7.1.09

Procuram-se novos elementos para os Ritmos de Resistência, uma banda de samba de Lisboa formada por activistas sociais




A Banda de Samba de Lisboa procura novos membros!

*Tum Tum ta ta Tum Tum ta Tum Tum Tum ta ta Tum ta ta*

Já ouviste falar dos Ritmos de Resistência?
Gostarias de te juntar a nós?


A Banda de Samba de Lisboa procura novos membros!

Fazemos parte dos “Rhythms of Resistance”, uma rede internacional de bandas que partilham uma orientação política comum (baseada nosprincípios políticos da PGA- Peoples' Global Action) e que fazem uso dos seus ritmos em manifestações e iniciativas de acção directa.

Não pretendemos apenas criar festas ou pequenos Carnavais; confrontamos e criticamos os sistemas de dominação e apoiamos quem luta contra a exploração, discriminação e opressão, tentando transmitir uma energia de força solidariedade e acção criativa.

Os ensaios habituais têm lugar à 4ª feira às 18h no Centro Social daMouraria (CSM) – Grupo Desportivo da Mouraria, Travessa da Nazaré, nº12(metro Martim Moniz) e a primeira quarta de cada mês é dedicada à recepção de novas pessoas.

Aparece esta 4ª feira, 7 de Jan. às 18h, no CSM, para participares no nosso ensaio, ficares a conhecer-nos e quem sabe juntares-te a nós.

Senão puderes vir mas quiseres participar na banda ou tiveres sugestões de acções onde a banda possa participar envia e-mail parasambalisboa@gaia.org.pt.

*Tum Tum ta ta Tum Tum ta Tum Tum Tum ta ta Tum ta ta ta*

Ritmos de Resistência Lisboa:
http://gaia.org.pt/ritmosresistencia



Rhythms of Resistance:
http://rhythms-of-resistance.org/spip/

População da Peneda-Gerês contesta o plano estatal de reordenamento que privilegia o "eco-turismo" em detrimento das actividades humanas tradicionais

As populações locais do Parque nacional da Peneda-Gerês sentem-se ameaçadas pelo novo Plano de Reordenamento do território imposto pelo Estado pois a sua aplicação significaria o fim da pastorícia, das "vezeiras", da utilização dos baldios comunitários, etc... pois o objectivo que se pretende privilegiar é o maldito "eco-turismo", relegaando para segundo lugar, ou mesmo eliminando, as actividades humanas tradicionais. Para o efeito organizaram-se e criaram uma estrutura própria: a "Comissão Peneda-Gerês-Com-Gente".

"No dia 28 de Novembro de 2008, em Campo do Gerês, realizou-se uma reunião nela participando gente daquela freguesia, de Rio Caldo, Vilar da Veiga, Ermida, Germil, Covide, S. João da Cova, Louredo e Castro Laboreiro.
Nesta reunião decidiu-se o seguinte:Que a comissão passa a designar-se por Comissão Peneda-Gerês-Com-Gente.
A Comissão é constituída por:
- António Campos (Juiz da Vezeira da Ribeira)
- António Pires (Presidente da JF de Campo do Gerês)
- António Principe (Presidente da JF de Vilar da Veiga)
- Domingos Fujaco (Presidente da JF de Covide)
- Filipe Mota Pires (Comissão de Baldios de Vilar da Veiga)
- José Carlos Pires
- Luís Filipe Pires (Secretário da JF Campo do Gerês)
- Manuel António Sousa (Vezeira de Vilar da Veiga)
- Manuel Ferreira (Presidente da JF de Rio Caldo)
- Severino Fernandes (Vezeira de Rio Caldo)


São objectivos da Comissão fazer suspender o processo de revisão do Plano de Ordenamento do PNPG e iniciar um novo processo de revisão que possa
- Defender os direitos e interesses das populações locais, consagrados desde tempos imemoriais através de usos e costumes;
- Defender um plano de ordenamento que valorize o território e as populações locais;
- Ver reformulados os vectores do desenvolvimento sócio-económico do território.

Somos um grupo de pessoas que nasceram e vivem no território do PNPG


Debate sobre a linha do Tua em Bragança ( dia 17 de Jan. às 14h.) promovido pelo Movimento Cívico pela Linha do Tua



Debate - Linha do Tua
17 de Janeiro de 2009, Auditório Municipal Paulo Quintela, Bragança.
Organização: Movimento Cívico Pela Linha do Tua

Linha do Tua percorre um vale magnífico!
Qualquer que seja a estação do ano, o rio e a linha, lado a lado, permitem paisagens de sonho, quase irreais. Além do valor natural e histórico, é possível aproveitar todo o potencial da linha sem a destruir, contribuindo para o desenvolvimento e orgulho da população local.



Consultar:

Percursos a pé

Realiza-se no próximo Sábado o 1º módulo de formação em Direitos Humanos promovido pelo Observatório dos Direitos Humanos



Realiza-se no próximo Sábado, dia 10 de janeiro de 2009, a partir das 15h. o primeiro módulo de formação do Observatório dos Direitos Humanos, a ter lugar na sede do SOS Racismo na cidade do Porto.



Quem quiser comparecer, por favor confirme, enviando um mail para
dh.observatorio@gmail.com


http://www.sosracismoporto.blogspot.com/

http://observatoriodireitoshumanos.net/contactos.html


O Observatório dos Direitos Humanos (ODH) é uma frente de acção interassociativa que visa contribuir para a denúncia das violações dos direitos fundamentais em Portugal, bem como para a sua protecção e promoção.
O ODH não é uma instituição, mas sim o resultado de uma parceria alargada de diversas organizações sociais comprometidas com a defesa de um ou mais direito fundamental, que nasceu por iniciativa do Movimento Humanista a partir de uma proposta apresentada nas Jornadas da Não-Violência (Porto, 29/03/2008).
O ODH visa também potenciar a acção conjunta das organizações parceiras, facultando-lhes informação sobre os conflitos sociais e propiciando-lhes um âmbito comum para o intercâmbio e planeamento de campanhas e actividades.
Quais são os objectivos do ODH?
O ODH pretende monitorizar a situação dos direitos humanos em Portugal, denunciando os seus atropelos e promovendo o seu respeito, de forma a contribuir para a erradicação de todas as formas de violência (física, económica, racial, religiosa, sexual e psicológica) da sociedade portuguesa. Com a sua acção, o ODH pretende também difundir os direitos fundamentais, tratando de que os mesmos se incorporem na cultura portuguesa como valores centrais, orientando a conduta quotidiana de indivíduos e organizações

6.1.09

Objectores de consciência (refusenik) israelitas recusam-se a integrar o exército sionista de ocupação e são presos pela sua decisão corajosa


Entre a população israelita popularizou-se o termo refusenik (sarvanim, סרבנים, en hebreo ) para denominar os objectores e objectoras de consciência que se recusam a incorporar-se no Tsahal, o exército sionista de Israel, enquanto este continuar a ser um exército de ocupação, ou quando são enviados para os territórios palestinianos ocupados.

Claro que existem vários outros grupos, da mais variada natureza, que recusam a ocupação e a guerra movidos pelos seus princípios pacifistas. Mas o mais interessante é mesmo saber que uma quata parte dos jovens israelitas escapam, sob os mais diversos pretextos e subterfúgios, ao serviço militar, algumas vezes, com custos para a sua própria vida, ou da sua liberdade.


Quem são os Shministim?

Shministim significa jovens graduados em hebreu. O serviço militar é obrigatório após o ensino superior para os jovens israelitas. O Shministim são jovens israelitas que se recusam a servir no exército por causa dos 40 anos de ocupação de Israel sobre as terras palestinianas. Em 2008 estima-se que o seu n´mero tenha sido de uma centena, o que tem, normalmente, por consequência, a sua prisão. E aqueles que se recusam a vestir o uniforme militar dentro da prisão são metidos sózinhos em celas em isolamento absoluto. Depois de cumprida a punição, voltem a casa, e se recusarem a alistarem-se, pela segunda vez, são novamente detidos, e assim sucessivamente, conforme a vontade arbitrária das autoridades militares do exército israelita.

Jesse Bacon (justicelovejesse@gmail.com ) forma parte do "Shministim" que se recusam a entrar na máquina militar israelita. Ela própria afirma: « Estou muito orgulhosa da minha decisão em recusar-se a servir um exército que se diz humanitário e que tem fins defensivos, mas que faz sofrer diariamente um povo inteiro. Fui parar à prisão no dia 23 de Setembro. Cumpri 35 dias de detenção. Quando lerem as minhas palavras, o mais certo é eu estar novamente na prisão, junto de outros amigos, que serão detidos depois de estarem uma semana em casa, e voltarem a recusar a sua incorporação no exército.

Apoia os objectores de consciência israelitas enviando cartas de apoio dirigidas ao ministro israelita da defesa, tais como a que podes encontrar em,

WWW.December18th.ORG


Apoia os objectores de consciência israelitas



Outro refusenik é Michel Weksler (mweksler@gmail.com ) que declarou: "Eu era um comandante de tanques no exército israelita. Estive na prisão porque me neguei a ir para Gaza em 2002. Senti que era meu dever recusar ordens que eram claramente ilegais. Aliás, penso que as práticas de ocupação do exército israelita são nitidamente ilegais. Não é de admirar que o Tribunal Supremo Israelita tenha evitado sistemanticamente a pronunciar-se sobre o caso dos refuseniks. Os ataques com foguetes em Gaza são um erro, mas é ridículo da parte de Israel fazer-se de vítima em todo este círculo vicioso. Israel violou a lei internacional, mas também a lei israelita, com a forma como trata dos territórios ocupados. Note-se que essas pessoas vivem num limbo legal. Não são israelitas, nem pertencem a um Estado independente. Ainda por cima Israel está-lhes a negar os seus direitos como povo ocupado, como está previsto na Convenção de Genebra. O governo israelita tenta encobrir esta realidade referindo-se a essas pessoas como «cidadãos de Gaza», só que o povo bombardeado de Gaza não é cidadão de nenhum sítio, e esse é que é o problema: são pessoas sem estado e isto tem que terminar.

Outro caso ainda é o do capitão da Forças Aéreas israelitas, na reserva, Yonatan Shapira, que em 2003 liderou um grupo de pilotos da Força Aérea israelita que se negaram a participar em missões de ataque aos territórios palestinianos. É co-fundador dos Combatentes pelas Paz. Também ele declara: «Os grandes meios de comunicação estão empenhados a não dar uma visão real da situação. As pessoas precissam de ouvir, ver e ler os meios de comunicação alternativos. Se olhares o número de pessoas assassinadas em Gaza, o número de palestinianos mortos é enorme, mais de 400 em Gaza. Não podem sar, procurar alimentação, não têm água potável nem electricidade. Ainda por cima a Força Aéra israelita bombardei-os matando pessoas e crianças inocentes. Os mass media não falam disto. Apenas relatam que o Hamas lança foguetes contra cidades israelitas, o que pode matar pessoas.Mas as represálias israelitas e todo esse aparato não nos vai trazer mais segurança, mas antes pelo contrário. A raiz e a causa do conflito está sim no desenvolvimento da ocupação e na atitude do governo israelita em negociar com o Hamas a fim de acordar para uma completa retirada das fronteiras de 1967. Aliás, não noto da parte do governo israelita qualquer vontade de resolver o porblema. Por isso, quero gritar tão alto quanto possa e pedir ao mundo para que se una nesta luta a fim de evitar mais derramamento de sangue entre palestinianos e israelitas. Digo isto como judeu e israelita que quer continuar a viver neste maravilhoso mas triste pedaço de terra.»

www.CombatantsForPeace.org



Name: Raz Bar-David Varon
Age: 18
Why I am one of the Shministim:
“I wasn’t born to serve as a soldier who occupies another, and the struggle against the occupation is mine too. It is a struggle for hope, for a reality that sometimes feels so far away. I have a responsibility for this society. My responsibility is to refuse.”
First Sentence: 3rd - 21st Nov. 2008 (18 days)
Second Sentence: 24th Nov. - 30th Nov. 2008 (currently in prison)


In a brief statement made on the day of her arrest, Raz said:

“I have witnessed this army demolishing, shooting and humiliating people whom I did not know, but have learnt to respect for their ability to go on dealing with these horrors on a daily basis. There’s supposed to be a good reason for all of this. This reason is supposed to be my defense. I feel like screaming: ‘This does not defend me! It hurts me!’ It hurts me when people, Palestinians, are being so brutally assaulted, and it hurts me when they later turn their hatred towards me because of it. I wasn’t born to serve as a soldier who occupies another, and the struggle against the occupation is mine too. It is a struggle for hope, for a reality that sometimes feels so far away. I have a responsibility for this society. My responsibility is to refuse.”

http://december18th.org/2008/11/24/raz-bar-david-varon/#more-56




Name: Omer Goldman
Age: 19
Location: Tel-Aviv
Why I am one of the Shministim:
“I believe in service to the society I am part of, and that is precisely why I refuse to take part in the war crimes committed by my country. Violence will not bring any kind of solution, and I shall not commit violence, come what may.”
First Sentence: 22nd Sept. - 10th Oct. 2008 (18 days)
Second Sentence: 12th - 24th Oct. 2008 (10 days)


Omer Goldman, has had to confront the values of her own family. She is the daughter of the former deputy head of Mossad, the Israeli intelligence service and who is still considered one of the most powerful men in the Israeli security system. Omer, without her father’s permission visited a Palestinian town in the West Bank and at a check-point, alongside Palestinians, her supposed enemies, was fired upon by Israeli soldiers, “We were sitting by the roadside talking and soldiers came along and after a few seconds they received an order and fired gas grenades and rubber bullets at us. Then it struck me, to my astonishment, that the soldiers were following an order without thinking. For the first time in my life, an Israeli soldier raised his weapon and fired at me.”

Although, not surprisingly, her father does not support her decision to refuse, he still supports her as a daughter. “He and I have very similar characters. I, too, fight to the end for what I believe in. But we are opposites ideologically.”

In her declaration of refusal she stated:

“I refuse to enlist in the Israeli military. I shall not be part of an army that needlessly implements a violent policy and violates the most basic human rights on a daily basis.

Like most of my peers, I too have not dared to question the ethics of the Israeli military. But when I visited the Occupied Territories I realized I see a completely different reality, a violent, oppressive, extreme reality that must be ended.

I believe in service to the society I am part of, and that is precisely why I refuse to take part in the war crimes committed by my country. Violence will not bring any kind of solution, and I shall not commit violence, come what may. “


Name: Sahar Vardi
Age: 18
Location: Jerusalem
Why I am one of the Shministim:
“I realize that the soldier at the checkpoint is not responsible for the wretched policy of the oppressor towards civilians, I am unable to relieve that soldier of responsibility for his conduct … I mean the human responsibility of not causing another human being to suffer.”
First Sentence: 25th - 31st Aug. 2008 (6 days)
Second Sentence: 12th - 30th Oct. (18 days)
Third Sentence: 3rd - 21st Nov. 2008 (18 days)


Sahar was the third conscientious objector, and the first woman, to be imprisoned among this years group of high school seniors, who signed a collective declaration of refusal to serve in the Israeli army of occupation.

While she stresses the importance of resisting the occupation of Palestine as a motive for her refusal, Sahar’s conscientious objection is also rooted in a wider pacifist position.

During her sentence Sahar refused to wear a military uniform in prison, and subsequently spent the duration of her detention in solitary confinement. The Isolation Wards of military prisons in Israel are often the cite of various minor or less minor forms of abuse, so Sahar needs your support.

In a letter to the Minister of Defense, declaring her refusal to serve in the military, She wrote:

“I have been to the occupied Palestinian territory many times, and even though I realize that the soldier at the checkpoint is not responsible for the wretched policy of the oppressor towards civilians, I am unable to relieve that soldier of responsibility for his conduct … I mean the human responsibility of not causing another human being to suffer.

The bloody times in which I live (consisting of assassinations, aggression, bombings, shootings) results in increasing numbers of victims on both sides. It is a vicious circle that emanates from the fact that both sides elect to engage in violence. This choice I refuse to take part in.”

A peaceful demonstration was organized in support of Sahar before her first sentence in military prison on August 25, 2008. About 80 people joined the demonstration, and were met by a small counter-demonstration organized by a pro-military group. The pro-military group confronted the original protesters aggressively and head-butted one of the demonstrators and drove a motorcycle into the crowd.

http://december18th.org/2008/11/23/shministim-statement-1/#more-5

Julgamento de 16 anarquistas judeus contra o Muro construído pelo Estado de Israel




16 activistas pertencentes ao colectivo «Anarchists against the Wall» compareceram ontem num tribunal israelita que decidiu a sua libertação mediante uma caução, excepto para dois outros activistas internacionalistas que vão continuar detidos.

Transcreve-se a seguir um pequeno texto que prolonga, de alguma maneira, a luta do colectivo ««Anarchists against the Wall»


SIM À VIDA DOS DOIS POVOS


Num texto publicado no passado dia 30 de Dezembro, «On Gaza», a activista anti-globalização norte-americana Starhawk escreve:

«Eu sou judia, de nascimento e de educação, nasci seis anos depois do fim do Holocausto, e fui educada no mito e na esperança de Israel. O mito diz que «durante dois mil anos andamos errantes por todo o mundo, perseguidos, quase fomos destruídos pelos nazis. Mas de todo esse sofrimento resultou, pelo menos, uma coisa boa, a pátria, para a qual nós regressamos, e que é o nosso país, onde podemos estar em segurança, soberanos e fortes». Trata-se de uma história emocionante e galvanizadora. Só tem um erro: esquecer-se dos Palestinianos.»

Na verdade, o conto deve esquecê-los, porque se admitíssimos que a nossa pátria pertencia a um outro povo, lá se ia a bonita história. O resultado disso tudo é uma espécie de cegueira psiquíca a propósito dos Palestinianos. Se defendeis realmente Israel, o Estado judeu, como a pátria dos judeus, então não podeis aceitar que os Palestinianos sejam uma realidade. De resto, Golda Meir já dizia:«Quem são os Palestinianos? Eles não existem». E hoje ouvimos isto: «Não há parceiros para fazer a paz. Não há ninguém com quem falar».

Perante esta cegueira, só existe uma alternativa para a comunidade internacional, onde as decisões dependem ainda dos governos ocidentais: ou obrigar os israelitas a verem os Palestinianos; ou então a corroborar essa cegueira («claro que não, com certeza que vocês tendes toda a razão, essa gente não existe, mas mesmo assim lançai algumas bombas para terem a certeza, e para os tranquilizar», caucionando e encoragando um sociocídio. Tudo indica que esles já fizeram essa escolha.»


http://www.awalls.org/
http://haaretz.com/hasen/spages/1052261.html








Texto completo de Starhawk:

On Gaza
by Starhawk




All day I've been thinking about Gaza, listening to reports on NPR, following the news on the internet when I can spare a moment. I've been thinking about the friends I made there four years ago, and wondering how they are faring, and imagining their terror as the bombs fall on that giant, open-air prison.

The Israeli ambassador speaks movingly of the terror felt by Israeli children as Hamas rockets explode in the night. I agree with him-that no child should have her sleep menaced by rocket fire, or wake in the night fearing death.

But I can't help but remember one night on the Rafah border, sleeping in a house close to the line, watching the children dive for cover as bullets thudded into the walls. There was a shell-hole in the back room they liked to jump through into the garden, which at that time still held fruit trees and chickens. Their mother fed me eggs, and their grandmother stuffed oranges into my pockets with the shy pride every gardener shares.

That house is gone, now, along with all of its neighbors. Those children wake in the night, every night of their lives, in terror. I don't know if they have survived the hunger, the lack of medical supplies, the bombs. I only know that they are children, too.

I've ridden on busses in Israel. I understand that gnawing fear, the squirrely feeling in the pit or your stomach, how you eye your fellow passengers wondering if any of them are too thick around the middle. Could that portly fellow be wearing a suicide belt, or just too many late night snacks of hummus? That's no way to live.

But I've also walked the pock-marked streets of Rafah, where every house bears the scars of Israeli snipers, where tanks prowled the border every night, where children played in the rubble, sometimes under fire, and this was all four years ago, when things were much, much better there.

And I just don't get it. I mean, I get why suicide bombs and homemade rockets that kill innocent civilians are wrong. I just don't get why bombs from F16s that kill far more innocent civilians are right. Why a kid from the ghetto who shoots a cop is a criminal, but a pilot who bombs a police station from the air is a hero.

Is it a distance thing? Does the air or the altitude confer a purifying effect? Or is it a matter of scale? Individual murder is vile, but mass murder, carried out by a state as an aspect of national policy, that's a fine and noble thing?

I don't get how my own people can be doing this. Or rather, I do get it. I am a Jew, by birth and upbringing, born six years after the Holocaust ended, raised on the myth and hope of Israel. The myth goes like this:
"For two thousand years we wandered in exile, homeless and
persecuted, nearly destroyed utterly by the Nazis. But out of that
suffering was born one good thing-the homeland that we have come back
to, our own land at last, where we can be safe, and proud, and
strong."
That's a powerful story, a moving story. There's only one problem with it-it leaves the Palestinians out. It has to leave them out, for if we were to admit that the homeland belonged to another people, well, that spoils the story.

The result is a kind of psychic blind spot where the Palestinians are concerned. If you are truly invested in Israel as the Jewish homeland, the Jewish state, then you can't let the Palestinians be real to you. It's like you can't really focus on them. Golda Meir said, "The Palestinians, who are they? They don't exist." We hear, "There is no partner for peace," "There is no one to talk to."

And so Israel, a modern state with high standards of hygiene, a state rooted in a religion that requires washing your hands before you eat and regular, ritual baths, builds settlements that don't bother to construct sewage treatment plants. They just dump raw sewage onto the Palestinian fields across the fence, somewhat like a spaceship ejecting its wastes into the void. I am truly not making this up-I've seen it, smelled it, and it's a known though shameful fact. But if the Palestinians aren't really real-who are they? They don't exist!-then the land they inhabit becomes a kind of void in the psyche, and it isn't really real, either. At times, in those border villages, walking the fencelines of settlements, you feel like you have slipped into a science fiction movie, where parallel universes exist in the same space, but in different strands of reality, that never touch.

When I was on the West Bank, during Israeli incursions the Israeli military would often take over a Palestinian house to billet their soldiers. Many times, they would simply lock the family who owned it into one room, and keep them there, sometimes for hours, sometimes for days parents, grandparents, kids and all. I've sat with a family, singing to the children while soldiers trashed their house, and I've been detained by a group of soldiers playing cards in the kitchen with a family locked in the other room. (I got out of that one-but that's another story.)

It's a kind of uneasy feeling, having something locked away in a room in your house that you can't look at. Ever caught a mouse in a glue trap? And you can't bear to watch it suffer, so you leave the room and close the door and don't come back until it's really, really dead.

Like a horrific fractal, the locked room repeats on different scales. The Israelis have built a wall to lock away the West Bank. And Gaza itself is one huge, locked room. Close the borders, keep food and medical supplies and necessities from getting through, and perhaps they will just quietly fade out of existence and stop spoiling our story.

"All we want is a return to calm," the Israeli ambassador says. "All we want is peace."

One way to get peace is to exterminate what threatens you. In fact, that may be the prime directive of the last few thousand years.

But attempts to exterminate pests breed resistance, whether you're dealing with insects or bacteria or people. The more insecticides you pour on a field, the more pests you have to deal with-because insecticides are always more potent at killing the beneficial bugs than the pesky ones.

The harshness, the crackdowns, the border closings, the checkpoints, the assassinations, the incursions, the building of settlements deep into Palestinian territory, all the daily frustrations and humiliations of occupation, have been breeding the conditions for Hamas, or something like it, to thrive. If Israel truly wants peace, there's a more subtle, a more intelligent and more effective strategy to pursue than simply trying to kill the enemy and anyone else who happens to be in the vicinity.

It's this-instead of killing what threatens you, feed what you want to grow. Consider in what conditions peace can thrive, and create them, just as you would prepare the bed for the crops you want to plant. Find those among your opponents who also want peace, and support them. Make alliances. Offer your enemies incentives to change, and reward your friends.

Of course, to follow such a strategy, you must actually see and know your enemy. If they are nothing to you but cartoon characters of terrorists, you will not be able to tell one from another, to discern the religious fanatic from the guy muttering under his breath, "F-ing Hammas, they closed the cinema again!"

And you must be willing to give something up. No one gets peace if your basic bargaining position is, "I get everything I want, and you eat my shit." You might get a temporary victory, but it will never be a peaceful one.

To know and see the enemy, you must let them into the story. They must become real to you, nuanced, distinctive as individuals. But when we let the Palestinians into the story, it changes. Oh, how painfully it changes! For there is no way to tell a new story, one that includes both peoples of the land, without starting like this:
"In our yearning for a homeland, in our attempts as a threatened and
traumatized people to find safety and power, we have done a great
wrong to another people, and now we must atone."
Just try saying it. If you, like me, were raised on that other story, just try this one out. Say it three times. It hurts, yes, but it might also bring a great, liberating sense of relief with it.

And if you're not Jewish, if you're American, if you're white, if you're German, if you're a thousand other things, really, if you're a human being, there's probably some version of that story that is true for you.

Out of our own great need and fear and pain, we have often done great harm, and we are called to atone. To atone is to be at one-to stop drawing a circle that includes our tribe and excludes the other, and start drawing a larger circle that takes everyone in.

How do we atone? Open your eyes. Look into the face of the enemy, and see a human being, flawed, distinct, unique and precious. Stop killing. Start talking. Compost the shit and the rot and feed the olive trees.

Act. Cross the line. There are Israelis who do it all the time, joining with Palestinians on the West Bank to protest the wall, watching at checkpoints, refusing to serve in the occupying army, standing for peace. Thousands have demonstrated this week in Tel Aviv.

There are Palestinians who advocate nonviolent resistance, who have organized their villages to protest the wall, who face tear gas, beatings, arrests, rubber bullets and real bullets to make their stand.

There are internationals who have put themselves on the line-like the boatload of human rights activists, journalists and doctors on board the Dignity, the ship from the Free Gaza movement that was rammed and fired on by the Israeli navy yesterday as it attempted to reach Gaza with humanitarian aid.

Maybe we can't all do that. But we can all write a letter, make a phone call, send an email. We can make the Palestinian people visible to us, and to the world. When we do so, we make a world that is safer for every child.

Below is a good summary of some of the actions we can take. Please feel free to repost this. In fact, send it to someone you think will disagree with it.

Starhawk

Retirado
daqui

5.1.09

Em defesa do direito à água - Seminário Internacional no dia 10 de Janeiro organizado pela Fundação Nova Cultura da Água




Seminário Internacional - EM DEFESA DO DIREITO DA ÁGUA
10 Janeiro - Auditório A. Sedas Nunes
Org. Fundação Nova Cultura da Água
Apoios: ICS e Le Monde Diplomatique‏


Programa

10.30 Sessão de abertura

Rui Cortes
Professor Catedrático da UTAD. Membro da Direcção da FNCA

11.00 Painel I: O Direito à Água e a Nova Cultura da Água

Pedro Arrojo
Professor Titular no "Departamento de Análisis Económico" da "Faculdad de Ciencias Económicas y Empresariales" da "Universidad de Zaragoza". Membro Fundador e Primeiro Presidente da FNCA. Recebeu em 2003 o Prémio Goldman do Ambiente (considerado como o Prémio Nobel do Ambiente) correspondente à região europeia.

Riccardo Petrella
Economista, Docteur honoris causa em diversas Universidades, é professor Convidado da Universidade de Louvain e Professor de Ecologia Humana na Accademia di Architettura de Mendrisio. Fundador do Grupo de Lisboa (1992), proclamou o « Manifesto da Água » e fundou em 1997 um Comité internacional para um Contrato Mundial da Água.

14.15 Painel II: Gestão privada e gestão pública de sistemas de água e saneamento

Emanuele Lobina
Com formação em Ciência Política e Direito Comercial Internacional. Investigador senior no domínio dos serviços públicos, nomeadamente no abastecimento de água e saneamento, na "Public Services International Research Unit" na University of Greenwich"

Susana Neto
Engenheira Civil, Mestre em Planeamento Regional e Urbano, Membro da FNCA. Colaborou no Grupo Coordenador do SIGRHID (1986) e fez parte da Equipa de Projecto do Plano Nacional da Água entre 1997 e 2001, no INAG, tendo nesse período integrado igualmente a equipa de coordenação dos Planos de Bacia Hidrográfica, no INAG.

Jaime Morell
Ingeniero de Caminos, Canales y Puertos. Presidente do Consorcio Provincial de Aguas de Sevilla. Professor da Universidade de Sevilha.

Francisco Braz
Presidente da Direcção do STALSindicato dos Trabalhadores da Administração Local

Lucrécio Costa
Doutorado em Engenharia Civil, Professor. Presidente do Conselho de Administração da Empresa Pública de Água de Luanda EPAL E.P.

16.30 Painel III: Em Portugal onde estamos e para onde vamos? Que fazer?

João Bau
Investigador Coordenador. Presidente do Conselho de Administração da EPAL (Lisboa) nos períodos 1975-1980 e 1996-2000. Administrador da AdPÁguas de Portugal no período 1996-2002. Deputado Municipal em Lisboa. Deputado Metropolitano na Área Metropolitana de Lisboa

Luísa Tovar
Engenheira Civil, Mestre em Engenharia do Ambiente. Presidente da Direcção da Associação "Água Pública".

18.00 Sessão de Encerramento

Leandro del Moral
Doutorado em Geografia. Professor Titular do Departamento de Geografia Humana da Universidade de Sevilha. Presidente da FNCA.
João Bau
Em representação da Comissão Organizadora.


manifesto
Seminário Internacional Em Defesa do Direito à Água


O "direito à água" está em debate na cena internacional, desde que o Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas tomou conhecimento, em Setembro de 2007, de um relatório redigido pela Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos do Homem relativo ao acesso equitativo à água potável e ao saneamento.

Este debate tem lugar num momento de reconhecida gravidade da actual crise económica, social e ambiental que enfrentamos à escala planetária, e que exige uma viragem radical do processo civilizacional. No que diz respeito à água sabe-se que, desde 1950 até à presente data, o seu consumo à escala mundial mais do que triplicou. Em paralelo, surgiram problemas relativos à crise ecológica dos ecossistemas aquáticos, verificou-se uma exploração insustentável de muitos aquíferos, ocorreram problemas por vezes muito graves de degradação da qualidade das águas, constatou-se a ocorrência de conflitos sociais ocasionados pelo desrespeito de direitos do homem (nomeadamente por ausência de serviços essenciais prestados pela água e pela deslocação forçada de populações devido à construção de grandes obras hidráulicas), constatou-se a existência de ineficiências e de irracionalidades do ponto de vista económico na gestão das águas e tornaram-se patentes problemas de governabilidade, por falta de transparência e de participação dos cidadãos. Em suma, tornou-se evidente a crise dos modelos de gestão da água predominantes no século passado. E esta crise tem óbvias implicações no que concerne à relação dos seres humanos com a água de que dispõem e às relações entre os seres humanos por causa da água.

Sabe-se que a água é essencial à vida e à saúde das pessoas. Que sem ela não é possível uma vida digna. Mas a realidade dos dias de hoje, também no domínio do abastecimento de água e do saneamento, nos apresenta um quadro preocupante. De acordo com dados das Nações Unidas cerca de 1,1 mil milhões de pessoas no mundo (ou seja, 18% da população total) não têm acesso, actualmente, a água potável para beber e cerca de 2,6 mil milhões de pessoas (ou seja, 42% da população) não têm acesso a serviços de saneamento. Apesar de, entre 1990 e 2002, se constatar que mais de 2400 milhões de pessoas passaram a ter acesso a água potável.

Em 2000, com a Declaração do Milénio, foram definidos os Objectivos do Milénio, cujo Objectivo 7: assegurar a sustentabilidade ambiental, estabelece como meta a redução para metade da população sem acesso a água potável e a sistemas de saneamento de águas residuais. No Relatório de Progresso de 2008 reconhece-se que a manter-se o actual ritmo não se atingirá a meta referente ao acesso a sistemas de águas residuais. A crise financeira e económica agravada pelo chamado "Crash de Setembro" poderá vir a dificultar ainda mais esta tarefa.

É portanto indispensável a definição de uma nova estratégia de longo prazo para a gestão dos recursos hídricos (à escala mundial, à escala nacional e à escala regional e local), que respeite os direitos dos cidadãos e que promova a sustentabilidade dos ecossistemas, a conservação da água, a gestão da procura. Mas o que se constata é que existe actualmente uma falta de consenso em relação aos princípios e aos valores éticos que devem presidir à concepção e implementação das políticas da água.

Que visão, que valores, que estratégias devem ser adoptadas? E que visão, estratégias e políticas devem ser adoptadas para o sector do abastecimento de água e saneamento neste início do século XXI em Portugal?

Não será com uma estratégia que assente em soluções neoliberais, sem sensibilidade social, que teremos êxito na superação das actuais dificuldades. Pelo contrário. E em contraponto às soluções neoliberais, vem-se afirmando uma nova cultura da água. Que reconhece o "direito à água", condição necessária à garantia do direito à vida, assumindo-o como uma responsabilidade colectiva. É esta a visão dos que defendem uma gestão pública de qualidade, assente nos princípios da ética social, solidariedade e igualdade.

Entendemos que:
1) Defender o reconhecimento da água como um bem comum, património da Humanidade;
2) Defender o reconhecimento do direito à água como um direito humano;
3) Defender o financiamento colectivo e solidário do serviço do abastecimento de água e saneamento;
4) Defender que a propriedade e a gestão dos serviços devem ser públicas e rejeitar a mercantilização da água.

São os princípios vitais para a superação da actual crise.

Estas problemáticas colocam-se hoje com pertinência, a nível mundial mas também, e com especial acuidade, em Portugal. São elas que motivam a Fundação para a Nova Cultura da Água a organizar no ICS em Lisboa a 10 de Janeiro de 2009 este Seminário, aberto a todos e todas que queiram participar, para debater ideias, experiências e propostas de acção.

700 máscaras à procura de um rosto ou um artista da fome - espectáculo/instalação em Coimbra pelo grupo A Escola da Noite ( de 6 a 17 de Janeiro)




A Escola da Noite abre o teatro a mais de 700 máscaras e à instalação/espectáculo "700 máscaras à procura de um rosto ou Um artista da fome”
— de 6 a 17 de Janeiro, de terça a sábado, às 21h30
no Teatro da Cerca de São Bernardo , em Coimbra


Definida como instalação teatral, “700 máscaras à procura de um rosto ou Um artista da fome” expõe pela primeira vez o acervo de mais de sete centenas de máscaras construídas pelo actor, encenador, cenógrafo e aderecista António Jorge, membro fundador d’A Escola da Noite. Ao longo dos anos, em paralelo com o seu percurso artístico na companhia mas em sintonia com a experimentalidade e a artesania que são marcas do trabalho do grupo, António Jorge desenvolveu um gosto especial pelo trabalho manual com diversos tipos de técnicas e de materiais - ráfia, papel, metal, cabedal -, que foi utilizando na construção deste imenso “povo” de máscaras que agora se apresenta ao público.

A componente expositiva desta instalação é complementada em palco, pelo próprio António Jorge, com o conto de Kafka “Um artista da fome” (traduzido para português por José Maria Vieira Mendes), servido como uma fortíssima metáfora sobre o papel da arte e a condição do artista nas sociedades contemporâneas. “700 máscaras…” oferece ainda, além disso, uma óptima oportunidade para conhecer o interior do Teatro da Cerca de São Bernardo.

Organizada em percurso (o que limita a lotação permitida em cada sessão), a visita à instalação percorre mesmo os mais escondidos espaços do novo teatro, como se se tratasse de um espaço subitamente abandonado, onde já só restassem os sons da estranha e incompreensível actividade que por lá se fizera.

Para além de António Jorge (direcção artística, máscaras e interpretação) e Eduardo Gama (interpretação e banda sonora) a instalação conta ainda com os contributos de Danilo Pinto (luz) e de Sílvia Brito e Rui Valente (vídeo).
Estará em cena de 6 a 17 de Janeiro, de terça a sábado, às 21h30 e aos sábados também às 18h30, tem a duração aproximada de 45 minutos.
O bilhete tem o preço único de 5,00 Euros e aconselha-se a reserva antecipada de lugares, atendendo aos limites definidos para a lotação.

Faça-nos companhia!


A Escola da Noite
Teatro da Cerca de São Bernardo
Cerca de São Bernardo
3000-097 COIMBRA
telefone 239718238
telemóvel 966302488
fax 239 703761
e-mail
geral@aescoladanoite.pt
www.aescoladanoite.pt
http://weblog.aescoladanoite.pt/

A Turma, filme do realizador Laurent Cantet, vai ser exibido pelo Cineclube de Barcelos ( dia 7 de Janeiro às 21h30)




A TURMA, DE LAURENT CANTET
7 DE JANEIRO ÀS 21:45
NO AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE BARCELOS‏

http://www.zoom.pt/


A TURMA
Palma de Ouro - Cannes 2008
Realização: Laurent Cantet
Argumento e Diálogos: Laurent Cantet, François Bégaudeau, Robin Campillo a partir do romance « Entre les murs » de François Bégaudeau (Editions Gallimard, Verticales, 2006)
Montagem: Robin Campillo, Stéphanie Léger


Sinopse:
François, um professor, e os seus colegas, preparam-se para um novo ano escolar no liceu de um bairro problemático em Paris.
Cheios de boas intenções, estão decididos a não deixarem que o desencorajamento os impeça de tentar dar a melhor educação aos seus alunos.
As culturas e as atitudes diferentes frequentemente colidem dentro da sala de aula, um microcosmos da França contemporânea. Apesar de divertidos e inspiradores, tanto quanto os adolescentes podem ser, o seu difícil comportamento pode, no entanto, pôr em causa o entusiasmo de um professor pelo seu trabalho mal pago.
François insiste num atmosfera de respeito e empenho. Sem ser rabugento ou inflexível, a sua extravagante franqueza surpreende muitas vezes os alunos. Mas a ética da sua sala de aula é posta à prova quando os estudantes começam a desafiar os seus métodos.

Críticas:

Le Monde
Excepcional. Consegue ser sério, subtil, incisivo, perturbador e cómico. A sua recompensa é indiscutível. O seu impacto ultrapassa largamente as fronteiras francesas. (…) História de um ano escolar, condensado em duas horas e por isso reduzido aos seus momentos de tensão, de crises, de acontecimentos significativos. História de um pedagogo adulto, optimista, confrontado com a juventude, o imprevisto, a intolerância, a ingratidão, as dificuldades de comunicação, os fossos dialécticos, o choque de culturas, as armadilhas, os riscos da profissão, a solidão. (…) A magia do filme está na destreza com que Cantet capta esta vida fervilhante entre quatro paredes, este blá blá permanente, a vergonha de uns e a conversa dos outros, as eternas palavras, debates agitados, protestos contra um professore demasiado enervado, irrupção brutal da emoção… (…) Fundado na maiêutica, este filme presta homenagem a este professor capaz de conduzir os alunos a descodificar o saber, falando com eles como se fossem adultos.

Télérama
Um confronto constante, democrático, entre um professor e os seus vinte e quatro alunos – melhores ou piores, mais ou menos indisciplinados, mas todos sem excepção com um papel importante neste mosaico humano. (…) A energia é a palavra-chave. Energia transbordante de uma juventude muito pouco “gaulesa”, multicultural, plural, que raramente foi filmada de forma tão positiva. (…) Não esperemos a verdade definitiva sobre a escola. Nem estados alarmistas, nem professores com um optimismo beato, o filme consegue mostrar este lugar como o espaço de um formidável jogo social. Um jogo de poder, de representação, de dissimulação, de estratégias várias, em que cada um tenta, melhor ou pior, distinguir-se. Não é por acaso que o filme termina com um jogo de futebol, espécie de prolongamento dos jogos a que assistíramos. Um empate a zeros, mas com um belíssimo jogo.

Cahiers du Cinéma
Um projecto de uma extrema coerência. A escola é o tema dos temas. É o lugar público por excelência, o primeiro que encontramos na vida. (…) Numa dialéctica permanente, ora alegre, ora trágica, Cantet desenha o retrato cruzado de um professor pela sua escola e da sua escola por um professor: o esboço concreto de um universo escolar que vai da amortização do custo da máquina de café até às estratégias para travar o insucesso escolar. No fim do ano, a escola de Cantet aparece sobretudo como um lugar político. Um grande labirinto onde um poder se exerce das mais variadas formas: o voto, a assembleia, o comité. Não é tanto uma verdade sobre a instituição mas sim um contra-campo dirigido aos espectadores. E estará provavelmente aí o sucesso do filme: o desejo dos espectadores de participar nos jogos de poder que se desenham no ecrã, de participarem nas utopias efémeras que aí florescem.

Entrevista Laurent Cantet e François Bégaudeau

Entrevista por Philippe Mangeot

Laurent Cantet - Antes da rodagem de Vers le Sud, tive a ideia de um filme sobre a vida de uma escola. Rapidamente, o projecto configurou-se de forma a decorrer entre muros. Cada vez mais as pessoas falam em tornar as escolas santuários. Eu queria, pelo contrário, mostrá-la como uma caixa de ressonância, um lugar atravessado pelas turbulências do mundo, um microcosmos onde se jogam de forma muito concreta as questões de igualdade ou desigualdade de oportunidades, de trabalho e de poder, de integração cultural e social, de exclusão. Desenvolvi uma cena no conselho de disciplina, que eu via como uma espécie de “caixa negra” da escola. Na estreia de Vers le Sud encontrei François que apresentava na mesma altura um novo livro, “Entre les Murs”. O seu discurso era um contra-ataque às acusações à escola de hoje: pela primeira vez um professor não escrevia para acertar contas com os adolescentes, apresentados como selvagens ou brutos. Li o livro e senti imediatamente que trazia duas coisas ao meu projecto inicial: primeiro, uma matéria, uma espécie de lado documental que me faltava, e que eu pensava construir passando eu próprio algum tempo numa escola; e sobretudo, a personagem de François, a sua relação tão frontal com os alunos. Ele condensou e incarnou as diferentes facetas de professor que eu tinha imaginado.

François Bégaudeau - O livro queria documentar um ano escolar, ao nível das experiências quotidianas. Não tinha por isso uma linha narrativa clara, não era ficção em torno de um acontecimento particular. Eram sobretudo factos, que seguiam cada um o seu curso. Neste material, Laurent e o co-argumentista Robin Campillo puxaram pela linha narrativa que lhes interessava. O livro era uma soma de situações, eles escolheram algumas para as ficcionar. Não tinha personagens propriamente ditas. Eles criaram-nas, às vezes operando enxertos entre vários miúdos do livro.

Laurent Cantet - Queríamos que este fio narrativo não fosse logo evidente, e que as personagens se desenhassem progressivamente, sem os termos apercebido logo. O filme é antes de mais a crónica da vida de uma turma: uma comunidade de 25 pessoas que não se escolheram, mas que são chamadas a estar lado-a-lado e a trabalhar entre quatro paredes durante um ano. Inicialmente, Souleymane é apenas um aluno dessa turma, igual aos outros. Depois de uma hora de crónica, uma história “toma” forma, em que ele é o centro. Só olhando retrospectivamente percebemos que ele já estava lá.

François Bégaudeau - Durante a escrita do argumento a minha intervenção foi sobretudo no lado documental. Alguns episódios podiam funcionar muito bem narrativamente mas, se me parecessem improváveis na realidade da escola, ajustava-os.

Laurent Cantet - Escrevemos uma sinopse inicial, uma coluna vertebral do filme, destinada a ser irrigada e modificada durante o ano de preparação, segundo um dispositivo que já tinha experimentado em “Recursos Humanos”. Tratava-se de partir de uma escola que existisse e englobar no processo do filme todos os actores da vida escolar. A primeira porta que abrimos, a da escola Françoise Dolto em Paris, no 20º bairro, foi a boa (até ai teríamos filmado se não estivesse em obras): todos os adolescentes do filme são alunos em Dolto, todos os professores dão lá aulas, Julie Athénol é a directora, o senhor Simonet, presidente do Conselho Executivo. E à excepção da mãe de Souleymane, cujo papel é mais ficcional, os pais do filme são os pais dos alunos na vida real.


Laurent Cantet - O trabalho com os adolescentes começou no início de Novembro de 2006 e durou até ao fim do ano escolar. Eram ateliers abertos, todas as quartas-feiras, da parte da tarde, com todos os alunos do quarto e do terceiro ano que quisessem. Contando com aqueles que apareceram uma única vez, vimos cerca de 50 alunos. Quase todos os que formam a turma no filme são os que apareceram todo o ano. Os outros foram deixando de aparecer.

François Bégaudeau - 25 em 50, estamos longe dos números de que se fala quando se discutem os castings com adolescentes “encontrámos 3000 miúdos e de repente encontrámos a pepita de ouro”. Mas não, há pepitas em todo o lado.

Laurent Cantet - Ao logo do ano, uma turma formou-se. François participava em todos os ateliers. Aprendemos progressivamente a conhecê-los e a explorar em conjunto o que eles poderiam acrescentar da sua personalidade aos esqueletos das suas propostas. As personagens do argumento inicial, que só existiam enquanto pontos de partida para determinadas situações, foram-se precisando. O jovem chinês do livro, por exemplo, interessava-me pelo seu domínio frágil do francês e por causa do episódio de expulsão dos pais. Mas o Wei do filme deve muito ao rapaz que o interpreta. Não escrevemos uma palavra do seu auto-retrato, nem da parte em que ele explica que às vezes tem vergonha dos outros.

François Bégaudeau - No livro, Ming era muito estudioso : quase não falava para não dar erros. Wei é super falador. Desde as primeiras sessões dos ateliers, lançou-se em monólogos de meia hora, sem nenhuns complexos.

Laurent Cantet - Todas as figuras se apresentaram, sendo as personagens mais ou menos construídas pela ficção. Artur, o gótico, por exemplo, não estava no argumento. Algumas semanas antes da rodagem, a responsável de guarda-roupa veio vê-los e perguntou se algum deles queria ser gótico. Porque não? Arthur aceitou a proposta. Imaginei que talvez quisesse viver uma experiência que não ousava verdadeiramente viver. Saltou para a ficção. Dei uma reviravolta com esta decisão e pedi à sua mãe que o discutisse com o professor. Foi o único encontro que realmente orientei. Os outros pais propuseram eles próprios os temas, projectando nas personagens o que eles esperavam dos próprios filhos.

François Bégaudeau - Para os adolescentes a maioria das suas personagens são composições. À saída do filme, poderíamos dizer “estes miúdos são formidáveis, mas não são propriamente actores, porque são naturais, estão a interpretar a sua própria vida! Nada de mais falso!
Laurent Cantet - Nas improvisações, durante as sessões do atelier, tentámos empurrá-los em determinadas direcções, para perceber se poderiam fazer uma ou outra cena. Um dia, pedi ao Carl para responder ao professor e ele propôs uma cena com uma violência inesperada. Alguns segundos depois, propus-lhe uma outra situação: ele chega a outra escola, foi expulso, agora quer passar por bom rapaz. E, automaticamente, ele compôs uma personagem comedida, intimidada pelo François. A cena está aliás no filme.

François Bégaudeau - Quando filmámos a cena, no final da aula, em que eu e a Khoumba nos chateamos, pedimos à Rachel, que a interpreta, que fosse realmente chata. Ela tão querida, tão simpática, satisfez bem o nosso pedido.

Laurent Cantet - Quem fez o maior trabalho de composição foi o Frank (o Souleymane no filme), que é um rapaz muito doce, o oposto total da sua personagem. Tivemos de fabricar com ele essa imagem de pequeno rufia, mudámos por completo o aspecto dele, ao ponto de, no primeiro ensaio, ele ter a sensação de estar mascarado. Foram aliás estas roupas que o ajudaram a encontrar a personagem. Com o decorrer das cenas, surpreendeu-me pela violência de que era capaz. Esméralda é Esméralda, monolítica, perfeitamente à vontade na relação de força e no conflito. O que mesmo assim não a impediu de incorporar todos os conselhos que lhe dei. Penso, por exemplo, na descrição que fez de A República. Na véspera da rodagem, François falou-lhe do livro, que ela não tinha lido. Antes de apontar a câmara, pedi-lhe que falasse de Sócrates como se ela o conhecesse pessoalmente. E, desde a primeira take, que ela nos deu uma explicação justa e lacunar do livro. Fiquei bastante emocionado, como ficaria um professor num desses momentos.

François Bégaudeau - Paralelamente a este à vontade nas improvisações, é preciso sublinhar que, uma vez encontrada a cena, eles eram capazes de a refazer de forma idêntica, com uma naturalidade e uma precisão de interpretação incríveis. Fossem os alunos ou os professores, nunca senti que alguém sentisse um impasse na representação. Pialat dizia: on oublie toujours que les gens sont des « bêtes à jouer ». É esse o caso dos adolescentes do filme e talvez de todos os desta geração. Este saber é afinado pela escola, porque é uma incitação permanente ao jogo de representação, à dissimulação, à batota. Os maus alunos têm muitas vezes este talento, porque devem compensar as suas dificuldades pela conversa, pela má fé, pela invenção.

Laurent Cantet - Quando peço a um aluno que interprete um aluno, quando peço a um professor para interpretar um professor, não estou à espera que façam deles mesmos. Gosto da ideia de recriação, de representação de si que a interpretação implica. Podemos também construir personagens baseadas na imagem que os actores têm deles próprios, a sua forma de falar, a sua maneira de ser. Os professores, por exemplo, foram implicados muito cedo na elaboração da sua personagem, à semelhança dos alunos. Durante as sessões de improvisação, reflectiram em conjunto nas diferentes nuances das cenas, questionando nesse momento as suas próprias práticas, ou contestando as propostas que eu fazia. É uma das fases mais apaixonantes de um filme. E esta construção tem sempre qualquer coisa de misterioso. Nunca meço exactamente o que induzo e depois de uma cena filmada tenho dificuldade em saber exactamente quem trouxe o quê.


Laurent Cantet - Os adolescentes nunca tiveram o argumento nas mãos. Percebemos, quando eles improvisavam a partir de situações que lhes dávamos, que eles encontravam certas expressões, certas construções de frases que François tinha no livro. Como se estivéssemos a lidar com arquétipos da língua ou as suas preocupações.

François Bégaudeau - A maioria dos filmes sobre a adolescência mostram-na sobretudo muda, à excepção, é claro, de “A Esquiva”. Para nós não havia dúvidas: o que domina em A TURMA é a adolescência viva e loquaz e não a adolescência melancólica e inibida. Cada espectador é livre de imaginar Esmeralda a sonhar sozinha no quarto, mas o filme só a mostra na sala de aula, em que a sua presença a torna um puro bloco de vida. Mas, na questão da linguagem, A TURMA propõe algo diferente do filme de Kechiche. O mundo de “A Esquiva” é partilhado entre aqueles que sabem sempre o que dizer em todos os momentos e aqueles que não têm este talento e que por isso estão perdidos socialmente e escolarmente. 
A TURMA trabalha, pelo contrário, na forma como as lacunas de linguagem afectam toda a gente: todos os alunos são susceptíveis de ter momentos em que dominam a fala, mas isso pode descarrilar de repente – tanto para os alunos, como para os professores.

Laurent Cantet - Às vezes há um verdadeiro júbilo linguístico, pouco conforme ao que esperamos deles. E no minuto seguinte, já não conseguem : “sei perfeitamente o que quero dizer mas faltam-me as palavras”.

François Bégaudeau - Passamos frequentemente da fluidez à impotência e o contrário. O filme recusa os lugares–comuns: nem as lamentações do défice proclamado da linguagem dos adolescentes nem o maravilhamento beato do génio formidável “daquelas pessoas”.
Laurent Cantet - Todo o filme é construído à volta da linguagem. Queria filmar esses jogos de linguagem tão frequentes numa sala de aula: pouco importa a força e a pertinência das posições, o que conta é ter a últimapalavra. É um jogo em que os adolescentes são excelentes, uma espécie de retórica encadeada para a qual os professores são frequentemente empurrados. Há tantos mal-entendidos que faz com que às vezes não se compreendam ou só compreendam metade. É o quiproquó sobre o significado da palavra “galdéria” que espoleta o conflito. Ou a palavra, demasiadas vezes repetida, por François no conselho de disciplina – “escolarmente limitado” que, na boca dos delegados se resume a um inaceitável “limitado” – que vai levar Souleymane ao conselho de disciplina.


Laurent Cantet - Queria que a rodagem seguisse o trabalho de improvisação dos ateliers, com a mesma liberdade. O vídeo de alta definição era por isso indispensável. Tinha constatado em “Recursos Humanos” que o custo e peso do 35 mm deixam pouca margem à improvisação. Para A TURMA queria pelo contrário conseguir filmar em continuidade durante 20 minutos, mesmo quando não acontecia nada, porque sabia que bastaria uma frase para tudo recomeçar. Nas cenas da turma, François começava uma aula com um determinado assunto. Era preciso que a determinado momento se operasse uma viragem. Tínhamos explicado a situação aos dois ou três alunos que deveriam conduzir a cena, indicando-lhes os momentos- chave: quando François falasse de tal ou tal assunto a sua reacção deveria ser de determinada maneira. Mas eles não sabiam como é que nós chegávamos a esta etapa. Os outros descobriam os acontecimentos ao longo da take. François conduzia por isso a cena como se conduz uma aula e eu podia intervir durante as takes, reorientar a cena, pedir para alguém precisar uma ideia, alguém reagir a um comentário, etc. Era impressionante vê-los retomar instantaneamente, com a mesma energia que tinham antes de os interromper, mas integrando perfeitamente os conselhos.

François Bégaudeau - Evidentemente, este tipo de dispositivo adaptava-se especialmente a uma cena com uma turma : porque um professor tem de facto de dar a palavra aos alunos e mesmo provocá-la no momento adequado. O mesmo com os pais dos alunos. Tinha por isso em mente as indicações do Laurent e tentava que tudo acontecesse nos momentos-chave que estavam previstos.

Laurent Cantet - Percebi que iríamos precisar de três câmaras : uma sempre com o professor, outra com o aluno que conduziria a cena e uma terceira que pudesse apanhar outras coisas : uma cadeira em equilíbrio em cima de um pé, uma rapariga a cortar os cabelos da colega, um aluno que sonha e depois acorda – detalhes do quotidiano de uma turma que nunca conseguiríamos reconstituir. Mas essa câmara deveria também adivinhar quando alguém iria tomar a palavra, os pequenos acontecimentos que faziam oscilar uma cena. A sala de aula era quadrada, transformámo-la em rectangular criando um corredor técnico de uns dois ou três metros. As três câmaras estavam do mesmo lado, com uma orientação sempre idêntica: o professor à esquerda, os alunos à direita: raramente estamos no eixo dos olhares. A ideia era filmar as aulas como jogos de ténis – o que exigia pôr o professor e os alunos em igualdade. Estava em frente aos três monitores e ia soprando ao câmara para ele apontar para tal ou tal sítio porque suspeitava que lá se iria passar qualquer coisa. Com o François, aprendemos pouco a pouco a atrasar ligeiramente o momento em que alguém iria tomar a palavra de forma intempestiva, para que a câmara estivesse pronta. A forma como o François conduzia cada cena, depois de termos discutido em conjunto as durações e os resultados, exigia uma cumplicidade que raramente se atinge entre um realizador e um actor - regra geral o actor faz o que o realizador lhe sugere – ou entre um argumentista e um realizador. No seu processo, A TURMA é diferente de todos os meus outros filmes, porque provém de uma realidade realmente partilhada.

Laurent Cantet - Queria ser justo com todo o trabalho que se faz no espaço de uma escola. Numa turma, há sempre inteligência em jogo – nos malentendidos e confrontos também. Era esta inteligência que ambicionávamos cada vez que iniciávamos uma cena. No diálogo entre professor e alunos, entre os alunos e entre os professores há ideias que são colocadas em questão, que se compreendem ou mudam. Ora esta forma de apostar na inteligência correspondia à forma muito singular e muito pouco ortodoxa como François exerce o seu trabalho. 



François Bégaudeau -Tentámos que as cenas correspondessem a momentos clássicos de transmissão de conhecimento : os verbos, o conjuntivo, Anne Frank, etc. Depois, há um desvio. Assumo este desvio voluntariamente como pedagogo. Mas também há aí um “efeito de arte”, tanto no livro como no filme. Ou seja, mesmo se tentarmos uma colagem ao real e eventualmente à sua monotonia, um livro e um filme encaminham-se naturalmente para a excepção. Quando o livro saiu disseram-me muitas vezes “as aulas são realmente animadas”. Mas isso acontece porque guardei sobretudo esses momentos, porque isso enriquecia o livro! Quando todos estão calados, não há cena. Nas aulas entre as 8h e as 9h, em que os alunos estão a dormir, não há nada para ver e nada para contar.

Laurent Cantet - São de qualquer forma estes momentos de desvio que me interessam e que o filme defende. Poucos professores assumem tantos riscos com os alunos: o risco de derrapar, o risco de falhar. Evidentemente é muito mais fácil dizer que conseguimos transmitir tal ou tal conhecimento porque demos uma aula do que inspirá-los pelo método. Isso exige um sangue-frio que muitas pessoas talvez critiquem a François, mas que muitas pessoas também invejam: há algo de Sócrates neste homem!

François Bégaudeau - Nem tanto assim! Não fiz a referência ao Sócrates como uma piscadela de olho, no livro. Um dia, um aluno falou-me da República. Guardei essa referência no livro como um momento de graça. Laurent quis guardá-la também no filme.

Laurent Cantet - É tão boa que me perguntei a um dado momento se não seria demasiado didáctica. De qualquer forma se quisermos ver no filme uma tomada de posição pedagógica, assumo-a completamente. Quando o professor fala com os alunos como falaria a adultos pode ser duro, mas seria mais insultuoso se ele estivesse sempre a falar com pézinhos de lã. E ser duro também é uma forma de lhes reconhecer um papel activo no que acontece numa aula. O mesmo acontece com o uso da ironia, que é uma forma de solicitar aos adolescentes que usem a sua faculdade de descodificar. Este desejo de esventrar que François tem frequentemente parece-me ser uma forma de respeito para com os alunos, porque isso faz com que ele os considere como interlocutores que valem a pena. A sua pedagogia consiste em ir sempre “procurar” os alunos, mesmo quando pode ser doloroso, mostrando-lhes que os seus raciocínios no início ainda não são suficientemente elaborados para serem válidos. Se é possível falar de democracia na escola, é aí que a encontramos.
Frassores há ideias que são colocadas em questão, que se compreendem ou mudam. Ora esta forma de apostar na inteligência correspondia à forma muito singular e muito pouco ortodoxa como François exerce o seu trabalho.

François Bégaudeau - A minha personagem é construída, claro. Mas há sequências que reivindico enquanto professor. Penso na cena em que Souleymane me pergunta se sou homossexual. A maioria dos professores teriam cortado logo aí a discussão, ou até mesmo ter pedido a caderneta do aluno. Eu interesso-me por estes momentos, porque percebo que há alguma coisa que podemos tirar da situação. Agir como Sócrates, destruir a visão arcaica do aluno em questão. O contrato igualitário é isso: eu chateio-vos mas aceito que num determinado momento vocês utilizem o sarcasmo comigo ou que digam que sou homossexual.

Laurent Cantet - Não queríamos fazer de François um super-herói. Quando arriscamos, as coisas podem correr mal, suscitar mal-entendidos. Trabalhámos nesse sentido.

François Bégaudeau - Se nos focássemos inteiramente na agilidade verbal e na eloquência, estaríamos a fazer um “Clube dos Poetas Mortos” de esquerda, acrescentando o lado social e sério de Cantet. Isso não nos divertia nada.

Laurent Cantet - Durante as primeiras takes na cena de confronto no corredor, o François estava a dominar demasiado a situação. Pedi-lhe para perder o pé, ficar destabilizado, porque ele também sabe que cometeu um erro, e também porque está em minoria. Nestes conflitos, o professor não é sempre o mestre do jogo. Nas aulas coloca questões que vão até ao osso, mas os alunos também têm perguntas que o metem em dificuldades. Penso, por exemplo, na cena em que ele responde que a diferença entre a linguagem escrita e a linguagem oral se percebe com a intuição. Ele chega ao fim dos seus argumentos, mas é assaltado por uma série de perguntas dos alunos a que é suposto responder.

François Bégaudeau - Há um momento em que ele diz, depois de ter pedido aos alunos para redigirem os seus auto-retratos, “a vossa vida é interessante”. Pedagogicamente, ele tem razão para fazê-lo. Mas Angélica percebe isso: “de facto, não me parece que a nossa vida o interesse assim tanto”. Ela tem razão! Todos têm razão nesta história.

Laurent Cantet - É também o caso dos professores, quando discutem entre eles as suas próprias práticas. Quando estão no conselho de turma de Souleymane, o ponto de partida é evidente: ele será excluído. Mas esta evidência não é uma certeza. Pelo contrário, ninguém parece estar muito convencido do que diz: começam por afirmar uma coisa, na frase seguinte introduzem uma nuance, de tal forma que o que foi dito agora parece incerto. Gosto de mostrar em “tempo real” como se produz uma reflexão verdadeira. Esta cena também permite marcar a linha entre François e os outros professores. François é parte de uma discussão comum, não está contra os outros, é mais um entre os outros.

François Bégaudeau - Acho que ao contrário de uma certa tradição do cinema francês, A TURMA é um filme sem um culpado puro.

Laurent Cantet - O filme não procura nem defender uns, nem mudar os outros. Todos têm as suas fraquezas e os seus pontos fortes, os seus momentos de graça e de mesquinhez. Cada um pode experimentar alternadamente a clarividência ou a cegueira, a compreensão ou a injustiça. Acho que o filme diz qualquer coisa bastante positiva: a escola é, efectivamente, por vezes, muito caótica, é inútil esconder a cara. Vivemos momentos de desencorajamento, mas também momentos de graça, de imensa felicidade E deste grande caos, nasce finalmente bastante inteligência. François Bégaudeau Estes momentos são suspensos em duas condições: de um lado o professor nem sempre consegue criar um dispositivo que resulte e por outro lado, sabemos bem que a máquina de triar faz o seu trabalho. Mas é verdade que esses momentos estão muito relacionados com o prazer que tenho a dar aulas. Ou de estar numa sala com trinta miúdos e tentar pensar com eles. Quase à mesma altura.

Laurent Cantet - O contrato entre professor e a os alunos rompe-se no último terço do filme, por causa do conselho de disciplina, com o que isso pressupõe de hierarquia e autoridade. Mas não é, no entanto, anulado. Porque todo o filme mostrou uma utopia em funcionamento. Não a afirmação do que a Escola “deveria” ser, mas a experimentação do que a escola pode verdadeiramente ser. E depois chega um momento em que a utopia choca com uma máquina maior que ela, contra algo que se parece com o que acontece fora daquelas paredes. Mas isso não impede que alguma coisa tenha acontecido.

François Bégaudeau - A escola cria sem cesar situações geniais, mas sabemos bem que ela discrimina, não é igual para todos, fabrica reprodução. Esta tensão é a que se sente no filme. Encontro este tipo de tensão nos meus filmes preferidos. No momento de cada cena, há tanta energia que todos são salvos. Mas o movimento do argumento faz com que se caminhe para a ruptura, a impossibilidade, a catástrofe. Cadasituação é uma utopia mas a soma das situações é trágica. É exactamente isso que acontece no filme de Laurent: podíamos ver nele a história de um insucesso, mas também podemos reter os momentos de utopia concreta.

Conversa en torno dos acontecimentos insurrectos da Grécia no Centro Cultural Gonçalves Correia em Aljustrel (dia 10 de Janeiro às 21h.)




Dia 10, Sábado pelas 21.00, em Aljustrel haverá lugar para uma troca de ideias e conversa informal em torno dos acontecimentos insurrectos da Grécia.

«Que a revolta se alastre...

Da greve geral ao movimento dos estudantes, com os liceus fechados e as faculdades ocupadas, da greve dos presos aos motins de rua, a Grécia tornou-se o palco, de alguns meses para cá, de uma sublevação social sem precedentes desde a queda da ditadura.

Em Outubro, uma série de greves paralisaram o país, às quais se somaram mais de 150 liceus encerrados pelos estudantes. Ainda no passado mês de Novembro, deu-se uma greve de fome, sem precedentes, que envolveu mais de 7 000 pres@s. Estas lutas ultrapassaram as meras reivindicações corporativas, sendo acompanhadas de inúmeras acções directas e de movimentos contra a miséria imposta pelo Estado e pelo Capital.

No passado dia 6 de Dezembro, a morte de um jovem de 15 anos, Alexis Grigoropoulos, às mãos da polícia grega, serviu de catalisador para uma vaga de contestação social que se tem vindo a alastrar por todo o território grego. Sucederam-se as ocupações de universidades, escolas, câmaras municipais e sindicatos burocráticos, com a realização de assembleias e apelos à generalização da luta autónoma, sem mediação de organismos políticos e burocráticos. Nas ruas tiveram lugar manifestações e ataques contra os aparelhos repressivos do Estado (esquadras de polícia, tribunais, etc.) e do Capital (bancos, grandes empresas).

Por todo o mundo, multiplicam-se as acções de solidariedade. Para dia 20 de Dezembro foi convocada, pela Assembleia do Politécnico de Atenas, uma jornada de solidariedade com a revolta grega e de denúncia da repressão estatal contra os insurgentes.

Solidarizamo-nos com @s companheir@s em luta na Grécia, pois a sua luta também é a nossa: pela acção directa, contra um quotidiano de miséria e contra tudo o que nos oprime, para que assumamos a nossa própria vida de forma autónoma!

Pelo menos temporariamente, libertamos um espaço da sua condição de não-lugar, desafiando o valor sacrossanto da propriedade privada, porque as nossas vidas valem mais do que as leis e a economia.»

(um comunicado distribuído em Lisboa na Manifestação que aí teve lugar no dia 20.12)


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