18.8.05

Urbanismo sustentável



Autor: Jacinto Rodrigues

1 – Dote-se o país de geradores de energia renovável(eólicas, protótipos solares – fotovoltaicos, gazómetros de biogás, centrais de marés, anemotrices e sistemas de produção hidroeléctrica). Articulem-se os vários sistemas entre eles, porque a complementaridade das energias renováveis é evidente. Exemplo: quando desaparece o sol levanta-se o vento; o gás metano pode aumentar se aquecido por processos energéticos suplementares.
Por isso, as minicentrais de múltiplos processos de produção energética são essenciais.


2 – Dote-se o país com um plano hidrológico descentralizado. Por exemplo: com pequenas e médias albufeiras ( formando uma coluna vertebral entre interior e litoral, cruzando os vários rios do país) poder-se-á permitir uma maior igualdade de oportunidades hídricas para todo o país.

3 – Plantem-se florestas e não «florestas industriais» (monocultura de eucaliptos).
Exemplo: organize-se uma eco-agricultura que articule harmoniosamente os vários sistemas integrados do desenvolvimento rural, onde se possa conceber uma rede sanitária e formativo-informática. É para isso que pode ser útil o avanço da interacção cibernética e telemática.

4 – Dote-se o país de estações biológicas de reciclagem de lixos e águas residuais. Serão estações descentralizadas, em vez de mega-estruturas ( industriais e hipercentralizadas) que apenas transformam lixo noutros lixos mais venenosos ( as dioxinas). As estações biológicas descentralizadas têm outra lógica. São «máquinas vivas» que reciclam e renovam. É uma lógica eco-sistémica e não tecnicismo das indústrias de tratamento químico. As estações biológicas de reciclagem resultam da organização consciente dos eco-sistemas, de maneira a que os lixos, reduzidos ao mínimo, sejam introduzidos no sistema ecológico, integrando um ciclo auto-organizado. Exemplifiquemos com um tipo de «bio-ETAR» ( estação ecológica de tratamento de águas residuais) para melhor vivermos a diferença entre a tecnociência e a ecotécnica.
Exemplo: uma parte da aglomeração urbana ( bairro) ou então num pequeno aglomerado rural, como em Jarna (Suécia), existe uma mancha verrde que entra dentro da povoação e se distende até ao Báltico. À primeira vista é um jardim com lagos, flores e árvores. Mas, aproximando-nos um pouco, vemos cascatas com formas escultóricas fazendo redemoinhos na água batida que se lança em pequenas lagoas com jacintos aquáticos, junquilhos e algas.
Envolvendo as margens, existe um enorme roseiral e, num círculo mais estrito, os junquilhos cercam o pequeno lago de águas oxigenadas pelas cascatas e filtradas por areias e argila. Algas, fungos, caracóis e peixes constituem elementos de um ecossistema variado onde não faltam patos selvagens.
As pequenas lagoas vão-se interligando por canais que anunciam novos ecossistemas. Durante este percurso, onde uma flora abundante envolve os tais jardins, descobrimos que as águas residuais se vão reciclando…Trata-se de uma estação ecológica de «tratamento» de águas e resíduos orgânicos.
De facto, é um jardim útil e agradável. Útil pela reciclagem e agradável. Útil pela reciclagem, mas ainda pela produção de excedentes: peixes, patos e plantas podem ser retirados para alimentação. No miradouro da meditação, já junto ao Báltico, a água corria transparente e límpida. Demo-nos conta de que aquele jardim agradável e tão útil continha este mistérios espantoso da reciclagem da natureza.
Esta organização geram do território, reequilibra as regiões e cria sustentabilidade para o país. Esta decisão estratégica é essencial como força motora.
Mas é importante que os municípios giram eles próprios novas sinergias desses ecodesenvolvimento.
Em Maio de 1994 decorreu na Dinamarca, em Aalborg, a conferência europeia sobre cidades sustentáveis. Estabeleceu-se uma carta – conhecida hoje pela carta de Aalborg.
Várias cidades subscritoras desse documento pretendem levar à prática a sustentabilidade das cidades europeias, mostrando ser possível, a um nível mais local, concretizar o espírito da Conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro em 1992.
No concurso de ideias para Monção foi aprovada uma estratégia de uma ecopólis, uma proposta de cidade ecológica. Aproveitando os recursos geotérmicos, a proposta aprovada defende estes pressupostos de urbanismo ecologicamente sustentável.
Está, pois, a gerar-se por toda a parte a necessidade de se promoverem soluções de ecodesenvolvimento. É preciso dotar as instituições de formação de planeadores e urbanistas de maneira a poder dar-se uma resposta teórica e ecotécnica à nova organização territorial que a nova sociedade vai exigindo.

Autor: Jacinto Rodrigues
(reprodução integral de um artigo de Jacinto Rodrigues publicado no Jornal de Notícias de 25 de Agosto de 1995)