9.10.05

Sobre os jornalistas de hoje…

Por Raul Simões Pinto

Os grupos e os lobbies instalados castram os escribas, e limitam em grande parte a sua liberdade de expressão e os seus ideais políticos e filosóficos. Deste modo, são manipulados pelo poder e pelas chantagens dos patrões e assim reduzem quase toda a sua acção a vectores de lucro, trabalhos rápidos e efémeros, desprezando os velhos hábitos dos jornalistas boémios e os valores de amizade, dos copos e das noites vadias no Ginjal, no Luso, no Big Bem, na Sá Reis, no Majestic, no Piolho, etc –locais de tertúlia e de gozo, ambientes de critica, fugas à censura e fintas à polícia política.. Actualmente são poucos os que se juntam para reflectirem e animarem a classe «dos jornalistas e homens das letras»; as éticas e as deontologias apreendidas nas Escolas e Universidades, foram rapidamente esquecidas e deram lugar às «notícias-sensação», lutando-se pelo furo jornalístico e pela manutenção óssea do trabalho. Por vezes, o sangue derrama para protagonistas ferozes, e quanto mais se é filho da puta, mais se sobe na carreira e na hierarquia dos poderes. No caso concreto e em termos jornalísticos, fode-se o estagiário, «come-se a estagiária», roubam-se as ideias e os planos dos miúdos, censuram-lhes os artigos , obrigam-nos a censuras permanentes, dado que o ter trabalho no jornal, raio ou televisão, mesmo sem ser pago, significa muitas vezes a escravização física e intelectual dos mensageiros…Vingar nesta profissão só quase com ene padrinhos e cunhas, ou então, fodem-se os vizinhos, roubam-se cassetes, paga-se aos «bufos» dos ministérios ou dos clubes de futebol, e entra-se no jogo sujo da corrupção sem escrúpulos, sem privacidades e sem sigilo profissional ou segredos de justiça – enfim vale tudo, até arrancar os olhos e o sangue das notícias. Generaliza-se a mentira, inventam-se novas mentiras e novos factos monstruosos, mas em que não existem provas concretas e factuais, só puras especulações e alguma ficção, digamos, científica. Manipulação sistemática, alienação permanente ao Zé povinho, anestesiado pela injecção atrás da orelha, esquisito e dobrado sob o peso da ditadura dos Media e do Espectáculo ( o futebol, as telenovelas e as Quintas das Celebridades torna-os otários e teledependentes, fiéis ao pastor e ao rei), assim se vai dominando o Zé Povinho, dando-lhe pão e circo, tornando-os subsídio-dependente, amarrando-lhe a cabeça ao estômago…


Excerto de um texto com o título « Palhaços e assassinos dançam a ronda no pinhal do rei», cujo autor é Raul Simões Pinto, publicado no nº2 da «A Voz de Deus», publicação contracultural

Acabou de sair o nº2 da «A Voz de Deus», desta vez dedicado ao tema «O sangue dos Jornalistas».

Colaboram neste segundo número: Helena Brandão, Mário Galego, Ivar Corceiro, José Manuel Rosendo, Fernando Morais, Nuno Rebocho, Virgilio Liquito, Mário Augusto, Jorge Mantas, Nunes Zarelleci, Óscar, Fernando Guerreiro, Raul Simões Pinto, Rui Carlos Souto e Pedro Moura. Arranjo Gráfico: Mão Pesada.


«A Voz de Deus» é uma publicação das Edições Mortas e da livraria «A Pulga, a minha querida livraria».

Podem encontrar esta ( e outras) publicações na Livraria «A Pulga» (entre as 15 e as 19 h.), no Parque Itália, loja 70, na Rua Júlio Dinis 752 ( perto da Rotunda da Boavista) ou então contactar para o tlm 91 422 30 65

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