2.3.05

2 livros a ler

O primeiro livro a ler, sem demoras, é “Portugal, Hoje - O Medo de Existir” (edição da Relógio de Água) do filósofo contemporâneo português José Gil que nos fala do medo “…de existir, de afrontar as forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver...” A isto não é estranho, claro está, a grande noite ditatorial que entravou a sociedade portuguesa.
O autor, a dado passo do livro, escreve: “vive-se e pensa-se pequeno, a pequenez é a negação do excesso, e a nossa maneira de "estar certo" ou "ser certinho" - o nosso "justo meio". (...) Não vemos mais longe do que a ponta do nariz, quer dizer, mais longe do que as nossas fronteiras, a nossa região, a nossa cidade, a nossa família e, por fim, mais longe do que os limites do nosso corpo. Não vemos mais longe do que a vida imediata, colados a um falso presente sem passado”.


O outro é a biografia do livre pensador renascentista Giordano Bruno de autoria de Francesca Caroutch com o título “O Homem do Fogo” (edição Ésquilo), que foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição clerical por ter ousado questionar a ideologia religiosa dominante e defender uma concepção holística do mundo, na sua pluralidade, sem centro nem periferia. E é com o mesmo arrojo que defende a sua visão do mundo que se dirige aos seus juízes:
“…Vós, que pronunciais essa sentença estareis, porventura, mais assustados do que eu, que a cumprirei…”
O pensamento de Bruno era holista, naturalista e espiritualista. Entre as suas ideias especulativas, destaca-se a percepção de uma sabedoria que se exprime na ordem natural, onde todas as coisas estão interligadas e se interrelacionam de maneira mais ou menos subtil (holismo); a pluralidade dos mundos habitados, sendo a Terra apenas mais um de vários planetas que giram em volta de outros sistemas, etc. Por tudo isso, por essa ousadia em pensar, Bruno - que estava séculos à frente do seu tempo - pagou um alto preço. Mas sua coragem serviu de mola e incentivo ao progresso científico e filosófico posterior.
Fiel aos seus ideais, mártir da liberdade de pensamento, Giordano Bruno morre queimado na pira da Inquisição em 1600, na cidade de Roma. Ridicularizou os milagres de Cristo e outras dogmas católicos, como a aceitação da virgindade de Maria. Antes de morrer cospe no crucifixo.