28.2.05

Dumping social e dumping ambiental

Fala-se em dumping social quando os preços baixos dos bens resultam do facto das empresas produtoras estarem instaladas em países onde não são cumpridos os direitos humanos mais elementares, assim como direitos dos trabalhadores internacionalmente reconhecidos, nomeadamente aqueles que estão previstos pela Organização Internacional do Trabalho, pelo que os custos sociais da mão-de-obra são extremamente baixos permitindo consequentemente uma descida artificial dos preços produzidos em condições laborais ilegítimas e que vão contra a dignidade humana.


Fala-se em dumping ambiental quando os preços baixos dos bens resultam do facto das empresas suas produtoras estarem instaladas ( ou terem-se instalado) em países cuja legislação não exige o cumprimento de normas de defesa do ambiente, nem seguem os habituais padrões de qualidade do ambiente existentes nos países desenvolvidos, pelo que tais empresas economizam custos ao não efectuarem investimentos no domínio ambiental a que estariam obrigadas se estivessem instaladas em países desenvolvidos.

Escusado é dizer que tanto o dumping social como o dumping ambiental constituem as razões mais fortes ( e frequentes) para a deslocalização das empresas, isto é, a transferência das suas instalações de fabrico e produção de uns países onde os direitos dos trabalhadores, a qualidade de vida e o ambiente são melhor salvaguardados para outros países onde tal não acontece.


A prática do dumping está pois relacionada com a situação na qual produtos de um determinado país são introduzidos no comércio de outro país a um preço inferior ao valor ( preço) que seria normal se fossem respeitadas as normas laborais e ambientais. Assim o preço do bem importado é inferior ao preço do bem se este fosse fabricado no país cumpridor daquelas normas.

O dumping representa, por si mesmo, uma prática prejudicial e condenável, estando vinculado com outras práticas desleais de comércio como o underselling e o preço predatório.

A bicicleta é subversiva!

A bicicleta é subversiva! Quem diria?...


(tradução livre do texto sob o título” Vicissitudes das bicicletas” de Fernando Buen Abad Dominguéz e editado em www.barriocarmen.net)

Apesar de marginalizadas pela cultura do automóvel, as bicicletas não desistem de se afirmarem nas sociedades ocidentais contemporâneas. É certo que não poucas vezes desempenham a função de simples brinquedo, há muito tempo guardado no mundo dos sonhos infantis, que é oferecido como prenda no Natal, por ocasião de outras festas…ou então, como simples artefacto desportivo capaz das maiores façanhas olímpicas ou de simples e relaxantes passeios matinais.
Espantosamente acabam sempre por ficar estacionadas nos mais estranhos lugares, talvez como recordação de uma certa culpa por uma vida e uma ginástica perdida. Mas a verdade é que a bicicleta contém todo um outro potencial nas específicas circunstâncias das nossas cidades em termos de distância, clima e educação. Na realidade, nas condições económicas, políticas e culturais que as sucessivas crises nos lançaram, assim como por imperativos de ordem ecológica, urbanística e de saúde pública, a bicicleta bem pode ser a resposta e solução para um sem número de problemas relacionados com os transportes.
Na balança das vantagens e inconvenientes das bicicletas move-se naturalmente toda a força de inércia que prende as pessoas anónimas a determinadas variáveis difíceis de se alterar. Mas não é menos verdade que na balança movem-se poderosíssimas inércias artificiais engendradas por projectos económico-ideológicos empenhados a impedir o desenvolvimento da mais barata solução do problema económico e social que é o transporte. Com efeito, o custo e as vantagens da bicicleta deixam os outros tipos de veículos a milhas de distância. O que a torna perigosa e subversiva.
Enquanto as grandes empresas de automóveis se embriagam com records de vendas dos seus veículos, e os políticos mancomunados com os empreiteiros se afadigam a esventrar as terras construindo auto-estradas, estradas principais e secundárias, a bicicleta aguarda a sua vez para pôr em cheque uma estrutura económica e social em vias de se desmoronar.

O maior desafio da bicicleta não é no entanto, só de carácter técnico ou económico. Ela enfrenta ainda o poderoso fetiche publicitário que converteu o automóvel em símbolo do status social, isto é, da condição social do seu proprietário ou usuário. Enfrenta pois o poder ideológico de um sinal de classe.
Por mais esforços que se façam a ideia da democratização do transporte automóvel e do desenvolvimento do transporte público têm minado o potencial da bicicleta, sem negar evidentemente as vantagens de um e do outro.
É bom que se note, porém, desde que Blanchard e Masurier idealizaram a sua Celerífiro em 1779, antecedente da bicicleta moderna, mais os contributos de Macmillan em 1839, até às bicicletas de carbono ultraligeiras para funções com alto rendimento, passando pelos tandem, side cars, triciclos, etc,etc, a procura de sistemas de transporte com custos baixos e com maiores benefícios inquestionáveis para a saúde, nunca parou. Imagine-se até que, recentemente, alguém inventou com algum laivo surrealista, bicicletas fixas com um só roda para efeitos de ginástica pessoal e de beleza física.

Com as suas vantagens e benefícios a frágil bicicleta questiona e interpela o urbanismo, a arquitectura, os programas políticos e até, pasme-se, a moral. Não foram poucas as objecções moralistas quando as mulheres pretenderam também andar de bicicleta Para os olhos dos conservadores da época era algo de obsceno ver uma mulher montada num meio de locomoção, desenvolvendo movimentos musculares a bordo de uma simples bicicleta.

Virtualmente todo o espaço pode ser utilizado por uma bicicleta, sem necessidade de reservar vias especiais para o seu uso. Desgraçadamente não existe qualquer regulamentação ou legislação que favoreça o uso da bicicleta. E isto apesar das virtualidades socializadoras que a bicicleta pode encerrar entre os seus utilizadores. Com efeito, a bicicleta estimula o passeio, facilita a circulação e o acesso a zonas saturadas de tráfico automóvel, diminui radicalmente os custos energéticos, os custos em estacionamentos e parkings, e elimina toda a burocracia que gira em torno do todo-poderoso carro. No fundo, a bicicleta é perigosa.

Uma boa bicicleta envolve sempre, pelo menos, duas pessoas. Uma cultura da bicicleta mobilizaria a história. Com tracção humana.

Consultar mais em :
www.barriocarmen.net/fernandobuenabad

A essência da guerra ( por Orwell)

«A essência da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas do produto do trabalho humano. A guerra prefigura a forma ideal de despedaçar, de lançar na estratosfera ou de afundar nos abismos marítimos produtos que, de outro modo, poderiam servir para dar às massas um conforto excessivo, e por conseguinte, a longo prazo, torná-las extremamente lúcidas. Mesmo que o armamento não chegue a ser de facto destruído, o seu fabrico, ainda assim, ocupa, na prática, forças de trabalho sem nada produzir que possa ser consumido.
Se todos tivessem igual acesso ao lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela.»

George Orwell, 1984,ed. Antígona

Cuidado! As palavras enganam....

Cuidado! As palavras enganam: ocultam a realidade...

Sim, é preciso ter cuidado com as palavras. As palavras podem induzir muitas vezes a enganos e levar a interpretações erróneas. Exemplos?

Por exemplo:

E se, afinal, os liberais no governo e no poder, em vez da Ordem Social que tanto gostam de falar, fossem os verdadeiros defensores da Desordem Social?
E se os anarquistas, apesar do aparente significado de anarquia ser sinónimo de desordem, serem eles realmente os arautos da Ordem Social?

E se os militares de todos os exércitos fossem os verdadeiros terroristas, aqueles que semeiam o perigo e a ameaça de terror sobre países e populações indefesas, enquanto os supostos terroristas, e acusados como tal, mais não fossem que simples campónios a defenderem, com machados e enxadas tecnologicamente actualizadas, as suas terras e os seus valores ancestrais?

E se os verdadeiros professores e pedagogos já não se encontrassem hoje nas escolas a ensinar alunos, mas antes nos balneários e nos relvados dos estádios a prepararem afanosamente os seus pupilos para serem cada vez melhores em cada semana, em cada prova e em cada teste que semanalmente os jogadores tiverem que se submeter? Enquanto nas escolas o que existem são sim autênticos treinadores e adestradores que domesticam os jovens na disciplina social da competição e do individualismo selvagem do mercado de trabalho?

E se aos que actualmente chamamos de desportistas não fossem aqueles que nós vemos na Sport TV, mas antes exímios actores do Espectáculo semanal e lucrativo , enquanto os verdadeiros desportistas, em vez de se encontrarem nos relvados, estão antes nas praias, nos jardins, nas ruas?

E se aquilo a que chamamos TV é, afinal, de contas uma verdadeira fábrica de cidadãos apáticos e estúpidos, tão sofisticada e tão poderosa, que mal a conseguimos associar à indústria e à produção em série, enquanto os recintos em que foram instaladas as modernas e tecnologicamente avançadas indústrias são verdadeiros parques tecnológicos de entretenimento para quem circular, dentro deles, diariamente.

E se os padres e moralistas fossem, afinal, os verdadeiros pecadores da imoralidade, enquanto as mulheres endiabradas e todos os homens acusados de blasfémia e que são condenados à excomunhão são os verdadeiros sacerdotes da Religião Celestial do Sublime, um ideal que todo o ser humano pretende alcançar?

Por tudo isso é que preciso, talvez, uma Revolução nas Palavras como condição prévia para a Revolução Social