Foi reeditado em França o livro de Raoul Vaneigem, «Le Mouvement du libre-esprit», editado pela «L’or des fous editeurs», 2005, que se encontrava há muito tempo esgotado. Trata-se já de um clássico do livre-pensamento e de leitura incontornável para todos os livres-pensadores
“A tese do livro é radical e cheia de consequências: «A Idade Média foi tão cristã quanto os países do Leste foram comunistas», pelo que é preciso acabar com a lenda de uma Idade Média mergulhada na fé cristã como sardinha em azeite. Quem é que hoje recusa as imagens convencionais da vida medieval? Quem lê ou faz ler, comenta e divulga as obras dos monges e das monjas hedonistas, desses beguinos e beguinas, amaurianos e outros, adamitas da Boémia, alumbrados e loistas? (…) colocado sob o signo da vida, do nascimento, das forças e das energias que a manifestam, o pensamento de Vaneigem, deliberadamente ao lado da resistência, entrega-se inteiramente à causa de Eros, de Baco, de Dionísio e de um Prometeu que colocava a sua força ao serviço das causas libertárias.»” escreve Michel Onfray na contracapa da nova edição do livro de Raoul Vaneigem sobre os irmãos do livre espírito.
É para desfazer as ideias feitas e desmontar as imagens da historiografia oficial sobre a Idade Média que um autor como Raoul Vaneigem se lançou à pesquisa histórica, e a passou para o livro com o título «O movimento do livre-espírito, generalidade e testemunhos sobre os afloramentos da vida à superfície da Idade Média, do Renascimento e, incidentalmente, da nossa época». A primeira edição tem data de 1986, mas já há muito que se encontrava esgotada, pelo que se impunha uma reedição que foi entregue às edições «L’or des fous editeurs».
A obra reeditada neste ano (2005) inclui um novo prefácio do autor, que traduzimos no post a seguir para português na sua integralidade sob o título «Libertar a terra das ilusões celestes e da sua tirania»
Nota de esclarecimento:
Irmãos do Livre Espírito são a designação dada a um vasto movimento herético que surgiu e alastrou na Europa, sobretudo nos centros mais desenvolvidos (norte de França, Países Baixos, Renânia ao longo das margens do Reno, Baviera, etc) durante o século XIII e se manteve por cinco séculos seguintes. Caracterizava-se por um grande misticismo em torno da liberdade individual, considerada um meio indispensável para atingir a revelação. Há quem fale que a sua gnose era uma espécie de anarquismo místico, tal era a sua afirmação incondicional da liberdade subjectiva que negava qualquer constrangimento exterior ao defenderem a comunidade de bens materiais e sexuais. Daí terem sido considerados a única doutrina social verdadeiramente revolucionária que existiu nessa época