20.7.07

Indústrias culturais, massificação e cultura de massas

Inicialmente falou-se de «indústria cultural», termo usado pela primeira vez em 1941 por Adorno e Horkheimer, para substituir um outro, porventura menos preciso e que fora usado até então: o de «cultura de massas».
Actualmente dá-se, no entanto, preferência à expressão «indústrias culturais» do que ao seu singular, uma vez que são muitas, e as mais variadas, as «indústrias culturais».

Com a expressão indústrias culturais pretende-se designar a produção, transformação, reprodução, armazenamento, transmissão e venda em grande escala ( com critérios comerciais e industriais) de bens e serviços culturais, transformados em bens de consumo social massivo por intermédio dos mass media.

(Mass media não se costuma traduzir, sendo uma expressão que pretende designar os meios de comunicação de massas, ou melhor ainda, os meios massivos de comunicação, já que o objectivo não é o da comunicação das massas, mas antes permitir que estas sejam conduzidas de maneira massiva. Assim podem ser abrangidos com este termos todos os meios de difusão de mensagens, como seja a rádio, a tv, os livros, os jornais e revistas, os discos, o cinema, os anúncios publicitários, etc., que são veículos que permitem alcançar um grande número de receptores, constituindo-se assim numa forma de comunicação impessoal, a qual é produzida segundo um esquema de tipo industrial e dirigida a uma massa indiferenciada de potenciais consumidores)


A expressão «indústrias culturais» contém em si um sentido crítico pois pretende denunciar o meio actualmente mais poderoso de penetração ( impregnação) e colonização cultural nas sociedades capitalistas contemporâneas, muito embora tenha vindo a ser utilizado nas últimas décadas para um registo eminentemente tecnocrático. Não obstante, a expressão «indústrias culturais» mantém aquele sentido crítico na medida em que é geralmente aceite que as indústrias culturais favorecem e promovem a cultura da evasão, do entretenimento, da passividade e do amorfismo.

Em contraponto às indústrias culturais existe todo um conjunto de metodologias e acções que visam lutar contra a homogeneização e a passividade produzidas e induzidas pelas indústrias culturais, assim como conformismo social a o poder trivializador dos meios e recursos mobilizados pelas indústrias culturais.
Exemplos daquelas acções e metodologias poderão ser a animação sócio-cultural, ou a investigação-acção nas ciências sociais.



Cultura de massas é o resultado e consequência dos mass media, isto, do consumo massivo dos produtos das indústrias culturais.
Cultura de massas serve também para designar a estandardização dos gostos e interesses, bem como ao peculiar tipo de comportamento social, maneira de viver e pensar que é produzido e veiculado pelos mass media, muito em especial, pela televisão, cinema, publicidade, indústria discográfica, etc.
A cultura de massas é, pois, o resultado directo da acção dos meios de difusão massiva de mensagens e símbolos, e deve associar-se a todo o processo de manipulação e pilotagem que se serve desses meios massivos para influenciar os sistemas perceptivos, as expectativas, gostos, tendências, ideias e valores da população em geral, acarretando os inevitáveis efeitos generalizados de homogeneização, uniformização e dominação.



Dominação cultural baseia-se no poder exercido de uma cultura sobre outra(s). Nas nossas sociedades hierarquizadas o domínio económico confunde-se com o domínio ou a dominação cultural, consistindo esta na invasão e penetração directa ou inconsciente dos padrões culturais dominantes em todas as esferas da vida de uma sociedade, principalmente nos códigos simbólicos estruturantes do comportamento dos indivíduos e dos grupos, com efeitos práticos de distorção e domesticação, mas que abrange toda a totalidade da sociedade.
A hegemonia social não se processa só em termos de governação estatal, nem apenas por via económica, mas antes inculcando todo um sistema cultural concretizado num específico modo de vida e de acção.



Massificação cultural não é o mesmo que democratização cultural nem ambas se confundem com a democracia cultural

Massificação cultural é a produção e o consumo em série de bens e serviços de carácter cultural para o consumo em massa de um grande número de indivíduos, pelo que as suas qualidades uniformizadoras e domínio resultam não só na sua tentativa de homogeneizar passivamente os potenciais receptores-consumidores como ainda da sua característica para mobilizar principalmente, senão mesmo exclusivamente, os lugares comuns e as tendências humanas primárias.

Exemplo: a massificação escolar leva somente à mobilização de competências primárias dos alunos-clientes


Democratização cultural consiste no processo mediante o qual se pretende difundir e alargar os bens culturais ao conjunto da população

Exemplo: a abertura de um museu ou de uma galeria

Democracia cultural consiste num processo cujo fim é assegurar que todos os indivíduos de uma dada comunidade ou sociedade disponham dos espaços, instrumentos e meios necessários para que, com liberdade e autonomia, possam desenvolver criativamente a sua vida cultural. A noção de democracia cultural vai, por conseguinte, mais além do que o simples objectivo de promover o acesso à cultura, porquanto o objectivo último é a acção activa e participada dos indivíduos e grupos na criação e transmissão cultural.

Exemplo: a criação de associações e cooperativas culturais, espaços de criação e produção cultural, oficinas e ateliers, etc.