24.5.07

Algumas referências teóricas da extrema-direita

Sem sermos exaustivos, nem pretendermos caracterizar socialmente os seus efectivos interesses sociais, nem ainda descermos ao detalhe a fim de diferenciar as várias fontes históricas em que a chamada extrema-direita vai beber para auto-justificar a sua acção, deixamos aqui de forma despretensiosa algumas das referências teóricas da extrema-direita para se conhecer melhor o nosso inimigo.


Origem


As origens históricas da extrema-direita remontam à Reacção contra a Revolução Francesa, ou seja, contra os princípios revolucionários da «Igualdade, Liberdade, Fraternidade», bem como contra o princípio humanista que todos nascem iguais. Por isso também o carácter anti-democrático e anti-sufragista do pensamento ultra-conservador da extrema-direita e a desconfiança, senão mesmo a animosidade, face aos princípios republicanos. O regime plebiscitário é frequentemente sugerido como o dispositivo por excelência para legitimar o poder do Chefe ou do caudilho, que passa a ser o intérprete genuíno e indiscutível da Nação.

O nacionalismo

O Nacionalismo não tem nada a ver com o gostar do seu país. O nacionalismo é uma doutrina política que reivindica o primado da Nação enquanto sujeito político quer na vida política interna quer no âmbito das relações internacionais. A construção artificial da Nação, assim realizada, vida dar uma dimensão étnica e purista a essa entidade singular que passa a ser a Nação. Donde a persistente tendência para a preferência de nacionais como critério para tudo e mais alguma coisa. Ela parte da distinção entre o nacional e o estrangeiro, distinção essa que se legitima com a construção ideológica da entidade suprema que é a Nação.
Uma tal ideia contraria claramente o princípio universal segundo o qual todos os homens são iguais em direitos. O nacionalismo opõe-se ao cosmopolitismo e à concepção aberta que nos leva a viver em paz com os outros, e não contra eles.

A Ordem Moral

A ideia de que o ordem anterior é melhor, e que se torna imperioso restaurá-la, é outro dos traços marcantes da extrema-direita. Daí que a temática da decadência seja recorrente no seu pensamento desde há muito tempo. Trata-se de uma concepção moral retrógrada que investe contra a evolução dos costumes, contra o laicismo, contra a emancipação da mulher, etc. O futuro é sempre visto como portador de decadência, imoral e desprovido de valores. Um tal raciocínio permite colocá-lo como tema forte da propaganda da extrema-direita de forma a incutir nas pessoas a ideia do medo, e ao mesmo tempo reconduzi-las aos valores tradicionalistas. A verdade é que um simplismo destes não se compadece com a realidade vivida pois é opinião geral que se vive hoje melhor do que há décadas atrás.

Anti-semitismo

O anti-semitismo é uma forma de racismo direccionado contra os judeus. Manifesta-se por via de ataques verbais ou físicos contra os judeus ou contra aqueles que são vistos como tais, e o seu legado histórico-cultural. Trata-se de um tema tradicional e predilecto da extrema-direita. O anti-semitismo desenvolve-se como uma reacção contra a modernidade a partir do séc. XIX. O «judeu» é apontado como o financeiro, o especulador e o indivíduo urbano que corrompe os bons costumes do povo. O antisemitismo teve o seu apogeu nas leis antijudeus promulgadas na Alemanha nazi mas também no caso Dreyfus que estiveram na origem nas perseguições, deportações e massacres dos judeus. Negam a existência de câmaras de gás nos campos de concentração nazi e a Shoah.
No fundo, a figura do judeu – mas que poderia aplicar-se a outra qualquer categoria social, seleccionada como o alvo facilmente identificável – é encarada como a causa dos males do mundo, o que origina, por exemplo, a teoria do complot mundial dos sectores judaicos. Esta orientação têm permitido que se reúnam à volta da extrema-direita uma conjunto variado de correntes de pensamento, desde a tradição católica do anti-semitismo (os judeus são olhados como deicidas, que crucificaram Cristo), como os utra-conservadores que vêem nos judeus o estranho que se vai infiltrando nas instituições sociais. O antisemitismo permite «construir» um inimigo permanente, qualquer que seja o problema e qualquer que seja a época.