24.3.09

«Minha pátria é o mundo inteiro», livro biográfico sobre Neno Vasco, da autoria de Alexandre Samis, acaba de ser editado pela Letra Livre

Acaba de sair a obra de pesquisa histórica, «Minha Pátria é o Mundo Inteiro» de Alexandre Samis sobre o militante anarquista Neno Vasco (1878-1920), um intelectual que actuou nos meios operários em Portugal e no Brasil com particular importância na imprensa sindicalista da época.

Apesar da sua morte prematura destacou-se como um dos mais importantes militantes anarquista da sua época, sendo autor do livro «A Concepção Anarquista do Sindicalismo».

Neste 90º aniversário da fundação da CGT e do jornal A Batalha esta é uma contribuição ao conhecimento da história do anarco-sindicalismo em Portugal.

Minha Pátria é o Mundo Inteiro. Neno Vasco, o Anarquismo e o Sindicalismo Revolucionário em Dois Mundos. Alexandre Samis.
edição Letra Livre, Lisboa, 2009. 455pp.
25,00 €, desconto 10% para compras individuais, 30% para compras de grupos.

Livraria Letra Livre
Calçada do Combro, 1391200-113 Lisboa
Tel: 213461075



Neno Vasco ou Gregório Nazianzeno Moreira de Queirós e Vasconcelos (1878 - 1923) foi um poeta, advogado, jornalista e escritor, ardoroso militante anarco-sindicalista nascido em Portugal. Emigrou para o Brasil onde estabeleceu uma série de projectos com os anarquistas daquele país. É de sua autoria a tradução do hino A Internacional , a mais difundida nos países de língua portuguesa.

Gregório Nazianzeno Moreira de Queiroz e Vasconcelos, mais conhecido como Neno Vasco, nasceu em Penafiel em 9 de Maio de 1878. Aos 8 ou 9 anos de idade imigra junto com seu pai e sua madrasta para a cidade de São Paulo, no Brasil. Alguns anos depois regressa a Portugal para concluir seus estudos indo viver na casa de seus avós paternos em Amarante.

Matricula-se na Faculdade de Direito do Liceu onde passa a ter aulas. Tem como colegas e amigos futuros ilustres da intelectualidade portuguesa como o poeta Teixeira de Pacoaes, Faria de Vasconcelos e António Resende. No ano de 1901 conclui o curso de bacharelado. Ao mesmo tempo passa a empreender actividades militantes, em 2 de Março de 1901 publica o panfleto - A Academia de Coimbra ao Povo Portuguez - onde faz uma ferrenha crítica às arbitrariedades da polícia. Neste mesmo ano começa a escrever artigos para o jornal republicano O Mundo, à época publicado em Lisboa sob a direcção de Mayer Garção.

No final de 1901 retorna ao Brasil onde rapidamente estabeleceu contacto com anarquistas italianos através dos quais tomou conhecimento da obra de Errico Malatesta que daquele momento em diante exerceu uma profunda influência em seu pensamento. Em poucos meses passou a se corresponder com Malatesta e neste contacto as suas ideias e concepções foram modificadas. Do Brasil escreveu e enviou textos sobre literatura e revolução a serem publicados em Portugal na revista A Sementeira na qual também escreveu um artigo memorável sobre a obra, vida e morte do francês Octave Mirbeau.

Na cidade de São Paulo em 1902 passa a editar o jornal Amigo do Povo junto com Benjamim Mota, Oreste Ristori, Giulio Sorelli, Tobia Boni, Ângelo Bandoni, Gigi Damiani e Ricardo Gonçalves. A influência do periódico foi imediata sendo ele apropriado, não só como um dos principais espaços de diálogo sobre o movimento anarquista brasileiro, mas também lócus de reflexão de questões relacionadas à "emancipação feminina" por um número considerável mulheres notáveis que passaram a contribuir para esta publicação. A partir destas discussões Neno Vasco publicou um artigo neste periódico refutando a tese do naturalista Émile Zola acerca da fecundidade. Algum tempo depois lançou a revista Aurora.

Nas páginas do jornal Voz do Trabalhador Neno Vasco respondeu às críticas de alguns anarquistas (entre eles Luigi Galleani) que acusava as organizações anarco-sindicalistas de serem apenas uma nova forma de governo. A polémica sobre as relações entre anarquismo e sindicalismo, gerou na época um amplo debate, importante para a compreensão das diferentes correntes dentro do movimento libertário em relação ao movimento operário e à suas organizações.

No ano de 1904 traduziu para o português do francês a obra "Evolução, Revolução e Ideal Anarquista" do francês Élisée Reclus. Em 1905 casou-se com Mercedes Moscovo, anarca-feminista filha de uma família espanhola e anarquista por gerações. A esta época desenvolveu intensa actividade de propagação do pensamento libertário tornando-se uma referência entre os libertários brasileiros com os quais colaborava. Também neste ano passou a editar o periódico A Terra Livre com sua esposa, Edgard Leuenroth e outros. Ao mesmo tempo manteve diálogo com outros anarquistas de origem portuguesa que, actuavam no Brasil, entre eles Adelino Tavares de Pinho - um comerciante do Porto que exercera a função de professor na Escola Moderna -, Marques da Costa - editor do jornal O Trabalho -, Manuel Cunha, Diamantino Augusto, Amílcar dos Santos, Raul Pereira dos Santos, José Romero, etc.

Em 1909 traduziu o hino internacionalista progressista A Internacional do francês Eugène Pottier para o português. Rapidamente a sua versão se difundiu no meio anarco-sindicalista, tanto no Brasil como em Portugal, passando a ser ouvido em manifestações operárias como greves e comícios nestes dois países desde então.

Proclamada a República em 1910, Neno Vasco retornou a Portugal onde continuou a desenvolver sua militância anarquista, colaborando com a imprensa anarquista brasileira como correspondente. Tornou-se colaborador constante da revista libertária A Sementeira na qual escreveu sobre a situação social no Brasil.

No ano seguinte, nos dias 11, 12 e 13 de Novembro participou do 1º Congresso Anarquista Português. Em 1912 lançou a colecção 'A Brochura Social' com Lima da Costa editando duas obras, tomou parte em diversos encontros anarquistas como a Conferência Anarquista de Lisboa em 1914, publicou o folheto "Geórgias: ao trabalhador rural" no periódico semanal de Pinto Quartin Terra Livre, ofereceu cursos de formação aos jovens das Juventudes Sindicalistas em O Germinal. Em 1910 destendeu-se com Emídio Costa sobre estratégias diante da Primeira Guerra Mundial, foi amigo de muitos militantes do movimento anarquista português.

Em 15 de Setembro de 1920 Neno Vasco, intelectual brilhante e influente militante libertário em dois continentes, morreu de tuberculose, pobre e seguro de suas posições anarquistas, na freguesia de São Romão do Coronado do concelho de Trofa, no norte de Portugal.

Durante toda a sua vida, o seu esforço no movimento editorial muito contribuiu para o crescimento da influência libertária nos meios operários no Brasil e em Portugal. O seu principal livro é A Concepção Anarquista do Sindicalismo, publicado em 1923 pelo colectivo editorial do jornal anarco-sindicalista A Batalha e re-editado em 1984.

Na cidade de São Paulo, no bairro Cidade Tiradentes existe uma rua com o seu nome. No município de Nova Iguaçú, no estado do Rio de Janeiro há igualmente um edifício com o nome Pr. Neno Vasco construído em 1976.

Obra
• A Academia de Coimbra ao Povo Portuguez , 1901.
• Geórgias: ao trabalhador rural, Terra Livre, Lisboa, 1913.
• Da Porta da Europa (factos e ideias: a questão religiosa, a questão política, a questão económica 1911-1912), Bibl. Libertas, Lisboa, 1913.
• A Concepção Anarquista do Sindicalismo, Editorial A Batalha, Lisboa, 1923 (ed. póstuma??.); 2ª ed., Afrontamento, Porto, 1984.

Traduções
• Élisée Reclus, Evolução, Revolução e Ideal Anarquista, Biblioteca Sociológica, S. Paulo, 1904.
• A Internacional, 1909.
Peças teatrais
• Anedota em 1 acto, 1911.
• Greve de Inquilinos: farça em 1 acto, Editorial A Batalha, 1923.
• Pecado de Simonia, 1907.


Texto biográfico retirado da Wikipedia