles adoptada, Roberto das Neves fez coisas que narra em seus livros de que se arrependeu, mais tarde, por atentarem contra a liberdade de convicções dos outros. Estão neste caso inúmeras acções de ataque às crenças e rituais religiosos, como "o sujar com pó de sapato vermelho a água da pia de água benta da Sé de Coimbra"… "Coisas de juventude", explica, pedindo desculpa!

Outro exemplo desta forma de combate pelas ideias, neste caso usando a obscenidade, pode ver-se em vários opúsculos e panfletos, uns assinados outros apócrifos, como o que se refere à colónia de comendadores portugueses salazaristas do Brasil em que a obscenidade mais suave se manifestava pela grafia da palavra “culónia”, sempre com “u”…

Foi atacado por opositores, inimigos políticos e também por correligionários, neste caso quando se zangavam (porque o humor é difícil de manter zangado), por esta sua vertente de “combate literário”. Defendia-se, dizendo que não era pornógrafo nem pornográfico, pelo rigor de linguagem e precisando que as obscenidades ajudavam a ridicularizar os visados!... Na verdade, a qualidade de escrita que Roberto das Neves colocava nestes textos era desconcertante, não desmerecia do que conseguia escrever de melhor. Era uma forma de combate dos anarquistas, levada a sério, mas que também o divertia imenso…

Grafologia – A sua outra actividade mais regular desenvolvia-se no âmbito do Instituto de Pesquisas Grafológicas, que fundou no Rio de Janeiro, onde dava cursos de grafologia, desenvolvia estudos, participava em conferências e fazia análises grafológicas de candidatos a lugares que algumas firmas de selecção de pessoal lhe encomendavam. O seu principal cliente era uma universalmente conhecida empresa de lapidação de pedras preciosas e fabricante de jóias que tem o nome do seu principal dono – a H. Stern. Roberto das Neves foi chamado a realizar um estudo grafológico, numa determinada situação, em que um conjunto de pessoas era abrangido, inclusive um jovem chamado Hans, na altura, um modesto funcionário. Pelo perfil grafológico elaborado, tratava-se de um génio comercial. Que viria a tornar-se dono da empresa e um adepto da grafologia: o Sr. Hans Stern!


Oposição Portuguesa – Participa nas acções desenvolvidas pelos vários núcleos de emigrados políticos no Brasil. Pontualmente colaborava com comunistas, reunidos em torno do jornal Portugal Democrático; convocava os seus amigos anarquistas brasileiros para darem maior expressão às lutas da oposição a Salazar e cooperava com todos os outros exilados portugueses, como Sarmento Pimentel, José Santana Mota, engenheiro Baleisão e outros em São Paulo e Oliveira Pio, Armando Magalhães, Francisco Horta Catarino, além de muitos outros, no Rio de Janeiro.

A oposição alinhada com a Acção Socialista, no Brasil, após 1965 (que viria a transformar-se no Partido Socialista, em 1973) e outros sem qualquer alinhamento, constituíram um jornal de vida efémera, chamado "Oposição Portuguesa" para apoio do qual Roberto das Neves atraiu amigos seus da maçonaria. Creio que chegou a ter uma posição importante, creio que na loja Lusitânia Livre que reunia muitos dos velhos emigrados políticos portugueses e alguns brasileiros descendentes que faziam da luta pela liberdade em Portugal causa sua, como se portugueses fossem, como o seu amigo Dr. Miranda, proprietário de várias farmácias e garantia certa de que havia dinheiro para comprar a bobine de papel para imprimir o jornal…

O ambiente político e pessoal criado entre exilados políticos, em várias experiências ocorridas em diferentes épocas e vários lugares, tem sido caracterizado como fragmentário senão dissolvente das ligações de solidariedade entre homens com objectivos e lutas comuns. As roturas não são apenas ideológicas (que melhor se poderiam entender), antes derivam de um complexo de esperanças, ambições, frustrações, de incapacidade de adaptação ao país de exílio, do tempo de espera, do tempo que passa.

Roberto das Neves era perfeitamente adaptado à sociedade brasileira e fascinava-o algum exotismo cultural que nela via. Tinha amigos entre todas as raças e de várias proveniências e de todas as posições políticas de esquerda, com as restrições que os anarquistas que fizeram a guerra civil em Espanha guardaram para sempre em relação aos comunistas. Para Roberto das Neves, Cunhal e Salazar eram sinónimos.

Depois que o General Delgado chegou ao Brasil houve um certo entusiasmo entre os exilados com a sua presença. Roberto viria a ter confrontos sérios com o General, com insultos de parte a parte a marcar a polémica, que terminou com a expulsão de Delgado da Associação que tinha o seu nome... e com a sua transferência para outra terra de exílio, a Argélia. Estes factos assinalaram negativamente a imagem da oposição a Salazar, a Embaixada de Portugal "embandeirou em arco", afastando-se da actividade, por uns tempos, figuras da maior respeitabilidade como o Comandante Oliveira Pio, Lafayete Machado e outros.


Centro de Estudos Sociais José Oiticica – Roberto das Neves pertencia à direcção desta associação que homenageava, com o seu nome e finalidade, um democrata brasileiro, oposicionista à ditadura de Getúlio Vargas e um dos mais respeitados filólogos da nossa língua, do seu tempo. Constituíam a direcção o Prof. Serafim Porto, professor metodólogo de português do colégio Pedro II, o Dr. Ideal Perez, uma sumidade da reumatologia no Brasil, o Dr. Pietro Ferrua, ex-Director do CRSA, Centre de Recherches sur l’Anarchisme, de Genève, entre outros. A actividade do Centro resumia-se a uma conferência de 15 em 15 dias, com regularidade notável, com oradores convidados, sobre as velhas e emergentes questões sociais no Brasil e no Mundo.

Após o Acto Institucional nº 5, que, em 1968, concretizou a censura prévia à imprensa e aumentou a repressão política no país, a polícia política brasileira prendeu toda a direcção do Centro. Roberto das Neves já tinha sido preso durante a ditadura getulista, por denúncia de actividades subversivas feita por portugueses salazaristas. Desta vez, esteve preso numa base militar, da Força Aérea, na ilha do Governador, onde pretendi visitá-lo, sem que tal me fosse consentido. Invocando a minha qualidade de ex-capitão do Exército Português exilado político no Brasil, como tentativa de falar com alguém mais graduado, fui imediatamente levado à presença do comandante da Base, um Tenente-Coronel. Fui recebido como um camarada de armas. “Nós aqui já nos apercebemos que o Professor Roberto das Neves é uma pessoa especial, um homem muito culto”. Abre um armário que tinha na antecâmara do gabinete e mostra-me: em cada prateleira uma variedade de frutas, peras, maçãs, papaias, abacates… todas alinhadas como numa formatura. “É que o Professor não come cadáveres”, disse respeitosamente. Pedi para deixar um bilhete escrito, já que não podia falar com o Professor… (para que Roberto das Neves soubesse que já se sabia onde é que ele estava…) e parti com a absoluta certeza de que ele estava a "dar a volta" aos carcereiros.

Doze dias depois foi libertado e ficou a aguardar julgamento, que viria a realizar-se mais de um ano depois. Criou amizades entre os presos, que ficou a visitar, e o comandante não só aceitou passar a receber os catálogos da Germinal como ficou a pensar em aderir ao vegetarianismo.


Julgamento – Roberto das Neves não constituiu advogado, ao contrário dos seus companheiros de julgamento que eram seis ou sete. Na primeira audiência, depois de ser lida "a acusação" o juiz faz a pergunta sacramental, se o réu tem alguma coisa a dizer em relação à acusação. Roberto das Neves levantou-se e com toda a força de uma forte convicção diz: “Não me acusam de nada! Sou anarquista, ateu, maçon, esperantista e vegetariano”. “Em frente deste tribunal há duas estátuas, uma de Gandi que era anarquista, panteísta e vegetariano e outra do Marechal Duque de Caxias que foi Grão-Mestre da Maçonaria do Brasil”. “Há uma imprecisão no que chamam de ‘acusação’, que foi extraída de uma nota biográfica que consta de um livro meu. Não fui preso doze vezes. Fui mais uma, a que antecedeu este julgamento. Mas nunca fui condenado, fui sempre absolvido, como vai acontecer mais uma vez”.

O Juiz fez algum silêncio, antes de suspender a audiência por quinze minutos. Demorou talvez mais de uma hora e veio com a sentença feita. Absolveu os réus todos.


No início da década de sessenta Roberto das Neves casa pela segunda vez com uma antiga aluna de Esperanto, Maria Angélica de Oliveira de quem tem um filho, que vive no Rio de Janeiro e também se chama Roberto das Neves e que tem três filhos. Roberto das Neves morreu em 28 de Setembro de 1981.


Esta nota, na parte biográfica, foi elaborada com a contribuição do filho, Roberto das Neves, e da Professora Doutora Heloisa Paulo, autora de uma tese sobre os portugueses no Brasil e, actualmente, particularmente interessada e conhecedora dos movimentos da oposição à ditadura de Salazar-Caetano no Brasil, a quem agradeço as ajudas prestadas

Entrevista a Roberto das Neves, anarquista individualista, escritor e editor


Entrevista publicada pela revista Planeta nº 104, de Maio de 1981.
(Texto de Flamínio Araripe )


A trajectória deste incrível anarquista, individualista (no bom sentido), escritor e editor, deixa-lhe à vontade para repensar toda a história dos movimentos políticos, religiosos e das mais recentes trilhas e saídas existenciais da sociedade xarope contemporânea.


Roberto das Neves, 73 anos de idade, vegetariano desde os 16, português de nascimento, lutou na Revolução Espanhola, foi inimigo de Salazar (13 honrosas prisões), crítico do marxismo e defensor do socialismo libertário: este é o tipo de agitador que faz falta hoje. Ele ama as utopias e tem um saudável desprezo pelas instituições — por todas.


Amanhecer na Zona Norte do Rio de Janeiro. No bairro de Lins,o hospital da Marinha recebe os primeiros visitantes do dia. Sobem a rampa aventais brancos de médicos e enfermeiros, uniformes azuis e algum outro paisano sonolento. Perto dali me espera o poeta, editor e escritor individualista anarquista Roberto das Neves.
Há dois anos não o vejo. Soube que de saúde ele passa bem. Talvez o vegetarianismo que segue desde os 16 anos seja a razão de suas 73 primaveras lúcidas. Na calçada do prédio onde mora este português magrinho cujo exílio o fez carioca há mais de 30 anos, sob os raios de sol da manhã alguns velhos de bermudas conversam e aquecem o couro da barriga.


Quando toco a campainha do apartamento, o chumaço de papel que substitui o olho mágico mostra os olhos claros do poeta amante da liberdade. Vejo-o, alegre, com a mesma presença de espírito, ágil, convidar-me a entrar. Roberto conserva todo o vigor satírico de sua personalidade, confirmo ao receber de suas mãos um texto sobre a história das utopias que havia preparado na véspera para "poupar maçadas". Mesmo assim instalo o gravador diante dele.


Roberto mora hoje com o seu filho, e aquela que ele chama "minha companheira" há três anos partiu. Ele parece gostar do garoto, que tem seu mesmo nome e saiu para se matricular na universidade, onde passou "com distinção" no curso de jornalismo. Noto que a pequena sala do apartamento conta com seis estantes a menos. Ficaram apenas duas delas com obras em Esperanto – que é professor —, dicionários e clássicos do anarquismo, raridades em espanhol, francês, italiano e português. Todos livros amarelados, dos autores de sua predilecção: Han Ryner, E. Armand, Maria Lacerda de Moura e pensadores socialistas libertários, além de muita coisa sobre grafologia e dietética.


Parece que o lugar de actuação em múltiplas actividades de Roberto cedeu espaço para uma outra função por mim desconhecida em sua vida. Não vejo mais o arquivo com cartas coleccionadas, e a mesa grande da sala entulhada de jornais anarquistas de todo o mundo já não está mais ali, embora encontre exemplares dispersos pelo apartamento. O ambiente perdeu aquela atmosfera de saudável ebulição que ficou gravada em mim na primeira visita. Ante a janela agora é o local de trabalho dele, onde nos sentamos numa mesinha amontoada de papéis sob a qual vejo espalhados envelopes do ano passado, onde certamente os leitores solicitavam livros de sua editora, a Germinal.


A importância da utopia na história


Por enquanto Roberto não edita mais. Reclama do preço do livro hoje, que "o público não lê mais, no Brasil, principalmente", embora ainda tenha obras para editar. Uma delas, cuja tradução afirma estar pronta, é “Formas de Vida em Comum sem Estado nem Autoridade”, de E. Armand, a proposta que mais se identifica com a sua. Este texto tem muito a ver com a Germinal: conta as experiências práticas de comunas livres na Europa, em moldes individualistas anarquistas.


No espaço ocupado por sua editora é exercida urna actividade libertária que abrange o combate ao fumo, às doutrinas obscurantistas, ao poder, seja capitalista ou estatal, ao marxismo – "escola de ditadores" — e que é a favor do naturismo, contra a alopatia.


O escrito com que Roberto aguardou a minha presença se chama Breve História das Utopias e Colónias Experimentais Socialistas no Mundo e no Brasil.
Começa citando o historiador Max Nettlau, "o Heródoto do anarquismo", que disse do género tão escarnecido por Karl Marx e Friedrích Engels: "Facilmente se desprezam as utopias, consideradas por muitos como inúteis, ilusórias, contrárias à realidade e à ciência. Guardemo-nos de seguir essas vozes secas e utilitárias. O mundo é bastante pobre, tal como hoje se encontra, e por isso toda utopia é uma das mais belas e raras flores. O homem é verdadeiramente pobre se não afaga um sonho, se não leva no cérebro a eterna utopia de um ideal, colectivo ou individual, concebido na sua primeira juventude, construção muito variável, à qual acrescenta modificações em cada etapa de sua evolução moral e intelectual, que cresce, envelhece e morre com ele. Que vacuidade a do cérebro que não a conhece e que, por orgulho, resignação ou mera vulgaridade absoluta, não pensa mais além do presente! Pelo contrário, o carpediem vale sempre, mas os que estão absolutamente por ele são seres tão incompletos como os que vivem exclusivamente no sonho, na utopia."


Agora, com o texto manuscrito de Roberto das Neves, extraído de seu Marxismo, Escola de Ditadores: "A utopia é mais que um género literário, um fenómeno social de todas as épocas e uma das mais antigas formas de progresso e de rebeldia fecundante e renovadora. Porque o anseio que o homem sente – de elevar-se acima de um presente cinzento, sombrio ou injusto, só aceitável para o tirano, o usurpador, o explorador de seus semelhantes e para os homens sem horizontes, membros do panegírico rebanho humano —, converte-se em reflexão sobre o futuro, em visão do que poderá fazer-se e, finalmente, em dação, trabalho, investigação, e experiência."


Acrescenta que "nem sempre, porém, só a utopia vara as nebulosas do porvir". Porque às vezes "também a fantasia popular auxiliada pelo espectáculo dos homens primitivos", quando não havia "espoliação, restrições e repressões, se remetia a um estado de justiça, abundância e felicidade do passado". Segundo ele, é o caso da Idade de Ouro e do Paraíso, as primeiras utopias.


Roberto enumera em seguida várias criações ligadas à utopia, na literatura e na prática. Cita Platão, Rabelais, Thomas Campanella, Francis Bacon, Fenelon, Fontenelle, Montesquieu, Rousseau, Voltaire, entre outros. Menciona ainda Robert Owen e Thoureau — "verdadeiro individualista que vive a vida nos bosques" —, Tony Mollin, "mártir da Comuna de Paris, fuzilado nos Jardins de Luxemburgo", Luisa Michel, Etienne Cabet, James Guilhaume e Kropotkin.


Frutos maduros do sonho e o encontro com Ramatis


Para ele, a relação entre os motivos que impulsionavam as primeiras comunas e as iniciativas feitas nesse sentido actualmente é nítida: "Um regime libertário, sem o dinheiro, a propriedade individual, sem autoridade do homem sobre o seu semelhante e em regime de amor livre". Quer dizer: "Sem Estado, sem tribunais nem prisões".


A ideia-motor na crítica da sociedade actual neste individualista anarquista, assim como a base que norteia todas associações de carácter libertário, sempre é criar condições para vigorar o livre auxílio mútuo na condução dos assuntos colectivos. Com isto, visa-se preservar a soberania do indivíduo, considerado como pedra fundamental da sociedade. O libertário Roberto chega a admitir trabalhar em conjunto por um ideal revolucionário, desde que as bases do acordo para atuar em comum satisfaçam-lhe a integridade individual.


O manuscrito de Roberto defende em seguida a "Colónia Cecília", comuna de imigrantes italianos que durou 10 anos, cujo fim deveu-se à República, "mais reaccionária que o Império com D. Pedro II", de vez que resolveu cobrar impostos dos anarquistas. O mesmo texto toca, também, nas obras mediúnicas de Emmanuel, psicografadas por Francisco Cândido Xavier (Há Dois Mil Anos), e Hercílio Mães, Ramatis (Viagem ao Planeta Marte), por "reflectirem a aspiração ideal de nossa época, sem exércitos nem Estado, onde os povos se entendam por meio de um idioma comum".


Segundo ele, Ramatis o visitou e ambos encontraram pontos de aproximação entre a utopia mediúnica e a doutrina anarquista. Até no vegetarianismo estão de acordo. Mas a comunhão torna-se maior nesse "idioma comum", que imediatamente significa, para o individualista libertário, o universal esperanto. À medida que vê Ramatis reconciliar o ponto de vista espiritualista e anarquista, acusa Chico Xavier de reaccionário, embora não o tenha conhecido pessoalmente, "só de leituras".


O empreendimento autogestionário existente no município de Boa Esperança (ES) desperta-lhe entusiásticos elogios em sotaque luso. Não é por menos: do estado de falência decretada, até o posto de 22ª melhor renda entre as prefeituras brasileiras — o soerguimento da economia com base no auxilio mútuo –, é um feito de orgulhar qualquer anarquista. O bem-estar colectivo atesta o valor duma organização descentralizada e cooperativa, com solidariedade prática, o que fez com que "o poder político fosse transferido da prefeitura para as comunidades e respectivas assembleias, deixando a sede municipal de ser agência de empregos para parentes e amigos da administração".


Esta comprovada experiência do município capixaba, para Roberto, "é anarquista, embora seus organizadores não saibam disso. Pode não ter o nome de anarquia; isso não importa. Nem tudo o que tem o nome de anarquista é anarquista. E muita coisa sem esse nome é autenticamente anarquista."


"O que importa é que são focos de irradiação de novas doutrinas, de novos planeamentos."


Receita antitabagismo e toques sobre LSD


Na prática quotidiana de Roberto, porém, o seu desempenho deu-se predominantemente sozinho, na edição de livros e na pregação vegetariana com recomendações dietéticas em que responsabilizava sempre o Estado e o capitalismo pelos males da humanidade. De um panfleto de sua autoria a favor do naturismo:
"O vegetariano, revolucionário de uma revolução sem sangue, que conseguiu fortalecer a sua vontade e viver saudavelmente, livre da tirania dos vícios, não fuma, isto é, não faz da boca uma fornalha e do nariz uma chaminé, porque não ignora que o vício do tabaco, parente, segundo Freud, de equivalente vício sexual, só é proveitoso para os trustes industriais, capitalistas, e para o Estado, que em todo mundo exploram e envenenam a humanidade ignara, e constitui o primeiro passo na iniciação em outros vícios não menos perigosos, entre os quais o da maconha e o do LSD."


Contra o vício de fumar – "uma das principais fontes de renda do Estado" –, Roberto um dia pesquisou, imprimiu e distribuiu "infalível método". É o seguinte:
"Diariamente, ao levantar-se e à noite, o viciado, na posição de sentido perante um espelho, exproba-se, atirando, nas suas próprias bochechas reflectidas, frases recriminatórias e estimulantes do amor-próprio, como 'não te envergonhas, imbecil, de sustentares com prejuízo de tua saúde, da tua dignidade e do teu bolso, os Souza-Cruzes, os burrocratas e lesmocratas e quejandos vagabundos? Quando criarás vergonha nessas fuças, palerma?' (Ou outro palavrão porventura ainda mais ofensivo, como estúpido, cretino, atrasado mental, imaturo, reaccionário, estalinista, fascista, burguês, otário, maricas, filho da puta.)"


A revolução biológica e o sistema Waerland


Ele recomenda que "quanto mais ofensiva a expressão usada, maior valor terá a erradicação do vício". Caso não apresente resultados dentro de um mês de intensivo uso do "método", "não haverá mais nada a fazer, senão esperar que um câncer providencial venha liberar o mundo de mais um idiota indigno da vida”.


Roberto chama de "revolução permanente" o caminho aberto pela "alimentação- biológica", "sem drogas de farmácias, imunizado apenas pela consciência esclarecida do que estas significam, e confiante no poder regenerador dos agentes naturais". Para pensar assim, Roberto esteve aos 16 anos praticamente desenganado pelos médicos. Na sua família de sete irmãos, era o mais debilitado: "Ninguém dava nada por mim". A partir dai aderiu ao vegetarianismo, e – afirma – restabeleceu a saúde.


Esta alimentação biológica tem origem no sistema Waerland, um bromatólogo suíço de quem o poeta anarquista editou obras na sua Germinal. A particularidade dessa dieta vegetariana é a recusa de comer peixe – “o pior dos alimentos para a saúde, com maior número de bactérias de putrefacção. Para compensar, nele é usado muito sal, e isso arruina os rins. Por isso as populações ribeirinhas vivem menos". Ele ainda renega, também, alimentar-se de ovos, "menstruação de galinha", carne de aves ou qualquer animal.


No Rio de Janeiro, Roberto é um dos fundadores e consultor da pioneira Cooperativa dos Vegetarianos da Guanabara, que reúne cerca de 6 mil associados. A entidade hoje é autónoma na produção de alimentos – frutas, hortaliças, cereais, leguminosas — fornecidos pela colónia agrícola que mantém nos arredores do Rio de Janeiro, em Papucaia.


É aí que ele costuma almoçar todo dia. Para isso atravessa o Rio de Janeiro de ónibus – Lins-Praça Tiradentes –, tendo nas mãos a inseparável sacolinha onde coloca um suprimento de seus panfletos naturistas, livros de dieta e anarquistas. Nas ruas da cidade seu passo é rápido, o olhar pacífico atravessa o caos urbano, naquilo que ele chama de "sifilização cristã".


Roberto das Neves explica que se tornou anarquista individualista por "uma questão de nascimento, educação, tradição, família, etc." De seus pais herdou o ateísmo. Ainda criança iniciou-se na heresia com as primeiras perguntas sobre a existência de Deus, o que mereceu bons cascudos de sua avó, por não aceitar os dogmas da Igreja. Adolescente, partiu para sabotar os templos católicos espalhando substâncias químicas malcheirosas pelo chão. Hoje, porém, ele não mais afronta os adeptos de outras crenças: "Não podemos impedir que pensem assim. Podemos exigir, no entanto, que sejam coerentes. Um cristão, que se diz cristão, se colocar ao lado dos poderosos e dos ricos — isso é que é de espantar."


Lutando contra o fascismo, contra Salazar, contra...


Ele reconhece que a Igreja hoje tem procurado "se colocar a favor dos humildes, dos pobres e lutar pela redenção humana". Lembra o ano que passou na Revolução Espanhola, quando padres lutavam ao lado de anarquistas nas providas bascas e na Catalunha, contra o fascismo. Diz ele que estes católicos vieram depois ao Brasil e puseram aqui em prática a experiência adquirida no convívio com os anarquistas, o que favoreceu o novo rumo da Igreja neste país.
O poeta libertário, antes de vir ao Brasil, sob pecha de herético sofreu 13 prisões na Portugal salazarista. O refúgio mais próximo era nessa época a Espanha, onde passou 4 anos esparsos e os anarquistas estavam a pique de empreender a maior realização libertária da história (com a autogestão da Revolução Espanhola — 1936-1939). Cada poema seu editado em jornal valia uma ameaça de prisão. Por isso, atravessava a fronteira para não ser pego, até o ponto de saturação, quando Salazar interditou Portugal à sua presença. Como saída, mudou-se para o Brasil, em 1938.


Aqui, continuou na luta contra a ditadura portuguesa, colaborando com nativistas de diversas outras correntes de pensamento: liberais, socialistas, embora com o PC não se desse bem. A desconfiança dos libertários com relação ao Partido Comunista é forte. Não se esqueceram dos massacres de Kronstadt (1921) nem dos da Ucrânia (1920), quando a participação na Revolução Russa se limitou à chancela do partido único; nenhuma organização autónomo de trabalhadores teve mais espaço reconhecido no país da "ditadura do proletariado".


"A Rússia foi um fracasso. Criou-se um capitalismo de Estado, coisa mais abominável que o capitalismo vulgar. Eles esqueceram que sua finalidade era no começo desbaratar a organização burguesa. Tornaram-se um novo imperialismo, que está associado em toda parte com os partidos políticos", acrescenta.


O marxismo mereceu de Roberto das Neves o lançamento com dedicação, pela Germinal, da obra Marxismo, Escola de Ditadores — introdução de sua autoria a Erros e Contradições do Marxismo, do russo Varlan Tcherkesof.


Desancar a "religião marxista", para quem conhece suas nobres origens, parece ser o objectivo de Neves-Techerkesof. Segundo Roberto, "na obra de Karl Marx há que distinguir duas partes; uma, que é boa, mas não é dele; e outra, que é dele, mas não é boa".


Ele afirma que Marx, "além de roubar os principais conceitos de sua obra (mais-valia, etc.) de economistas liberais, socialistas e anarquistas franceses e ingleses — Sísmondi, Victor Consideram, Robert Owen, W. Thompson, Adam Smith, Blanqui, David Hume, Proudhon e Fourier, entre outros —, chamou-os de utopistas. A maioria dessas utopias, no entanto, foi ensaiada em colônias experimentais e falanstérios. Sem a conotação marxista de 'coisa irrealizável, devaneios de loucos sem base na realidade'."


A frieza do marxismo: onde está a ciência?


"É que na Rússia o sonho e a liberdade continuam, desde Lenine, considerados como futilidades ou preconceitos burgueses. Ao devaneio tolerante, libertador e criador da utopia, preferem os marxistas o realismo frio e esterilizante do dogma", diz Roberto das Neves.


O anarquista questiona, por fim, o carácter socialista científico do marxismo, que "jamais submeteu suas teorias ao controle da experiência com o método científico, limitando-se a examinar os dados oficiais, frios e raramente exactos das estatísticas."


Como o marxismo ainda não acabou com a divisão de classes e fortaleceu apenas uma burocracia de elite encastelada no Estado, Roberto conclui afirmando que a obra de Marx é que deve "ser chamada de socialismo utópico — na pior acepção que os marxistas atribuem a esta expressão".


1952, celebração do 369 Congresso Eucarístico no Rio de Janeiro. Patrocinado pelas lojas maçónicas "Germinal" e "Lusitânia Livre", Roberto publica e distribuí o folheto "O Verdadeiro Catecismo", que teve 5 edições. No mesmo estilo de linguagem simples da divulgação católica, com perguntas e respostas, fala de Deus — "Todo-Poderoso, porque é dele que nos vem toda a força" – e aos poucos tenta mostrar a inutilidade da Igreja na experiência religiosa quotidiana, para em seguida atacar a instituição do clero.


"O padre é o maior inimigo de Deus na Terra. Quando Jesus andou nesse mundo, já aqui encontrou igrejas e padres que viviam às expensas dos crentes." E emenda: "Os padres não servem ao povo nem a Deus, mas somente aos poderosos, para manterem jungidos os pobres aos arados dos ricos". Os abusos do clero subserviente ao poder são apontados sem piedade, no bom sentido anarquista de induzir os fiéis a olhar com os próprios olhos para as suas vidas. E, assim, eliminar os intermediários profissionais entre eles e Deus.


A participação do poder maçónico


Para escrever esse panfleto, Roberto inspirou-se nos "ensinamentos de Jesus", e recomenda nele "a bondade, que nos embeleza", a indulgência, gratidão e solidariedade humana. Finda com a afirmação de que "essa é a melhor maneira de amarmos, e servirmos a Deus".


Pergunto-lhe sobre essa intervenção e ele reconhece ter usado "o próprio linguajar deles, contra eles".
Nada disso, portanto, prejudica o ateísmo de Roberto das Neves. Maçom no rito escocês, iniciado na loja portuguesa "Rebeldia", em 28, tendo alcançado grau 25, exilado no Brasil em 1948 ele entrou para a loja "Filantropia e Ordem", do Rio. O nome adotivo que trazia desde sua entrada nos pedreiros-livres, Satã, criou receios entre alguns maçons cariocas, que acreditavam ser aquilo contrário aos princípios da maçonaria.


O patrono da instituição, o Grande Arquitecto Universal, pensavam estes maçons, era Deus, que seria ofendido com o nome adoptivo Satã. Para resolver a questão, reuniu-se "uma comissão de altas entidades maçónicas", que por fim decidiu que a escolha do discípulo um tanto quanto surpreendente não feria o princípio maior da maçonaria, pois "este e Satã ou Lúcifer, o portador da luz, são a mesma entidade".


E ficou ele com o pseudónimo com que passou a assinar artigos satíricos na imprensa anarquista: jornais Acção Directa, do Rio, e A Plebe, de São Paulo. Então chamava-se doutor Satã, pois aproveitou o título obtido na universidade com tese "Os Temperamentos e Suas Manifestações Gráficas".


Roberto grafólogo: é uma das suas facetas. Até hoje ele tem clientes que não admitem empregados sem antes submeter a letra do candidato ao seu exame. Inclusive os noivos das filhas escrevem, e o poeta libertário vê nos rabiscos "o espelho da alma: carácter e personalidade, humor, todas as características pessoais"


Roberto costuma afirmar que os maiores pensadores do anarquismo foram maçons: Kropotkin – "que baseado nos arquivos da organização escreveu sobre a Revolução Francesa" —, Bakunin, Max Stirner, E. Armand, Han Ry-ner, Luisa Michel, Sebastian Faure, Malatesta, Herbert Spencer, Benjamim Tucker, Jean Grave, Proudhon — "co-autor do Manual do Rito Moderno ou francês" – e Leon Tolstói.


Sua ligação com a maçonaria vem das conferências que proferia na Europa e no Brasil em lojas, algumas clandestinas sob ditaduras, a respeito do anarquismo. Embora hoje afastado das reuniões maçónicas, "sem frequentar normalmente", reconhece o poeta que "a humanidade a ela deve muito, por ser um dínamo que a acciona". A instituição dos pedreiros-livres, diz ele, "nos impulsionava, obrigava-nos a pensar, a estudar juntos. Pior seria se não existisse, apesar de seus defeitos".


Socialismo libertário como grande saída


Quanto aos defeitos, Roberto um dia encarou-os de frente e atirou sólidas tijoladas na acomodação da instituição que "representa o desenvolvimento, o poder e a decadência moral da burguesia" sem conservar muito da tradição revolucionária de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.


Na ocasião das críticas, chegou a dizer: "A sociedade secreta, que hoje subsiste com o nome de maçonaria, se quiser sobreviver, tem de adoptar um novo objectivo: o socialismo libertário. Só ele concilia os direitos inalienáveis do indivíduo com as soluções colectivas. Se tem que preparar os espíritos para a Anarquia. Uma sociedade sem escravos nem senhores, sem fronteiras nem exércitos, sem Estado nem propriedade de uns em detrimento dos que a trabalham. Uma sociedade em que os indivíduos saibam governar-se dispensando o Estado — em que o governo dos homens seja substituído pela administração das coisas."


Encontra-se dentro dessa polémica suscitada dentro da organização maçónica todo o ateísmo anarquista, que Roberto procura esclarecer. "A maçonaria", prossegue, "fez reviver e popularizou nas sociedades modernas que o universo não tem começo nem fim: está em permanente devir. No universo regido peia lei da evolução permanente, portanto, Deus não tem nada que fazer. Tudo é força da mecânica molecular, do átomo em suas variações, eterna e infinitamente combinadas pelo próprio dinamismo, sem um ordenador, sem força externa."


''Nunca tive simpatia pelas maiorias"


Transportado para o terreno filosófico, político e sociológico, esse princípio da maçonaria teve impulso renovador sobre as instituições vigentes: "Derrubou as monarquias do direito divino, o feudalismo e a Inquisição, tão caros à Religião e a Deus (sinónimo do culto do passado, de tirania, de estagnação e morte)".


A aliança entre o despotismo e a religião, o poder e a mistificação religiosa, a "Espada e a Cruz é de todos os tempos", revela Roberto. "O Estado, ou seja, a Autoridade, a opressão do homem pelo seu semelhante, é. uma injustiça, uma imoralidade, absurdo tão gritante que é necessário que a Religião venha abençoá-lo em nome de Deus para que os homens acatem e submetam o pescoço à canga."


Finaliza o ateu: "Os homens não necessitam da hipótese Deus para meditar, mover-se, comer, beber, defecar, amar, praticar uma boa acção, sentir as emoções do belo e do elevado, viver. Deus não é só indiferente perante as volições de cada um, mas repugna à inteligência de muitos. A minha, jamais, desde a infância, pôde concebê-lo."


Faço-lhe perguntas procurando uma reconciliação, que os anos avançados talvez possam trazer, com a espiritualidade:


"Reconhece que essa dimensão espiritual faz parte da vida humana?", digo.


"É um ponto de vista diferente do nosso. (...) Não tenho motivo algum para abjurar dos meus pontos de vista. Sou isso desde os 10 anos. Eu no fundo sou individualista, embora aceite muitas vezes o comunismo libertário, que é menos perigoso do que o outro comunismo à maneira russa. Isso quando não se está preparado ainda para uma coisa de maior expressão em bases individualistas, o que supõe uma mentalidade que a humanidade não atingiu."


"Diante das correntes de esquerda hoje em actividade, você não fica marginalizado?", interrogo.


Com calma vem a resposta: "Eu sempre me considerei membro da minoria. Nunca tive simpatia pela maioria, tão habituado estou a ver que a maioria é constituída por imbecis, por analfabetos, por hipócritas."


Indago ainda se ele vê alguma virtude na revolta.


Segundo Roberto das Neves, "a revolta é indispensável. Se não há revolta, o mundo continua como está. É preciso, porém, saber aplicar a revolta."


Quero saber se ele é adepto do pacifismo.


"Sim. De vez em quando, diante de um hipócrita ou de um covarde não recorro à violência das armas. Procuro a arma da sátira."


Faço mais uma pergunta a respeito da revolta, se ela não pode enfim amargurar a vida de uma pessoa.


Ele confirma. Explica: "Mas o mundo não caminha sem amargura, sem sofrimento, infelizmente."


Roberto, todavia, não deixa de fazer com gosto o seu trabalho. Mantém intacto o sentido ético no relacionamento humano, vê-se nele alguém afável, atencioso, de vez em quando gozador, porém nunca odiento. Várias vezes interrompe a entrevista para fazer-me perguntas pessoais, e se mostra interessado nas respostas.


Provado: a falência das instituições


As ideias anarquistas nele já estão amadurecidas, frutos de muitas reflexões, estudo e inspiração, pois se trata de um poeta. Sua musa inspiradora, pode-se dizer, é a anarquia. É ela que lhe abre os olhos para as injustiças e o coração para as alegrias da vida. Anteriormente, a questão social aparecia em seus livros em primeiro plano. Agora, no que editou, transparece mais a preocupação com o naturismo, se bem que no balanço final, quando ele formula a noção de "sifilização cristã", dá no mesmo. Todas as instituições ocidentais cabem dentro da deterioração interna por ele apontada.


Falta, sobretudo, na sociedade de hoje, solidariedade, livre acordo mútuo nas organizações – ele dá a entender —, e sobra autoridade, mando sobre os semelhantes do homem. No casamento, na questão da mulher, na criação das crianças, a contaminação do poder é abusiva. Ao mesmo tempo Roberto atesta a falência das instituições: na mulher ou no marido que traem a relação matrimonial, no filho que cresce revoltado e na mulher que aproveita as mínimas brechas para improvisar uma desforra dos anos de subjugação.


Provoco-o um pouco mais em busca de alguma fé recôndita. Insisto em obter dele uma confissão qualquer de espiritualidade. Toco no momento Nova Era e questiono as afinidades que tenha com suas ideias.


"Muitas, Estou inteiramente de acordo. Eles recusam a prestação de serviço militar: não querem matar pessoas de quem não tenham razão de queixa. Nem morrer."


"Mas isso não tem um fundo místico-cristão?", digo só para pôr lenha na fogueira.


"Nem todos", afirma ele. "E, ainda que tenham, a gente perdoa."


"Segundo a Nova Era, a humanidade, a superar o carma que tem a cumprir, virá com mentalidade mais evoluída", comento.



Roberto espera isso: "Não afirmo que virá, mas espero que venha."


Ele tem esperanças "de que a humanidade reconheça que é estúpida, que muitas ações que vem tomando não se justificam. Como, por exemplo, matar e morrer, querer o salvador, o infalível, o proprietário único da verdade. A civilização moderna, aquilo que chamo de sifilização cristã..."


Aproxima-se o meio-dia: hora de irmos até o centro de ónibus, almoçar no vegetariano da cooperativa. O Rio está nublado.